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Artes

Traição, vingança e feminicídio: ópera retrata violência no tempo do ódio

A obra foi escrita no século passado por Ruggero Leoncavallo, mas o tema ainda é atual no País

Alana Portela | 10/08/2019 08:21
No palco os artistas cantavam e encenavam a história da ópera Pagliacci (Foto: Mariana Camilo)
No palco os artistas cantavam e encenavam a história da ópera Pagliacci (Foto: Mariana Camilo)

Num período em que o ódio predomina na sociedade, o Coro Lírico Cantarte subiu ao palco e apresentou a ópera “Pagliacci”, em Campo Grande. A história, com traição e vingança, cantada em uma hora, retratou a violência, relacionamentos abusivos e o feminicídio. Do compositor italiano, Ruggero Leoncavallo, a produção verista se passa no século XIX, porém, o tema continua atual.

O espetáculo foi realizado ontem, no Teatro Glauce Rocha. A trama ocorre na cidade de Montalto, província da Calábria, na Itália, durante os festejos da Assunção da Virgem. Uma trupe de circo estava no local e era integrada por Canio (o chefe da companhia), Nedda (esposa de Canio), Beppe, e Tonio.

Eles chegaram para animar o local com a apresentação, mas uma confusão amorosa acontece, e mistura a realidade da companhia com a ficção do espetáculo.

Nedda se encanta por Silvio. Apaixonada, decide deixar a vida do circo para fugir com o amado, porém, não contava com uma armação de Tonio, que por ciúmes, revela a intenção da colega para Canio. Nos bastidores, o palhaço flagra a esposa com outro, porém não consegue identificar quem era o sujeito. Nervoso, ele a ofende e pergunta o nome do amante, depois tenta a matar, entretanto é impedido pelo Beppe.

Após a confusão, eles se arrumam para entrar em cena e apresentar a peça de circo ao vilarejo. No espetáculo, Nedda virou Colombina, Canio o Pagliacci, e Tonio interpretou Arlequim. No show, também havia a encenação de uma traição, o que deixou Canio ainda mais perturbado.

Num momento de loucura e na frente do público, ele grita dizendo que não é “pagliacci” e pergunta o nome do amante à esposa. Com ofensas, diz que se não dizer em vida, dirá na morte e dá duas facadas em Nedda, que chama por Silvio, revelando assim o nome do amante.

A solista Janette Dornelles cantou a vida de Nedda, uma palhaça casada que se apaixona por outro homem (Foto: Mariana Camilo)
A solista Janette Dornelles cantou a vida de Nedda, uma palhaça casada que se apaixona por outro homem (Foto: Mariana Camilo)

Silvio, na plateia, correu para socorrer a amada. Contudo, para “lavar” a honra, Canio mata-o a facadas também. O público fica confuso, sem entender se o que era realidade e o que era encenação.

O Coro Lírico Cantarte vinha ensaiando a apresentação desde maio. Os solistas Eduardo Meireles, Janette Dornellas, Marcelo Dias, Diógenes Cardoso e Antônio Coura deram “vida” aos personagens principais, enquanto o coro representou o povo do vilarejo. A regência do grupo ficou por conta da musicista Eliseba Manhãs, enquanto o som do piano foram Ana Paula Soares e Deyvison Miranda. Edineide Dias e Francisco Marynk dirigiram o show.

Plateia - O público assistiu e gostou da apresentação, tanto que aplaudiu de pé. Após o show, algumas pessoas comentaram sobre a história encenada. Para a estudante do curso de Música, Gabriela Simões, a ópera serviu de alerta. “Uma peça por volta de 1892, que tem a intenção de falar do amor proibido, o ódio e traição resultando em um final trágico”, afirmou.

A engenheira civil Ana Luzia Abrão ficou surpresa com a montagem do espetáculo e lembrou que em Campo Grande tem pouca ópera. “Talvez porque a nossa comunidade não valoriza. É um tema atual, falou sobre o relacionamento de modo geral, aos aprisionamentos, de querer se apoderar do outro”, disse. 

“Achei lindo o canto da Nedda, quando ela lembra da mãe dela e canta sobre os pássaros. Foi a parte que mais me emocionou, ela se sentia um pássaro”, afirmous obre o momento que chamou a sua atenção,

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A peça misturou realidade e ficção (Foto: Mariana Camilo)
A peça misturou realidade e ficção (Foto: Mariana Camilo)

Sobre o momento que chamou a sua atenção, ela falou. “Achei lindo o canto da Nedda, quando ela lembra da mãe dela e canta sobre os pássaros. Foi a parte que mais me emocionou, ela se sentia um pássaro”.

Para o professor, Alex Walber, é preciso que mais óperas ocorram na Capital. “A gente não consegue desenvolver a sociedade se não trabalhar a educação e a cultura. Gostei muito da apresentação, já assistir algumas óperas, mas fora de Campo Grande”.

O solista, Eduardo Meireles, também comentou sobre a temática. “Retrata o que acontece muito na sociedade, o feminicídio. Aqui o pessoal não tem o hábito de escutar ou assistir porque tem pouquíssimos espetáculos de ópera, e quando a gente faz fica naquela apreensão se vai ter casa cheia ou não, por ser uma apresentação única fiquei surpreso de ver o pessoal, pouquíssimos locais vazios”.

A cantora, Janette Dornellas, esteve pela primeira vez em Campo Grande e comentou sobre o enredo. “A história acontece em uma época que a honra era lavada com sangue. Foi a sexta vez que fiz essa apresentação, é um espetáculo que conheço e tenho afinidade”, disse.

O solista, Eduardo Meireles, falou sobre o trabalho. “Retrata o que acontece muito na sociedade, o feminicídio. Aqui o pessoal não tem o hábito de escutar ou assistir porque tem pouquíssimos espetáculos de ópera. Quando a gente faz, fica naquela apreensão se vai ter casa cheia ou não, por ser uma apresentação única fiquei surpreso de ver o público e pouquíssimos locais vazios”, finalizou.

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