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Comportamento

“Me sinto privilegiada por transformar minha dor em cura”, diz Luiza Brunet

Modelo, que já foi vítima de violência doméstica, foi escolhida como a 1ª Embaixadora de projeto inovador do Tribunal de Justiça

Izabela Sanchez | 24/06/2019 11:35
Luiza Brunet, a primeira embaixadora do projeto Mãos EmPENHAdas (Foto: Marina Pacheco)
Luiza Brunet, a primeira embaixadora do projeto Mãos EmPENHAdas (Foto: Marina Pacheco)

Toda de branco, Luiza Brunet, 57, dá uns passos à frente, pega o microfone e enxuga as lágrimas. “Já perceberam que sou chorona, né”?, afirma, diante de um plenário lotado no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul nesta segunda-feira (24). Natural de Itaporã, a 227 km de Campo Grande, um dos rostos mais famosos do Brasil já exibiu marcas de violência, quando foi agredida pelo ex-marido.

A dor, diz, foi transformada em “forma de cura”, e agora, Luiza foi escolhida como a 1ª embaixadora do projeto “Mãos EmPENHAdas”, iniciativa de vanguarda do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), que leva informação e acolhimento para vítimas de violência doméstica em salões de beleza de 43 cidades de Mato Grosso do Sul.

“Me sinto uma privilegiada por ter transformado a minha dor em forma de cura para outras mulheres”, disse a modelo. “Acho que é fundamental poder levar informação da forma correta. Acho que o projeto é muito especial porque ele abrange bastante o universo que a mulher convive e tem que ser implementado no Brasil inteiro. São os espaços que as mulheres buscam para ficarem mais bonitas. Essa é a minha intenção, levar no Brasil inteiro”, comentou.

Luiza se emociona ao assinar o termo que a tornou embaixadora do projeto (Foto: Marina Pacheco)
Luiza se emociona ao assinar o termo que a tornou embaixadora do projeto (Foto: Marina Pacheco)

Criadora do projeto, a juíza Jacqueline Machado, coordenadora da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar de Mato Grosso do Sul, disse que Luiza foi escolhida pelo potencial de ser uma multiplicadora da iniciativa.

“Nós precisamos de pessoas que sejam empenhadas em lutar contra a violência de gênero e eu acho que ninguém melhor que a Luiza Brunet que também já foi vítima, para que consiga espalhar para as mulheres, colocar para as mulheres. Elas têm que denunciar no primeiro momento que foram vítimas de violência”, comentou.

Ao falar no plenário, a juíza citou a morte de Kelly Cristina Rodrigues de Souza, assassinada em Costa Rica, a 305 km de Campo Grande, no domingo (23), dia do seu aniversário de 20 anos, se tornando, assim, mais uma vítima do crime de feminicídio em Mato Grosso do Sul. “Ontem somaram 20 mortes de mulheres pelo fato de serem mulheres”, comentou, lembrando que o TJMS é o 2º estado brasileiro em sentenças sobre violência doméstica e o 2º em projetos de prevenção.

Jacqueline Machado, juíza criadora do projeto (Foto: Marina Pacheco)
Jacqueline Machado, juíza criadora do projeto (Foto: Marina Pacheco)
Desembargador Paschoal Carmello Leandro, presidente do TJMS (Foto: Marina Pacheco)
Desembargador Paschoal Carmello Leandro, presidente do TJMS (Foto: Marina Pacheco)

É o que também lembrou o presidente do Tribunal, desembargador Paschoal Carmello Leandro. “O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul esteve na vanguarda das campanhas”, disse.

Criado em 2017, o Mãos EmPENHAdas, uma alusão à Lei Maria da Penha de 2006, capacita profissionais do ramo da beleza para atuarem na prevenção e acolhimento das vítimas de violência. As profissionais recebem palestras e materiais informativos para distribuírem nos salões. O projeto foi ganhador, em 2018, do Prêmio Nacional de Direitos Humanos do governo federal e já foi replicado em diversos estados brasileiros. Até agora, 241 profissionais já foram capacitados.

“Eu não tenho a menor dúvida de que a minha própria fala encoraja as mulheres porque eu já tive experiência nesse sentido. Recentemente estive nos Estados Unidos, falei em uma palestra e no final da palestra mais de 20 mulheres fizeram denúncia. Então é muito importante você chancelar essas mulheres, dar oportunidade para elas entenderem o quanto é importante fazer uma denúncia porque o final é o feminicídio, que está crescendo demais no nosso país”, destacou Luiza Brunet.

Proprietária de um salão de beleza, Zamar participa do projeto desde 2017 (Foto: Marina Pacheco)
Proprietária de um salão de beleza, Zamar participa do projeto desde 2017 (Foto: Marina Pacheco)

Proprietária de um salão de beleza em Campo Grande, Zamar Fernandes Garcia participa desde 2017 e procurou integrar a equipe de multiplicadoras em 2017, início do projeto. Ela conta que é grande o número de mulheres a relatarem agressões.

“Eu já trabalhava com pessoas que sofrem, na igreja, então a gente sabe de muitos casos. Transforma [a vida], porque a gente fica feliz quando pode ajudar uma mulher que sofre tanto, e ela [vítima de violência] está ali parece que cega, então é muito bom. [São] muitos, muitos casos, às vezes elas chegam, contam, e a gente deixa elas virem na próxima vez pra gente poder ajudar, porque vê o tanto que ela está sofrendo. Porque as vezes no primeiro impacto, é difícil”, relata.

Luiza Brunet elogiou a CMB (Casa da Mulher Brasileira), a primeira a ser inaugurada pelo governo federal em 2015. Para ela, esse é o espaço ideal de acolhimento para mulheres vítimas de violência.

“Eu fiquei muito impressionada com um local que é a Casa da Mulher Brasileira, com estrutura, confortável, que ela [vítima de violência] possa passar uma noite, que ela consiga esse apoio, essa infraestrutura de apoio de uma casa como a da Mulher Brasileira. Na minha opinião é uma vergonha que não tenha no Brasil inteiro, mas eu fico ao mesmo tempo muito feliz que aqui em Mato Grosso do Sul, no meu estado, ela seja perfeita”, disse.

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