A cada foto restaurada, Oliete descobre uma história de amor
"Quem procura o serviço acaba sendo o marido, a mãe ou o filho que amava demais”, explica
Oliete Welika, 49 anos, é muito boa no que faz, mas é modesta demais para assumir. É referência em restauração de fotos. Em peregrinação pelas ruas de Campo Grande, descobrimos que o lugar que por muito tempo restaurou fotografias fechou as portas ali.
Em frente, havia informação de mudança de endereço. Ao chegar, o dono explicou que hoje, só indica uma pessoa para o trabalho de restauração. Era a Oli, como é conhecida. No telefone, ela adiantou: “Já recuperei fotos que tinham boas histórias. Tinha gente que parecia um verdadeiro galã de novela”, comentou.
Na varanda de casa, Oli, com muito carinho, relembrou outros clientes. “Tinha um senhor que eu tinha prazer de pegar a foto dele para restaurar, porque cada uma, ele contava a história por trás: 'Essa aqui, eu estava no Exército, esse é o grande amor da minha vida'”, revelou.
Ele mandava fotos bem envelhecidas, amarronzadas, mas com qualidade sem tamanho. O defeito era uns quebradinhos que precisavam ser removidos. O pedido dele era para sempre restaurar em tamanho maior e não perder a originalidade.
Outro senhor a procurava para recuperar os registros do filho que havia falecido. “Em cada ida, esse senhor contava a mesma história do menino e sempre chorava ao recordar. Me lembro bem dele dizer que o filho era estudioso, bom, trabalhador e havia passado no curso da Aman (Academia Militar das Agulhas Negra). Pelo que contava, parecia que, na época, era o único filho”.
O trabalho da Oli é minucioso e exige muita atenção. Ela reconstrói cada detalhe e costuma dizer que não restaura apenas fotos, mas sim, verdadeiras histórias de amor. “Quem procura por isso acaba sendo o marido, a mãe ou o filho que amava demais as pessoas daquela fotografia."
A maioria das restaurações são de fotos de pessoas que já partiram.
A restauradora guardou um acervo de fotos que passaram por ali. “Faço isso por aquelas que me deram muito, mas muito trabalho”, disse.
Alguns dos mais trabalhosos foram da própria família. Algumas imagens foram retiradas de um monóculo. Teve uma época em que esses objetos ficavam espalhados pela casa.
Oliete conta que um dia restaurou todas, mas somente duas ficaram para comprovar. “O pessoal veio e cada um foi pegando uma e eu acabei ficando sem”, conta aos risos.
A restauradora já viu de tudo. Um dia, além de restaurar, o cliente pediu para acrescentar na foto um jacaré, uma onça e um tereré para comprovar que esteve no Pantanal. Outra vez, uma mulher pediu para mudar a cor da blusa, porque aquela estava apagada, sem vida. “Fiz uma pesquisa do que era moda na época. Encontrei um modelo muito igual, mas com estampa. Coloquei e a cliente amou”, contou Oliete.
Lá se vão 30 anos de profissão. Ela iniciou o aprendizado aos 18 anos, quando saiu por Campo Grande atrás de emprego. Uma loja de fotografias a chamou para trabalhar. Na época, não sabia nada e exercia outras funções. A curiosidade foi tão grande, que não se aguentou em apenas observar o colega trabalhar.
Oli questionava cada detalhe do trabalho. Escondido da chefia, claro. Ao poucos, foi aprendendo e hoje, quem a conhece sempre está recomendando seu trabalho. Nem sempre ela dá conta do serviço. Por isso, antes de aceitar, analisa bem e na cara do cliente, revela se prosseguirá com a restauração ou não.
“Se eu acho que há possibilidade de restaurar, eu tento. Eu falo não dá, quando não dá mesmo”. Quem tiver interesse em restaurar o amor de uma vida pode procurar por Oliete no WhatsApp (67) 99241-9888.
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