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Comportamento

Alunos são chance de José voltar a ter com quem conversar em ofaié

Professor é um dos últimos falantes da língua indígena em Mato Grosso do Sul

Por Aletheya Alves | 17/09/2024 06:45
José vê nos alunos futuro com língua ofaié ainda mais viva. (Foto: Gabriel Gabino)
José vê nos alunos futuro com língua ofaié ainda mais viva. (Foto: Gabriel Gabino)

“Trabalhar com a língua é como se eu fosse remexer uma fogueira que antes era muito acesa e, de repente, se apagou, mas que lá no fundo dessa fogueira ainda sobra uma brasinha. Então a gente assopra para reacender a chama da fogueira novamente”. Um dos últimos falantes da língua ofaié, José de Souza segue lutando na comunidade indígena localizada em Brasilândia. Sem ter ninguém para conversar na língua nativa, a emoção é escutar seus alunos aprendendo os sons de cada palavra.

Hoje, José trabalha na Escola Estadual Indígena Ofaié e se dedica a “assoprar” a brasa da etnia. Historicamente, a etnia chegou a ser definida como extinta e quase extinta por vezes, mas quem resiste faz questão de reforçar como as explicações de estudiosos foram erradas.

Insistindo no caminho contra a perda da cultura, o professor descreve que todo o processo do ensino é emocionante. E, quando o assunto é repassar uma língua com poucos falantes, as implicações envolvem uma garantia de futuro.

“É emocionante usar a escola como um método de garantir o futuro da comunidade ofaié, dos jovens serem valorizados como indígenas e ofaié. Eles têm que ter o conhecimento sobre onde vieram, sua história e sua descendência”, defende o professor.

Professor conta que emoção é grande quando os pequenos conseguem falar as palavras. (Foto: Gabriel Gabino)
Professor conta que emoção é grande quando os pequenos conseguem falar as palavras. (Foto: Gabriel Gabino)
Hoje, além dos alunos, José consegue ouvir ofaié através de registros. (Foto: Gabriel Gabino)
Hoje, além dos alunos, José consegue ouvir ofaié através de registros. (Foto: Gabriel Gabino)

José narra que não faltaram, e não faltam, exemplos sobre como seu povo conseguiu preservar a identidade e mostrar para o mundo que seguem por aqui, apesar das insistências em tentar deixá-los no esquecimento.

“Estamos resistindo pelo nosso território porque território é tudo, é vida, subsistência, saúde e educação. Quando um povo, uma tribo, não tem seu território, ela se acaba”, diz. Em 1992, a área em que a comunidade vive foi definida como tradicionalmente indígena, mas a demarcação definitiva até hoje não ocorreu.

Mas a luta, como de costume, não é nada fácil e, no caso de José, uma espécie de isolamento também é enfrentado através da língua. Antes dos alunos e ainda hoje, ele explica que uma forma de ser “salvo” é através de registros audiovisuais de outros ofaiés.

São esses vídeos  que o professor usa como referência para retomar as memórias dos sons, das formações das palavras e dos sentimentos que vêm com elas.

“Parece que me alimenta, que volto no passado e consigo novamente ouvir o som das palavras e de como era falado. Então, (o ensino aos alunos) é um legado que vou deixar para a escola e para meu povo”, completa.

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