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Cidades

Com pequenas populações, guatós e ofaiés vivem "paraíso" dos indígenas em MS

Realidade só é possível porque comunidades são organizadas e não param de buscar apoio

Lucia Morel | 12/02/2023 09:09
Terra Indígena Uberaba, dos indígenas guatós, em Corumbá. (Foto: Justiça do Trabalho)
Terra Indígena Uberaba, dos indígenas guatós, em Corumbá. (Foto: Justiça do Trabalho)

Aparentemente fora da precariedade em que vivem maior parte das populações indígenas do Brasil, Ofaiés e os Guatós, em Mato Grosso do Sul conseguem ter internet e subsistência adequada dentro das próprias aldeias, localizadas em Brasilândia e Corumbá, respectivamente.

Vale reforçar que essa realidade só é possível porque as comunidades são organizadas, não param de buscar apoio e principalmente, já sofreram bastante para estar onde estão.

Representante ofaié, Silvano de Moraes de Souza Ofaié é professor na Aldeia Anodi, onde vivem cerca de 33 famílias da etnia e pelo menos 100 pessoas. A área onde vivem foi definida como tradicionalmente indígena em 1992, mas a demarcação efetiva e a homologação ainda não aconteceram.

Preparação da terra para plantação, na Aldeia Anodi, dos ofaiés, em Brasilândia. (Foto: Governo de MS)
Preparação da terra para plantação, na Aldeia Anodi, dos ofaiés, em Brasilândia. (Foto: Governo de MS)

A comunidade indígena aguarda desde 2009 a colocação de marcos físicos pela Funai (Fundação Nacional do Índio), que é a última etapa da demarcação antes da homologação pelo presidente da República. Apesar disso, Moraes avalia que já é um “privilégio” eles terem a área que têm.

“É uma comunidade pequena, somos únicos nessa terra aqui e temos o privilégio desta terra, onde nos desenvolvemos, sobrevivemos e conseguimos plantar. Já passamos fome, muitos morreram para estarmos aqui. E temos hoje a possibilidade de ter vasta terra pra cultivo e plantio e já temos 70 vacas, porcos também”, comemora.

A área onde vivem tem cerca de 2 mil hectares e cerca de 12 deles é de plantação de milho, mandioca, quiabo, “uma diversidade de roça”, avalia o professor. Ele cita também que é feita rotatividade de culturas e nisso, até feijão é plantado dependendo da época do ano.

Além dessa forma de subsistência, muitos dos ofaiés trabalham fora da reserva, nas indústrias em Brasilândia e Três Lagoas, além de fazerem diárias nas fazendas da região. Os mais novos estudam na escola da aldeia e há quem faça faculdade, também nas cidades próximas.

Guatós em celebração na Aldeia Uberaba. (Foto: Professor Zaqueo)
Guatós em celebração na Aldeia Uberaba. (Foto: Professor Zaqueo)

“Assim, conseguimos nos manter. É triste ver os parentes yanomamis, porque lá o conflito ainda é grande e aqui nós, graças a Deus, temos uma vasta terra pra ser cultivada e hoje sabemos dialogar pelos nossos interesses, construindo, produzindo e tentando alavancar a reserva”, sustenta Silvano.

Guatós – Localizados em área de difícil acesso em Corumbá, na Ilha Insúa, bem da divisa com o estado vizinho, Mato Grosso, os guatós são uma comunidade de cerca de 200 pessoas que vivem na Aldeia Uberaba. Zaqueo de Souza, 49 anos, é professor lá e filho do antigo cacique. Ele conta que o maior problema do local é a dificuldade de acesso, e que a população vive basicamente da caça, da pesca e do turismo pesqueiro.

“O mais difícil mesmo é o acesso para tratamento de saúde mesmo, mas ainda assim, se é uma emergência, a gente comunica a cidade e na hora chamam os bombeiros ou com a Marinha para atender o pessoal”, relata.

Da aldeia para a cidade são 300 Km pelo Rio Paraguai e por isso, todos os meses, a Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) vai até lá fazer os acompanhamentos de saúde, segundo o professor. A população também recebe cestas básicas – três a cada três meses – que são fornecidas pelo Governo do Estado. Em 2021, através da Justiça do Trabalho, a aldeia conseguiu torres que deram acesso à internet para toda comunidade.

Plantação de abóbora na Aldeia Anodi, dos ofaiés. (Foto: Governo do Estado)
Plantação de abóbora na Aldeia Anodi, dos ofaiés. (Foto: Governo do Estado)

“Lá, o pessoal vive mais da caça, da pesca e do que planta. Tem banana, milho. Outros têm emprego fixo e ficam mais na cidade. Quem pesca, vende o peixe e na realidade, muitos não querem isso e a ideia é poder se tornar independente para ter outra maneira de subsistência”, analisa.

Ele lembra que o artesanato em madeira e folhas também é forte por lá, e o que é produzido é vendido aos turistas que frequentam a região para pesca esportiva. “O peixe também. Se o turista não pesca, ele compra da gente”, conta o professor.

A área é de cerca de 11 mil metros quadrados e já está demarcada e homologada conforme decreto de 2003.

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