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Comportamento

Amor ao próximo une 2 famílias e faz uma delas dar adeus a barraco

Casal trocou barracão após a doação da construção de uma moradia mais digna para viverem com os 4 filhos – presentaço de R$ 50 mil

Raul Delvizio | 23/12/2020 07:14
Voluntários reunidos junto à família de Marcela e Dione, os mais novos donos da casa (Foto: Kísie Ainoã)
Voluntários reunidos junto à família de Marcela e Dione, os mais novos donos da casa (Foto: Kísie Ainoã)

O dia mais natalino de todos ainda nem chegou de fato, mas esta semana – às vésperas do Natal – veio como um presente antecipado na vida de Marcela Ventura, 22 anos, e seu marido Dione Luís Ferreira, de 31. Na tarde de ontem (22), foi entregue aos dois a chave de sua nova casa, uma doação no valor de R$ 50 mil para abandonarem o barracão que até então viviam com os 4 filhos, prestes a ser desapropriado. Agora, conforto, dignidade e muita gratidão se encontram sob o mesmo teto.

"É o sonho de todo mundo aqui do bairro: uma casinha para chamar de sua, simples mas própria. Antes, vivíamos em um barraco mais afastado, bem no meio da rua, que vivia encharcado de lama e terra. Por isso, não tenho palavras para explicar o que estou sentindo. É muito gratificante mesmo, um presente que vai suprir as necessidades básicas das crianças, de toda nossa família", afirma Dione.

Veio com um banheiro limpinho e uma cozinha do jeitinho que eu mais queria!", comemora Marcela.

Aqui, as famílias de ambos os casais posam reunidas para o registro (Foto: Kísie Ainoã)
Aqui, as famílias de ambos os casais posam reunidas para o registro (Foto: Kísie Ainoã)
Marcela passava fome antes de conhecer Milla (Foto: Kísie Ainoã)
Marcela passava fome antes de conhecer Milla (Foto: Kísie Ainoã)
A mais velha das irmãs chora de gratidão pelo novo quarto (Foto: Kísie Ainoã)
A mais velha das irmãs chora de gratidão pelo novo quarto (Foto: Kísie Ainoã)

Por mais que a dona de casa se considere "maníaca da limpeza", não havia jeito para deixar o barraco decente. Para ela, é uma experiência que espera nunca mais passar na vida, muito menos proporcionar aos filhos.

Agora todo mundo tem uma cama e um espaço reservado para chamar de seu. As meninas Nayra e Maria – de 12 e de 3 aninhos, respectivamente – dividem o quarto de "princesa", com casinha de boneca e decoração apropriada, tudo novinho em folha. Já os irmãos Rhian, de 8 anos, e Nathanael, de 6, compartilham o dormitório só dos garotos, com carrinho de controle remoto e decoração de luzinhas pisca-pisca para combinar com a proximidade do Natal. Até então, coisas que todos eles desconheciam porque nada daquilo fazia parte de suas vidas.

Aqui, o quarto das "princesas" (Foto: Kísie Ainoã)
Aqui, o quarto das "princesas" (Foto: Kísie Ainoã)
Decoração nos mínimos detalhes (Foto: Kísie Ainoã)
Decoração nos mínimos detalhes (Foto: Kísie Ainoã)
Garotos também receberam um quarto para chamar de seu (Foto: Kísie Ainoã)
Garotos também receberam um quarto para chamar de seu (Foto: Kísie Ainoã)
É claro que brinquedos não poderia faltar (Foto: Kísie Ainoã)
É claro que brinquedos não poderia faltar (Foto: Kísie Ainoã)
Pela primeira vez, Marcela e Dione puderam deitar numa cama decente (Foto: Kísie Ainoã)
Pela primeira vez, Marcela e Dione puderam deitar numa cama decente (Foto: Kísie Ainoã)
Nesta família, e mesmo que na simplicidade, o amor nunca faltou (Foto: Kísie Ainoã)
Nesta família, e mesmo que na simplicidade, o amor nunca faltou (Foto: Kísie Ainoã)

Já os pais, um quarto digno para o casal de sonhadores. Fora o banheiro e a cozinha que a dona de casa tanto desejava, Marcela e Dione agora contam com um espaço só para os dois "pombinhos", com guarda-roupa e ventilador. Antes, nem isso tinham direito.

Solidariedade – A doação da casa foi uma ideia conjunta de Milla Alves, 36 anos, e seu marido Frank Billy, de 33. Antes, precisou ambos os casais cruzarem caminhos para que mudassem a vida um do outro, cada qual a sua maneira.

"Em maio, vim fazer uma entrega beneficente para vários bairros, inclusive aqui no loteamento Aguadinha. Conheci Marcela quando estava a chamar por sua filha pequena, Maria. Perguntei se gostaria de um sacolão, que aceitou imediatamente, me agradecendo. Ela nem sabia me dizer a quanto tempo passava fome. Pedi pra ela um gole de café e sentamos para conversar um pouco. Voltei para casa impactada. Enxerguei ali um propósito a ser cumprido", admite Milla.

Milla dá uma ajudinha para que outros também consigam transformar a sua própria vida (Foto: Kísie Ainoã)
Milla dá uma ajudinha para que outros também consigam transformar a sua própria vida (Foto: Kísie Ainoã)
Marcela em frente da sua nova casa (Foto: Kísie Ainoã)
Marcela em frente da sua nova casa (Foto: Kísie Ainoã)

Assim, ficou fácil aceitar os planos para doar uma casa. "Meu marido vai brigar comigo, mas realmente não houve parte 'mais difícil'. Quando se tem um propósito, também tem dinheiro para ajudar. De pouquinho em pouquinho, conseguimos reunir a ajuda voluntária de arquitetos, engenheiros e mão de obra, além de outras doações como móveis, brinquedos, material de construção e mais. Em tempo recorde, entregamos todos juntos a casa que foi construída do zero", considera.

Não é somente dar o peixe, mas emprestar a vara e ensinar a pescar".

Por meio da ONG Ajudar Faz Bem CG – a qual fundou e faz parte – a tocantinense de Paraíso de TO veio parar em Campo Grande pelas "forças da vida". Antes, na sua terra natal, ela e o marido cuidavam de meninas vítimas de maus tratos e abuso sexual, além de coordenar 18 projetos  sociais em creches, escolas e centros de recuperação. "Um deles, inclusive, ajudávamos andarilhos que transitavam em estradas e rodovias a terem um abrigo".

Milla sempre sentiu a necessidade de amparar o próximo, nem que fosse com um simples abraço e um sorriso no rosto. Com uma energia cativante e uma presença graciosa, percebeu que "dar por dar é uma ajuda apena a curto prazo, importante mesmo é ensinar valores que também transformam".

Abraço foi permitido, afina, teve muita comoção na hora da entrega da chave (Foto: Kísie Ainoã)
Abraço foi permitido, afina, teve muita comoção na hora da entrega da chave (Foto: Kísie Ainoã)
Junto ao marido Frank, a emotiva Milla chora mais uma vez – motivo tem de sobra (Foto: Kísie Ainoã)
Junto ao marido Frank, a emotiva Milla chora mais uma vez – motivo tem de sobra (Foto: Kísie Ainoã)

Antes, tanto Marcela quanto Dione não possuíam fonte de renda fixa, apenas bicos que faziam por aí. Depois que Milla e Frank entraram na vida do casal, agora a dona de casa vende bolos e também sacos de lixo como ganha-pão, e o seu esposo tem carteira assinada como operador de máquinas – tendo ambos condições, portanto, de sustentar a vida no novo lar.

"É gerar oportunidades, entender que todo mundo pode ter sim uma vida digna. Principalmente, é acreditar no outro", disse Milla emocionada. "Ver a casa pronta, a realização de um sonho de tanta gente, é maravilhoso", garante.

Na ocasião, 65 cestas natalinas também foram entregues à comunidade (Foto: Kísie Ainoã)
Na ocasião, 65 cestas natalinas também foram entregues à comunidade (Foto: Kísie Ainoã)
Marcela esteve a frente da distribuição (Foto: Kísie Ainoã)
Marcela esteve a frente da distribuição (Foto: Kísie Ainoã)

Na ocasião, Milla e Frank também fizeram a entrega de 65 cestas especiais para que todos ali da comunidade Aguadinha/Serraville pudessem compartilhar o sentimento natalino de esperança, carinho, amor e união. É o calor no coração ao mesmo tempo que de barriga cheia, como bem deve ser o evento em família.

Nessa história inspiradora, acabou que Marcela ganhou em Milla uma segunda mãe, e Dione amigos para uma vida inteira. Por mais que neste Natal as duas famílias vão celebrar cada uma em suas casa, não há distância nem máscara no rosto que separe o laço formado entre todos eles. E o que falar da casa? Paredes e teto construídos no ritmo da solidariedade.

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Amigas para uma vida inteira, Marcela e Milla são gratas por terem cruzado caminhos (Foto: Kísie Ainoã)
Amigas para uma vida inteira, Marcela e Milla são gratas por terem cruzado caminhos (Foto: Kísie Ainoã)
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