Amor ao próximo une 2 famílias e faz uma delas dar adeus a barraco
Casal trocou barracão após a doação da construção de uma moradia mais digna para viverem com os 4 filhos – presentaço de R$ 50 mil
O dia mais natalino de todos ainda nem chegou de fato, mas esta semana – às vésperas do Natal – veio como um presente antecipado na vida de Marcela Ventura, 22 anos, e seu marido Dione Luís Ferreira, de 31. Na tarde de ontem (22), foi entregue aos dois a chave de sua nova casa, uma doação no valor de R$ 50 mil para abandonarem o barracão que até então viviam com os 4 filhos, prestes a ser desapropriado. Agora, conforto, dignidade e muita gratidão se encontram sob o mesmo teto.
"É o sonho de todo mundo aqui do bairro: uma casinha para chamar de sua, simples mas própria. Antes, vivíamos em um barraco mais afastado, bem no meio da rua, que vivia encharcado de lama e terra. Por isso, não tenho palavras para explicar o que estou sentindo. É muito gratificante mesmo, um presente que vai suprir as necessidades básicas das crianças, de toda nossa família", afirma Dione.
Veio com um banheiro limpinho e uma cozinha do jeitinho que eu mais queria!", comemora Marcela.
Por mais que a dona de casa se considere "maníaca da limpeza", não havia jeito para deixar o barraco decente. Para ela, é uma experiência que espera nunca mais passar na vida, muito menos proporcionar aos filhos.
Agora todo mundo tem uma cama e um espaço reservado para chamar de seu. As meninas Nayra e Maria – de 12 e de 3 aninhos, respectivamente – dividem o quarto de "princesa", com casinha de boneca e decoração apropriada, tudo novinho em folha. Já os irmãos Rhian, de 8 anos, e Nathanael, de 6, compartilham o dormitório só dos garotos, com carrinho de controle remoto e decoração de luzinhas pisca-pisca para combinar com a proximidade do Natal. Até então, coisas que todos eles desconheciam porque nada daquilo fazia parte de suas vidas.
Já os pais, um quarto digno para o casal de sonhadores. Fora o banheiro e a cozinha que a dona de casa tanto desejava, Marcela e Dione agora contam com um espaço só para os dois "pombinhos", com guarda-roupa e ventilador. Antes, nem isso tinham direito.
Solidariedade – A doação da casa foi uma ideia conjunta de Milla Alves, 36 anos, e seu marido Frank Billy, de 33. Antes, precisou ambos os casais cruzarem caminhos para que mudassem a vida um do outro, cada qual a sua maneira.
"Em maio, vim fazer uma entrega beneficente para vários bairros, inclusive aqui no loteamento Aguadinha. Conheci Marcela quando estava a chamar por sua filha pequena, Maria. Perguntei se gostaria de um sacolão, que aceitou imediatamente, me agradecendo. Ela nem sabia me dizer a quanto tempo passava fome. Pedi pra ela um gole de café e sentamos para conversar um pouco. Voltei para casa impactada. Enxerguei ali um propósito a ser cumprido", admite Milla.
Assim, ficou fácil aceitar os planos para doar uma casa. "Meu marido vai brigar comigo, mas realmente não houve parte 'mais difícil'. Quando se tem um propósito, também tem dinheiro para ajudar. De pouquinho em pouquinho, conseguimos reunir a ajuda voluntária de arquitetos, engenheiros e mão de obra, além de outras doações como móveis, brinquedos, material de construção e mais. Em tempo recorde, entregamos todos juntos a casa que foi construída do zero", considera.
Não é somente dar o peixe, mas emprestar a vara e ensinar a pescar".
Por meio da ONG Ajudar Faz Bem CG – a qual fundou e faz parte – a tocantinense de Paraíso de TO veio parar em Campo Grande pelas "forças da vida". Antes, na sua terra natal, ela e o marido cuidavam de meninas vítimas de maus tratos e abuso sexual, além de coordenar 18 projetos sociais em creches, escolas e centros de recuperação. "Um deles, inclusive, ajudávamos andarilhos que transitavam em estradas e rodovias a terem um abrigo".
Milla sempre sentiu a necessidade de amparar o próximo, nem que fosse com um simples abraço e um sorriso no rosto. Com uma energia cativante e uma presença graciosa, percebeu que "dar por dar é uma ajuda apena a curto prazo, importante mesmo é ensinar valores que também transformam".
Antes, tanto Marcela quanto Dione não possuíam fonte de renda fixa, apenas bicos que faziam por aí. Depois que Milla e Frank entraram na vida do casal, agora a dona de casa vende bolos e também sacos de lixo como ganha-pão, e o seu esposo tem carteira assinada como operador de máquinas – tendo ambos condições, portanto, de sustentar a vida no novo lar.
"É gerar oportunidades, entender que todo mundo pode ter sim uma vida digna. Principalmente, é acreditar no outro", disse Milla emocionada. "Ver a casa pronta, a realização de um sonho de tanta gente, é maravilhoso", garante.
Na ocasião, Milla e Frank também fizeram a entrega de 65 cestas especiais para que todos ali da comunidade Aguadinha/Serraville pudessem compartilhar o sentimento natalino de esperança, carinho, amor e união. É o calor no coração ao mesmo tempo que de barriga cheia, como bem deve ser o evento em família.
Nessa história inspiradora, acabou que Marcela ganhou em Milla uma segunda mãe, e Dione amigos para uma vida inteira. Por mais que neste Natal as duas famílias vão celebrar cada uma em suas casa, não há distância nem máscara no rosto que separe o laço formado entre todos eles. E o que falar da casa? Paredes e teto construídos no ritmo da solidariedade.
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