Amor de internet fez Ana e Christian casarem em 10 minutos na Itália
Coronavírus deu “folga”, mas casal teve de usar máscara e contou com apenas 2 convidados para testemunhar o sonhado “sì” no altar
A história que começou na internet fez Ana Beatriz Moreno Flores e Christian Luca Malecore embarcarem numa aventura de amor e oficializar a união na Itália. Ela é campo-grandense, enquanto ele italiano, e após o coronavírus dar uma “folga” resolveram se casar. Os dez anos de relacionamento se resumiram em dez minutos, numa cerimônia enxuta, com apenas dois convidados para testemunhar o sonhado “Sì” do casal.
“O casamento civil é rapidinho, a gente casou e voltou para a casa. Foi só a gente, um amigo e meu sogro que serviram de testemunha. Filmamos a cerimônia com meu celular e distribuímos um link para a família e amigos que não puderam participar”, conta Ana Beatriz.
Aos 28 anos, ela mora em Tremezzina, cidade italiana que fica na província do Lago Di Como, na Lombardia. A região foi uma das mais afetadas pelo coronavírus neste ano com 86.384 casos, que agora baixou para 25. 933. Já o país tem o total de 228.658 casos e precisou decretar situação de emergência. “A Itália foi o segundo depois da China a ter o ‘boom’ do coronavírus", conta.
“Em janeiro, achávamos que era uma doença da China, que não chegaria. No fim do mês, começarams a surgir casos. Estava trabalhando em Milão e até o prefeito de lá disse que tinha poucos casos e não iria parar. Em fevereiro a gente ria achando que nada ia acontecer, mas o vírus se espalhou rápido”.
Conforme Ana Beatriz, boa parte das pessoas que trabalha em Milão não vive no local, o que pode ter contribuído para a propagação do vírus. “Era o meu caso, ia apenas para trabalhar e retornava. A gente decidiu se casar em novembro de 2019 e em fevereiro, meus pais estavam comprando as passagens para estarem no casamento”.
A data da cerimônia foi marcada para o dia 22 de maio e tanto os noivos, quanto a família e amigos estavam ansiosos para a celebração. Contudo, o número de infectados pelo coronavírus aumentou depressa e já no final de fevereiro não tinha mais vagas em hospitais.
“Quem se machucasse e fosse para o hospital, eles mandavam voltar para a casa. Já estavam escolhendo, os mais jovens ocupavam a UTI [Unidade de Tratamento Intensivo]. Perdi gente da família, pois o marido da tia de meu esposo foi para o hospital com lesão na perna, contraiu coronavírus e morreu. De lá foi direto para o crematório”, lembra.
A situação intensificou e a população entrou em quarentena. “No dia 8 de março ninguém mais podia sair de casa. Quem fosse pego na rua pagaria multa de 400 euros e os reincidentes ficariam presos por três meses. A polícia estava cuidando as ruas e só podia sair de máscara para ir ao mercado. Foi assim até o início de maio”.
Por conta da situação, o casamento quase que foi desmarcado. Foram meses de aflição, misturada com ansiedade e incertezas que judiou do coração dos noivos. Ana Beatriz e Christian, que é engenheiro de software, estão juntos há dez anos.
Se conheceram através de um bate-papo on-line e engataram um romance a distância em 2010. Cinco anos depois, após terminar a graduação em Administração, ela resolveu se mudar para a Itália onde fez mestrado e passou a morar com o atual marido.
“Resolvemos tentar viver juntos, se não desse certo, concluiria meu mestrado e retornaria para o Brasil. Em 2018 compramos uma casa e falamos do casamento, porém a decisão de casar foi no final de 2019, quando passamos a juntar os documentos”, recorda a campo-grandense.
A família e os amigos estavam ansiosos para finalmente verem o casal subindo no altar. “Estava tudo planejado, ia vir minha família do Brasil, parte da família dele que mora na Alemanha, amigos da China, Irlanda e da Itália. No começo de maio o prefeito ligou dizendo que o casamento poderia acontecer, mas apenas com a presença dos noivos e de duas testemunhas”.
“Foi um pouco triste, mas queríamos muito casar. Foi um misto de tristeza porque queríamos as pessoas que amamos do nosso lado. A gente aceitou porque todos falavam para casar e festejar depois. Sabíamos que estavam nos apoiando”, conta ela.
Após terem a certeza da cerimônia, Ana Beatriz teve que comprar o vestido de noiva pela internet. “Era algo que tinha imaginado, branco e simples. Queria ter ido à loja ver, ajustar, mas pedi pela internet e me enviaram com prioridade. Quando chegou, abri o pacote e me emocionei porque queria dividir o momento com minha mãe, com a sogra, cunhada, amiga”.
No dia 22, o casal acordou cedo e passou a se preparar para a cerimônia. Isolada, Ana Beatriz teve que ser sua própria cabeleireira, maquiadora e manicure. “Arrumei o cabelo, deixei natural. Fiz as unhas, passei apenas a máscara de cílios porque tinha que usar a máscara de proteção. Escolhi o sapato sozinha, foi triste não ter esse suporte”.
No cabelo foi colocado uma presilha branca para combinar com o vestido e o buquê foi feito por Christian. “Pegou as margaridas do quintal e fez o arranjo 20 minutos antes da gente sair. A gente queria fazer tanta coisa, mas no fim foi tudo improvisado”.
No pescoço, Ana Beatriz usou o colar de coração. “Foi o primeiro presente que ganhei”, lembra. O acessório também foi feito por Christian, assim como as alianças do casório. “A minha aliança é uma moeda de 2 euros, tem uma linha no meio. A dele é de prata feito de 500 liras italianas”.
O casamento foi realizado num parque que fica menos de um quilômetro da casa onde o casal mora. “É um lugar onde costumávamos ir para ficar sozinhos, contar novidades, nadar. Muita coisa da nossa história aconteceu ali. A cerimônia estava marcada para às 11h da manhã e depois de nos arrumar, colocar a máscara, fomos caminhando até o local”, relata.
A cerimônia ocorreu ao ar livre e a decoração foi apenas uma mesa, duas cadeiras, além da natureza ao redor. Chegando lá, posicionaram um tripé e o celular da noiva para filmar o sonho se tornando realidade. Os dois convidados testemunharam a união.
“O prefeito é quem fez o casamento e perguntou para Christian se me aceitava como esposa. Ele disse ‘sì’, depois ouvi só o meu nome e o dele e respondi alto ‘sì’. Trocamos a aliança e nos beijamos”, conta ela ainda emocionada com tudo.
O casal foi tomado pela felicidade e a gravação foi compartilhada com todos que não puderam estar presentes. A comemoração da união era para ocorrer num restaurante, no entanto, por conta do vírus, todos voltaram para casa. A lua de mel seria aqui em Campo Grande.
“A gente viajaria em junho e faríamos uma cerimônia para quem não pode vir a Itália. Depois, iriamos para o Chile ou Argentina. Agora será após a pandemia, queremos viajar para o México ou ir para Marrocos”, diz a noiva. Enquanto isso não acontece, o casal focará na reforma da casa onde moram.
Três meses após o vírus se espalhar pelo país, Ana Beatriz relata que a situação na Itália começou a melhorar. “Passamos para a fase dois, de reabrir o comércio, restaurantes, menos escolas. Para sair de casa ainda é preciso usar máscara e se for pegar transporte público, tem que usar luva. Na cidade onde moro, sempre nos cumprimentávamos, agora estamos com medo disso”.
No dia 3 de junho está planejado reabrir as fronteiras dentro da União Europeia. “As coisas estão retomando aos poucos, temos esperança que no verão, que é em julho, possamos ver a família dele na Alemanha. Espero que tudo acabe logo para poder nos reencontrar. Estamos esperançosos, mas ficamos com o pé atrás e temos medo de outro surto”.
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