Antes de morrer, Alaíde deixou bilhete de amor para neta encontrar
Recadinho hoje virou artesanato na parede da neta, que lembra todos os dias o carinho da avó.
A imagem que a internacionalista Thaylla Martins, de 31 anos, tem da avó é mais que o grau de parentesco. Melhor amiga, parceira, confidente, a síntese do amor incondicional. Por isso, encontrar um bilhetinho dela após sua morte foi um dos momentos mais emocionantes vividos pela neta. O recadinho escrito à mão para que ela encontrasse hoje está pregado na parede em forma de artesanato e fala muito sobre o amor das duas.
Dona Alaíde foi quem criou Thaylla durante 9 anos. “Eu era bem neta de vó. Usava vestidinho e arco no cabelo para ir à igreja com ela aos domingos. Fazia sorvete caseiro, bolo, pastel e “dirigia” sua máquina de costura enquanto ela fazia as coisas dela. Além disso, fui alfabetizada por ela, entrei na escola sabendo ler e escrever e só podia sair pra brincar depois que ela tomasse a tabuada, e o 7x9 sempre complicava meu dia”, lembra carinhosamente a neta.
Com o passar dos anos essa relação tornou-se ainda melhor. “Minha avó era a minha melhor amiga. Hoje eu tenho certeza disso. A única pessoa que eu conto as coisas com a mesma facilidade que contava pra ela é a minha terapeuta. Minha avó não julgava. Contei desde a minha primeira vez, até as coisas erradas que eu fazia”.
Quando seu avô ficou doente e a avó decidiu voltar para Ponta Porã para ter uma vida mais tranquila, Thaylla nunca deixava de ir. “Toda oportunidade minha de estar com eles eu estava. E minha avó ainda tinha aquela mania de passar dinheiro pra mim, como se estivesse passando drogas”, ri.
Já quando o avô faleceu, Alaíde voltou a morar com Thaylla, e isso foi o que a tirou da tristeza. “Depois que me separei, ela foi morar com a minha mãe e eu sozinha. Quando eu chegava, ela dizia: “ô benzoca que bom que você chegou, estava penando em você”. Conforme fui crescendo, ela foi diminuindo, mas mesmo assim, nossos abraços sempre foram do mesmo tamanho”. Descreve a neta.
Nem um câncer no pâncreas fez dona Alaíde perder a vontade de viver. “Ela falava que o câncer a deixava saudável, porque ela visitava médicos e enfermeiros e já tinha vencido 3 durante a vida. Mas esse último foi pesado. Passamos 14 dias no hospital. Vivi altos e baixos com ela, mas ela sempre de bom humor e me dando bronca quando eu pedia alimentação pastosa ao invés da sólida. Fiz contrabando de comida até onde pude para que ela matasse a vontade dela, desde os pés de frango caipira até o ovo cozido”.
Quando a avó se despediu da vida por conta de uma metástase, foi revirando as coisas dela que Thaylla conseguiu aliviar a dor e encher o coração só de saudade. “Até meu cabelo doía com a morte dela. Mas 4 dias depois encontrei esse bilhetinho. Então eu finalmente consegui chorar. Chorei o amor gigante que a gente viveu, chorei porque não ia ter mais ninguém para eu pedir benção ou fazer festa quando eu chegasse. Por muitos anos, eu vivi com esse engasgo no peito”.
O bilhete datado em 2013, acredita Thaylla, era para ser entregue dias depois, um exercício da igreja que dona Alaíde costumava fazer para declarar seu amor às pessoas queridas. “Sinto que o bilhete é a prova de tamanho do amor dela. E saber que alguém te quer bem e que passou sua vida colocando você nas orações, é o que me dá força para enfrentar as tempestades da vida, mesmo que a gente ache que não tem força”.
E para garantir que essa força chegue à rotina todos os dias, Thaylla pediu para que a artesã Maria Ayslane bordasse eu ter forças e lembrar de todo amor dela. “Hoje, o bilhete está na minha parede, bordado com a letrinha dela e com muito amor. Assim é impossível eu não me sentir menos que a neta da Dona Alaíde”, finaliza.
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