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Comportamento

Ao perder amor para o borderline, Reinaldo tenta ajudar outras famílias

Ao lado do marido, Renata lutou por 16 anos contra o transtorno, até ser vencida pela doença em 2022

Por Idaicy Solano | 20/09/2023 07:50
Casal teve uma filha em 2015, fruto de união que durou 16 anos, até Renata ser vencida pelo transtorno psicológico (Foto: Arquivo Pessoal)
Casal teve uma filha em 2015, fruto de união que durou 16 anos, até Renata ser vencida pelo transtorno psicológico (Foto: Arquivo Pessoal)

O caminho do servidor público Reinaldo Lopes da Silva, 45 anos, cruzou com o da professora Renata Viana de Souza Lopes, na igreja em que ambos frequentavam, em 2006. Ao lado de Reinaldo, Renata lutou por 16 anos contra o transtorno de borderline, até ser vencida pela doença em outubro de 2022.

Na época do início do namoro, Renata dava aulas para a educação infantil em um colégio no Bairro Vida Nova, em Campo Grande. Reinaldo ia buscar a professora no terminal todos os dias, e levava sanduíches para ela. "Eu fazia o sanduíche porque ela saia cedo de casa, então eu imaginava que ela ia voltar tarde e com fome".

O amor dele por Renata era demonstrado em pequenos gestos diários. Os sintomas do transtorno da professora também. "Sempre percebi que ela era carente, e a carência dela despertava em mim o desejo de cuidar dela".

Reinaldo relembra que a esposa chegou a desabafar que era consumida por pensamentos negativos constantemente. "Era como se a mente dela funcionasse 24h por dia em desfavor dela” , observa. O diagnóstico da doença veio tardio, após cinco anos de casados. O casal se conheceu ao formarem par no grupo de dança da igreja, e se aproximou no dia da apresentação.

O servidor público relembra que encontrou Renata chorando, pois a mãe não poderia comparecer ao evento. "E eu falei ‘se vc quiser a minha mãe e minha avó estão aí, eu compartilho elas com você’ e ela falou ‘eu aceito’".

Renata e Reinaldo, durante a gestação da primeira e única filha do casal (Foto: Arquivo Pessoal)
Renata e Reinaldo, durante a gestação da primeira e única filha do casal (Foto: Arquivo Pessoal)

Naquele momento, ele narra que ofereceu para Renata um abraço, e ela instantaneamente se acalmou. “Eu abracei ela nesse dia la na igreja. Foi aquele abraço que me aproximou dela. Todo esse tempo, era de abraço que ela precisava, e eu so fui constatar isso depois que ela estava morta”, relembra emocionado.

Durante o casamento, Reinaldo narra que esteve ao lado de Renata durante todas as tentativas de tratamento. As crises costumavam acontecer periodicamente, com um intervalo de meses, mas se agravaram após o nascimento da primeira e única filha do casal, em 2015. "Na gestação ela não teve nenhuma crise, emocionalmente ela ficou muito bem. Depois que nossa filha começou a crescer, voltaram de novo as crises dela e o intervalo entre as crises diminuiu".

Reinaldo relata que a esposa costumava se isolar durante os momentos de crise, então a filha não presenciava. Na tentativa de consolar Renata, o servidor público conta que tentava fazer ela enxergar os pontos positivos da vida que haviam construídos juntos. “Quando eu fazia isso, eu fazia com a intenção de colocar ela para cima, mas para ela era eu estava menosprezando, diminuindo a dor dela. Na hora da crise, não adianta conversar de forma racional, porque a mente não consegue raciocinar nada de forma racional", pontua.

Os momentos de dor, angustia e sofrimento de Renata eram incompreendidos pela falta de experiência e conhecimento de Reinaldo para lidar com eles. “Para mim não tinha logica eu responder com amor e abraço, mas era isso que eu tinha que ter feito. Eu ter me cansado, ter ficado desanimado, e perder a expectativa de que ela poderia melhorar, isso pra ela significou um abandono".

Registro da cerimônia de casamento de Reinaldo e Renata; casal namorou e noivou por três anos, e ficaram casados durante 13 anos (Foto: Arquivo Pessoal)
Registro da cerimônia de casamento de Reinaldo e Renata; casal namorou e noivou por três anos, e ficaram casados durante 13 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

A doença levou Renata cedo, mas tempo suficiente para deixá-la gravada no coração de Reinaldo, que reconhece que a esposa era mais que apenas o transtorno psicológico pelo qual era acometida. “No intervalo de uma crise para outra, ela era uma excelente pessoa, uma excelente companheira. Fiel, boa mãe, boa esposa, respeitosa, dedicada, era uma pessoa incrível, estudada, esclarecida, inteligente e dedicada".

Em dezembro, no processo de luto, Reinaldo criou uma página no facebook, destinado à companheiros de pessoas que sofrem com o transtorno de borderline. O intuito é compartilhar informações que ele gostaria de ter tido durante os anos de luta que passou ao lado da esposa.

Ajuda - O Campo Grande News aproveita para informar que na Capital, o Grupo Amor Vida (GAV) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através do telefone 0800 750 5554. Ligue sempre que precisar! O horário de funcionamento é das 7h às 23h, inclusive, sábados, domingos e feriados.

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