Aos 55 anos e de família libanesa, Pierre é o 1° rei de bateria em Campo Grande
Neste ano, a escola de samba Vila Carvalho elegeu um homem para sambar e representar a bateria na avenida
Completando 40 anos à frente do Carnaval campo-grandense, o empresário Jean Pierre Michel, passista e apaixonado por samba, foi promovido a rei de bateria da escola de samba Vila Carvalho. A poucos dias do desfile carnavalesco a verde e rosa já revela surpresas do desfile.
O anúncio de que em 2020 um homem ocupa o posto que, comumente, é ocupado por mulheres, foi feito na última sexta-feira (14), durante lançamento do Carnaval 2020, realizado pela Lienca (Liga das Entidades Carnavalescas de Campo Grande) na Praça do Rádio Clube.
Com aplausos e gritos do público, Pierre sambou e encantou quem foi ao evento, inclusive, mulheres que já foram rainhas e estiveram no palco para dar força ao novo integrante. “Eu fiquei imensamente feliz pela homenagem e o convite”, diz. “Nós sabemos que esse é um posto no Carnaval, normalmente, ocupado por mulheres, mas o samba reserva espaço para todos. É um momento especial”, completa.
Escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo já levaram para avenida reis de bateria, no entanto, Pierre acredita que esta é a primeira vez que um rei leva a bateria sem a presença de uma mulher ao lado. “Sozinho, durante o todo o desfile, fazendo a arquitetura do samba enredo com a dança e o carisma, eu acredito que seja a primeira vez em Mato Grosso do Sul”, afirma.
Pierre se divide entra a correria do dia a dia na loja da família e a completa transformação quando o samba começa a tocar. Dono da Confeitaria Árabe, na Rua Sete de Setembro, estabelecimento com mais de 40 anos de história, ele trabalha todos os dias no atendimento. Com roupa mais discreta e um sorriso atencioso, coordena a equipe e atende os clientes, que, muitas vezes, nem fazem ideia de que ele ocupa um dos postos mais disputados nas escolas de samba.
Numa sequência de tempos, Pierre diz que se apaixonou pelo Carnaval há 40 anos, desfila nas escolas de samba do Rio de Janeiro há 16 anos e faz parte da Vila Carvalho há uma década.
A relação com o samba começou quando ele tinha 13 anos de idade. “Meu pai tinha uma loja na 14 de Julho quando eu vi pela primeira vez o desfile de Carnaval. Me apaixonei e fui logo encontrar um dos carnavalescos que organizava a festa. Daquele dia em diante eu nunca mais sai do samba”.
Filho de pais libaneses e família conservadora, a decisão do menino, à época, não foi vista com alegria. “Meu pai não aceitava. Apanhei muito para não sambar. Mesmo assim eu ía para o Carnaval.”
Mas a dedicação de Pierre e o amor pela festa foram capazes de ressignificar o olhar do pai libanês. “Depois de alguns anos não tinha um desfile que ele não acompanhava só para me ver. Estava sempre orgulhoso e torcendo por mim. Mamãe também.”
Rotina – Conciliar as duas vidas não é fácil. “Ser rei exige performance, dedicação com o corpo e a mente. Porque é o instante que você acompanha e chama atenção para o coração da escola, afinal, a bateria é o maior destaque de uma escola de samba”.
Pierre também atribui às conquistas aos carnavalescos Adão Barbosa e Alex Castro, que cuidaram e cuidam frequentemente do seu figurino, e Iendeu Diniz, personal que o acompanha para manter o corpo em forma. “Tenho que estar com um condicionamento físico bom para sambar sem perder o fôlego durante todo o desfile.
Quanto à fantasia Pierre faz surpresa, mas conta que investiu R$ 6 mil no figurino e a roupa está pronta desde outubro de 2019. “Carnaval é assim: termina um desfile e você já se prepara para o outro. Eu nunca deixo nada para última hora. Carnaval é uma das prioridades”.
O rei elogia a iniciativa da escola de dar espaço para homens que amam o Carnaval e acredita que isso possa ser um incentivo para quem não tem coragem de se jogar no samba. “Achei uma inovação da Vila Carvalho. Seja da comunidade ou apaixonado por samba, fazer parte do Carnaval de Campo Grande é valorizar a cultura do nosso País.”
Curta o Lado B no Facebook e Instagram.