Aos 58 anos, alegria de arquiteto é se aventurar no skate com os filhos
Eudoro viu de perto os pioneiros do skate nos EUA e participou do movimento aqui no Brasil; agora, ele ama ensinar os filhos
Em meados dos anos 70, o arquiteto e surfista carioca Eudoro Camara Berlinck testemunhou pessoalmente e conheceu parte da turma dos legendários skatistas californianos. Quando terminou seu intercâmbio nos Estados Unidos e voltou para o Brasil, pôde aqui também acompanhar o movimento "tupiniquim" do skate, isso na cidade do Rio de Janeiro. Hoje aos 58 anos e sul-mato-grossense de coração, não deixou de ensinar ao seu casal de filhos a diversão que é estar sobre uma prancha com rodinhas.
"Desde pequenos, tanto o Pedro Paulo quanto minha filha Maria Catarina sempre curtiram brincar com o skate do pai. Passei o que aprendi aos dois, de equilíbrio à concentração. Agora, meu filho já está com 11 anos e minha menina com 7. Eles ainda gostam de dar umas voltas na pracinha em frente de casa vez ou outra", explica Eudoro.
"Devido a essa pandemia, porém, andam mais envolvidos com outras modalidades esportivas além, é claro, do vídeo game. Mas tenho a certeza de que muito em breve todos nós vamos voltar a fazer saídas de 'street' com o pai", brinca o arquiteto e skatista.
Nascido no Rio de Janeiro, Eudoro teve seu primeiro contato com o skate aos 12 anos. Nas ondas do mar e também nas de asfalto que ele acabou se tornando um híbrido de surfista-skatista carioca – até hoje.
"Como morava perto de ladeiras e também da Cobal do Humaitá, que era um point na época, o skate se tornou uma alternativa prática para eu melhorar minha técnica de surfe e vice-versa. Inclusive, o movimento do skate teve seu início assim, inspirado pelo surfe", explica.
Em 1977, com apenas 15 anos, foi parar nos Estados Unidos para um intercâmbio. Por lá, ficou na cidade de Napa, Califórnia, que fica a pouco menos de 60 quilômetros de São Francisco.
"Estudei em um colégio tipicamente americano, e foi onde eu conheci os skatistas da cidade. Nesse período, o skate estava fervilhando na Califórnia. Todos éramos influenciados pela turma do 'Dogtown' de Los Angeles, que foram os pioneiros a andar de skate em piscinas arredondadas e vazias de água. Tony Hawk veio só depois".
Questão de 5 anos antes, Frank Nasworthy inventou as rodinhas de uretano, mais rígidas e duradouras, revolucionando assim o esporte. Por volta de 1975, grupos de garotos se pautaram nas manobras do surfe e ficaram conhecidos pelas equipes dos lendários Z-Boys até os Zephyr. Na cidade de Los Angeles, no distrito de Venice, o lugar em que praticavam ficou conhecido pelo apelido de "Dogtown".
"E nessa época, a Califórnia atravessava um período de forte estiagem. Grande parte dos reservatórios, canais e até mesmo as piscinas secaram. Na cidade de Napa eu pude vivenciar um pouco disso", relembra.
Eudoro ficou 6 meses nos Estados Unidos. Quando voltou ao Brasil, retornou à sua cidade natal e lá descobriu que a primeira pista de skate da América Latina havia sido inaugurada no município vizinho ao Rio, em Nova Iguaçu.
"De lá até meados de 1982, eu acabei fazendo parte da primeira geração de skate vertical. Viajei com amigos e 'atletas' pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul divulgando o skate e competindo. Tive algumas fotos publicadas nas revista Brasil Skate, uma das primeiras publicações sobre a prática esportiva, e também na Visual Esportiva", comentou.
Quando se formou arquiteto e urbanista, trabalhou um período na "Fábrica de Escolas" do Rio e, com o fim do governo de Leonel Brizola, surgiu uma oportunidade a 1.400 quilômetros de distância. Sem pensar duas vezes, mudou-se para a Capital no ano de 1992.
"Quando cheguei em MS, confesso que andei muito pouco de skate. Até dei umas voltas na pista do Parque das Nações que tem um halfpipe e algumas boas ladeiras. Porém, as daqui são mais direcionadas para a modalidade 'street' e eu gosto de andar mais em 'bowls' (piscinas vazias) ou nos 'banks' (semelhante aos 'bowls', porém mais rasas)", explica.
Eudoro precisou de quase 20 anos para voltar a subir "de verdade" em uma prancha com rodinhas.
"Meus filhos, tanto Catarina quanto o Pedro Paulo, sempre se interessaram. Eles se tornaram incentivadores, porque primeiro brincavam empurrando sentados e, com o tempo, foram ficando em pé. Daí o pai tinha que estar sempre junto", afirma. Para ele, sempre uma boa oportunidade de curtir um tempinho em família.
Assim como muita gente, nessa pandemia o arquiteto também ficou saudosista. "Ando lembrando dos meus anos em que fiz triatlo, mas haja tempo para treinar. Na realidade, o esporte que até hoje 'brinco' é o surfe, mais do que o skate. A vantagem é que se você cair, pelo menos cai de cara na água ao invés do asfalto. Mas, pelo visto, ainda vai levar um tempo para eu voltar a ver o mar".
Quem se interessou em conhecer um pouco mais sobre os primórdios do skate, Eudoro recomenda um documentário legendado disponível on-line.
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