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Comportamento

Aos 79, Tio Biga guarda o que chama de raro tesouro nas 6 décadas de música

Baterista atuou na banda "Os Filhos de Vacaria" por 15 anos e guarda vinis sob sete chaves

Danielle Valentim | 11/11/2019 08:49
Tio Biga guarda com orgulho suas gravações como baterista de grupo gaúcho. (Foto: Paulo Francis)
Tio Biga guarda com orgulho suas gravações como baterista de grupo gaúcho. (Foto: Paulo Francis)

Tio Biga é o apelido de uma figura conhecida na noite campo-grandense. Poucos sabem, mas o nome do baterista de risada solta é Gerson Isidoro Machado, que aos 79 anos, continua ativo nas “carpidas” da vida, gíria usada entre os músicos para se referir às tocadas. Dos 61 anos dedicados à música, Tio Biga guarda com orgulho vinis de “Os Filhos de Vacaria”, chamados carinhosamente de raro tesouro.

Gerson divide o terreno com a filha mais velha no Bairro Novos Estados e mora numa edícula. Se dizendo envergonhado por falta de um sofá preferiu atender a equipe na varanda. O alagoano conta que saiu de casa, onde morava com os pais e mais sete irmãos, em 1957. Ele tinha apenas 15 anos e, logo de cara, revela que a intenção foi fugir da roça, mesmo. Não era sua praia.

“Eu sou alagoano, fui para São Paulo para conhecer porque já tinha uns parentes morando lá e não voltei mais. Logo depois desci para o Paraná e me apresentei ao Exército na cidade de Guaíra. Eu não cheguei a servir, mas fiquei morando no quartel, onde aprendi a tocar e depois fui fazer parte da banda Municipal da prefeitura de Cascavel”, lembra.

Humor típido de Tio Biga. (Foto: André Patroni)
Humor típido de Tio Biga. (Foto: André Patroni)

Em todo esse tempo, Tio Biga conta que viajou muito de navio e chegou a conhecer Montevideu e Santiago no Chile, Buenos Aires na Argentina, Assunção no Paraguai e La Paz e Santa Cruz de La Sierra na Bolívia.

O apelido de tio Biga surgiu quando foi trabalhar com a gauchada da banda “Os Filhos de Vacaria”, onde atuou como baterista da banda por cerca de 15 anos. Orgulhoso de ter feito parte do grupo, o músico garante que foi onde mais ganhou dinheiro.

“Eu usava bigode e aí surgiu o apelido. Durante os dez anos, trabalhamos muito. Foi o grupo que eu ganhei mais dinheiro. Nós atravessávamos o país tocando. De um show em Campo Grande fomos até o Belém do Pará, em 1993”, conta.

Boa parte das gravações aconteceu na décadas de 80 e 90. (Foto: Paulo Francis)
Boa parte das gravações aconteceu na décadas de 80 e 90. (Foto: Paulo Francis)
Tio Biga é o primeiro à esquerda. (Foto: Paulo Francis)
Tio Biga é o primeiro à esquerda. (Foto: Paulo Francis)
Foto feita em frente ao museu José Antônio Pereira. (Foto: Paulo Francis)
Foto feita em frente ao museu José Antônio Pereira. (Foto: Paulo Francis)

Dos vinis gravados em São Paulo, nas décadas de 1980 e 1990, umas das capas foi fotografada na porteira do Museu José Antônio Pereira, em Campo Grande. “Foram oito discos gravados, mas só fiquei com seis. Os outros dois foram gravados ainda no sul. Nem o dono do grupo tem esses discos, sempre que vem ele quer levar”, conta.

O grupo já não atua mais, mas Gerson guarda na memórias os momentos de fama. De cabeça boa, Tio Biga sabe de cor números de telefone e nem precisa passar horas “tirando música” quando surge uma apresentação. O músico nunca se casou, mas teve dois filhos no Paraná, Simone e Alexandro. Eles vieram a Campo Grande ainda pequenos depois que a mãe faleceu.

ele é assim mesmo, não ode parar. (Foto: Paulo Francis)
ele é assim mesmo, não ode parar. (Foto: Paulo Francis)

Atualmente, é avô de um casal e bisavô de uma menina de 5 anos. Mesmo em plena saúde, a filha Simone de Brito Machado, de 46 anos, que é professora pega no pé.

“Meu pai é uma figura. Porque ele toca como ninguém. Às vezes eu brigo com ele, né? Porque ele já está com uma idade avançada. Mas é como ele mesmo diz, se ele parar ele morre. Mas ele também se cuida, vai ao médico. A gente não vê ele doente”, conta.

Tio Biga recebe benefício do governo porque até hoje não conseguiu se aposentar pela Ordem dos Músicos. “Eles até dão uma força, mas nem sei onde andam em Campo Grande”, frisa.

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