‘Apesar do câncer, há vida’: quando o diagnóstico é de que não há cura
Em 15 meses, Isa perdeu a mãe, o pai, a tia e precisou seguir ressignificando a vida com 2º diagnóstico
“De peito aberto, há vida no câncer”, resume a jornalista Yvelaine Isabel dos Santos. Há sete anos, Isa, como é conhecida, recebeu o primeiro diagnóstico e, desde então, enfrentou um turbilhão de sentimentos. Hoje, com a medicina dizendo que não há cura, ela conta no Voz da Experiência sobre como foi necessário ressignificar toda a sua vida.
Longe de romantizar a doença, enquanto escreve seu livro (que deverá ser lançado em 2025), ela defende a necessidade de entender o diagnóstico e pensar sobre como continuar apesar dele. E, entre os pontos mais importantes, está a atenção para a saúde mental.
No caminho desde o diagnóstico de partida, Isa perdeu três familiares, precisou entrar em uma menopausa química, fraturou a coluna duas vezes. e se separou por uma união de vários fatores. Hoje, ao lado das três filhas, garante que elas são seu combustível e que, apesar da separação, segue grata ao pai das meninas.
Confira abaixo o relato de Isa
Em 2017, tive o diagnóstico de câncer de mama. Família estruturada, mãe de três meninas lindas. Após receber o diagnóstico do câncer questionei Deus. Mas por que eu? Quando penso que tenho tudo, me vejo sem nada. E automaticamente, talvez a própria consciência me chamando atenção, respondi a mim mesma: Por que não eu? É difícil aceitar e dá muito medo, mas segui em frente.
Tenho três meninas. A minha mais velha estava com seis anos, a do meio com três e a minha caçula ia fazer um ano. Meu diagnóstico veio 40 dias depois que deixei de amamentar a caçula. Fui fazer um check up, mas não sentia nada, não tinha caroço.
Fiz o protocolo de tratamento que iniciou na mastectomia total, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Em 2018, fiquei me recuperando e, em 2019, me aventurei no setor do empreendedorismo abrindo uma loja. Quando foi em 2020, duas semanas antes de fechar tudo com a pandemia, minha mãe passa mal e adoece. Ela era diabética, hipertensa e nós não sabemos se realmente foi covid. Desconfiamos porque no período ainda não tinha teste.
Em 2020, dois meses depois que minha mãe faleceu no início da pandemia, tive o segundo diagnóstico de uma metástase óssea na T12 coluna e sexto arco costal. Daí pensei: agora vou morrer! Iniciei um novo tratamento. A partir de então, me vi em uma sequência de abismo dentro de abismo. Quanto mais eu sofria, mais tristeza chegava.
Perdi minha mãe, o câncer havia voltado, meu pai faleceu depois de uma cirurgia, minha sogra não resistiu a um câncer no pulmão e minha tia travou uma batalha contra a covid-19, perdendo a guerra. Minha coluna fraturou em uma partida de voleibol. E o casamento de 20 anos! Esse não resistiu às grandes erupções que mexeram com as estruturas da terra. Tudo aconteceu em 15 meses, o mais longo e sofrido da minha vida.
Naquela sequência de dor e sofrimento, as fendas do meu vulcão se abriram, a lava escorreu destruindo tudo o que havia construído. O meu vulcão interior explodiu!
Foram quase dois anos de queda, revolta, incompreensão, aflição, desespero, tristeza, cansaço e, por fim, a redenção. Entendi que naquele abismo só Deus poderia me tirar. E somente através de um despertar da consciência, trabalho para o Espírito Santo tocar meu coração, ainda duro, cheio de ego e orgulho, comecei a experimentar o amor de Deus.
Dentro de cada um de nós existe um vulcão interior, um reservatório de emoções. Assim como um vulcão geológico, nosso vulcão emocional acumula pressão ao longo do tempo. Sentimentos de raiva, frustração e tristeza se acumulam como o magma sob a crosta terrestre, aguardando o momento de liberação.
Segundo diagnóstico
O câncer evoluiu para uma metástase óssea. Ali, descobri que não havia mais cura perante a medicina. Desde então, estou em tratamento contínuo.
Para a medicina eu não tenho cura, mas Deus me faz sentir curada todos os dias.
Então, eu estou em tratamento do câncer, é vitalício e não tenho mais alta. Falo sobre a importância de não apenas superar porque é, sim, uma superação você terminar o tratamento e passar por ele, mas, para mim, é mais do que isso. É ressignificar.
No meu primeiro diagnóstico, fiquei muito focada em superar, em passar por aquela parte da minha vida, não olhar para trás. ‘Eu superei o câncer, eu estou bem e não preciso mais olhar para isso’.
Dois anos depois, quando o câncer volta na coluna, eu passo por esse processo de luto. Agora, há um ano procurando tratamento psicológico e espiritual, eu entendi que precisei ressignificar muitas coisa na minha vida, incluindo o câncer.
A gente precisa olhar para a aquilo que nos atinge, não podemos jogar para debaixo do sofá. Precisei encarar, ver que tenho isso e que vou viver apesar do diagnóstico.
Saúde mental
Para mim, a saúde mental tem sido a quimioterapia da cura porque o tratamento oncológico, para ele ter sucesso, você precisa estar com uma mente saudável. Caso contrário, você entra em depressão.
No tratamento de câncer, a vida não para. Eu tive câncer e, enquanto isso, minha mãe morreu, meu pai, minha tia e a gente precisa estar bem para enfrentar os desafios da vida, não só o tratamento.
Temos que estar de peito aberto (que é o nome do meu livro) para a vida, para o diagnóstico, para o novo, para as mudanças e para ressignificar a nossa vida; para trocar as lentes de contato do que Deus e a vida estão tentando nos dizer.
Então, quero dizer que, de peito aberto, existe vida no câncer.
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