Após 23 anos juntos, covid levou patrão de Sandra, mas deixou Mel
Ela trabalhou com jornalista de quem se tornou amiga e quando se despediu, ficou com um "pedacinho" dele
A relação nasceu para ser estritamente profissional, porém empregada e patrão viraram amigos e construíram um laço de afeto, em que a formalidade e a hierarquia profissional eram dispensadas. Durante 23 anos, Sandra Marques, 55 anos, trabalhou na casa do jornalista Guilherme Villalba Zurutuza Filho, 64 anos, viu os filhos dele crescerem e virou parte da família. A história entre os dois chegou ao fim somente no dia 30 de dezembro do ano passado, quando o profissional da comunicação faleceu em decorrência da covid-19.
Além das lembranças cheias de carinho e saudade, Sandra mantém perto de si uma figura que fazia parte do cotidiano de Guilherme: a cachorrinha Mel. Da raça shih-tzu, a simpática e fofa pet é uma das três que ele criava e agora, está sob os cuidados da ex-funcionária.
Ao Lado B, Sandra contou um pouco da trajetória dos dois e o motivo pelo qual resolveu adotar a cadelinha. Tudo começou há mais de 20 anos, quando ela estava sem emprego e tinha uma filha pequena para criar. “Eu estava desempregada, fui trabalhar na casa dele só para ir e voltar. Eu levava a Bruna, porque ela era bebezinha, não tinha com quem ficar. Depois de seis meses, ele precisava de uma pessoa para morar e fui com a minha filha”, relata.
Quando fala do ex-patrão, Sandra carrega amor nas palavras e diz ser grata por muitas coisas. Durante a entrevista, o adjetivo generoso foi o mais utilizado por ela. “O Guilherme foi sempre muito bom, nunca tive nada para reclamar. Ele sempre ajudou eu e minha filha e, se não fosse ele no começo, não teria onde morar. Ele era muito bondoso e generoso”, afirma.
A profissional só deixou de morar no mesmo espaço que o jornalista, após conquistar a casa onde reside até hoje com a única filha. A conquista importante, conforme ela conta, também teve influência dele. Mesmo tendo um lugar para morar, Sandra seguiu trabalhando na residência do patrão e acompanhou todas as etapas da trajetória dele. “Vi os filhos dele crescerem e os netos nascerem", fala.
A proximidade dela com a família é relatada pela filha caçula de Guilherme, Anahi Zurutuza, 32 anos. A jornalista menciona que Sandra e o pai tinham paixões em comum e compartilhavam questões pessoais sobre a vida. “Sandra não é só uma funcionária fiel. O que ela e meu pai construíram foi a mais pura amizade, de duas décadas. O que tinham era mais que confiança, trocavam confidências, eram cúmplices. Além disso, tinham várias afinidades, comer bem, cozinhar bem, servir a quem se ama. Dentre os amores em comum, também está a Mel”, pontua.
Depois de Guilherme falecer, Sandra fez a única coisa que podia e achava correta, por isso, ficou com a cachorrinha. “Ele gostava muito dela e eu não queria que ela ficasse com uma pessoa estranha”, ressalta. A preocupação não era somente por saber do amor que Guilherme tinha pela pet, mas por conhecer a condição de saúde da Mel. “Fiquei preocupada e com dó dela, porque ela precisa de um cuidado especial. Ela tem um probleminha, não anda somente em linha reta, fica girando às vezes", comenta.
Recentemente, Mel completou mais um ano de vida e deu um susto daqueles na Sandra e na filha. Ao ver o portão aberto, a cadelinha saiu e sumiu durante uns minutos. “Ela escapou na rua, cheguei a chorar, falei pra Bruna: você conhece a nossa história. Eu não aceitava ela fugir”, expõe. Felizmente, a pequena Mel foi encontrada no mesmo dia.
Bem tratada, Mel leva uma vida de rainha e tem horário reservado todo sábado no pet shop. No local, ela é banhada e volta para o lar limpinha, cheirosa e cheia de lacinhos fofos nas orelhas.
Sobre o Guilherme, a última coisa que Sandra comenta é a ausência e saudade. “Vai fazer um ano ainda, ele faz muita falta nas nossas vidas”, conclui.
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