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Comportamento

Após 50 anos, pandemia tirou seu Garcia pela primeira vez do balcão

Dono de uma das mais tradicionais lojas agropecuárias da Capital, João Garcia se vê isolado dentro do próprio comércio

Lucas Mamédio | 01/07/2020 06:17
Seu Garcia com a foto da loja em 1982. (Foto: Paulo Francis)
Seu Garcia com a foto da loja em 1982. (Foto: Paulo Francis)

Há pouco tempo, se entrasse na loja agropecuária Sementes Garcia, na Avenida Zahran, umas das mais tradicionais de Campo Grande, e quisesse encontrar o dono, seu João Garcia, era muito fácil, só se encaminhar ao balcão.

Foi assim durante mais de 50 anos, 53 para mais ser exato. Rígido com os negócios, seu Garcia nunca ficou longe do dia a dia da Sementes Garcia. Eis que no alto de seus 81 anos, por conta da pandemia do novo coronavírus, tudo mudou.

Estando, obviamente, no grupo de risco por causa da idade, seu Garcia se vê obrigado a remanescer isolado em uma salinha ao lado de uma das entradas da loja, uma espécie de escritório. É ali que ele nos recebe, sentado em uma poltrona.

Seu Garcia chegou a Campo Grande em 1972, aos 34 anos, para montar a segunda loja. A primeira ficava em Londrina, interior do Paraná, e já funcionava há seis anos.

A fachada é a mesma desde a inauguração, em 1982 (Foto: Paulo Francis)
A fachada é a mesma desde a inauguração, em 1982 (Foto: Paulo Francis)

Filho de espanhóis, o empresário nasceu em uma cidadezinha perto de Londrina, onde cresceu até chegar em Campo Grande. “Quando vim pra cá essa avenida era de terra, havia pouquíssimos comércios também”, lembra seu Garcia.

Antes de se instalar definitivamente no ponto atual, numa esquina, a Sementes Garcia funcionou durante 10 anos na frente, em um pequeno prédio onde agora existe uma loja de informática.

“Eu montei onde estamos agora em 1982. Tinha um terreno baldio aqui, daí eu comprei. Depois economizei um dinheiro e montei o prédio”, explica ele, que mora em cima da loja, num sobrado feito junto do prédio original. A fachada continua a mesma desde 1982.

O tino para os negócios levou seu Garcia longe. Ele chegou a ter sete lojas espalhadas pelo Brasil, nas cidades de Londrina, Campo Grande, Cuiabá (MT), Alta Floresta (MT) e Porto Velho (RO).

Seu Garcia pretende voltar ao balcão depois da pandemia, agora foi só pra foto. (Foto: Paulo Francis)
Seu Garcia pretende voltar ao balcão depois da pandemia, agora foi só pra foto. (Foto: Paulo Francis)

No total, segundo João Garcia, ele chegou a ter cerca de 600 funcionários diretos e indiretos. “Mas aí eu fui ficando velho, não tenho filhos biológicos, então o jeito foi vender as lojas, daí fiquei só com essa mesmo, aqui em Campo Grande”.

Seu Garcia não tem filhos biológicos, mas foi casado duas vezes e tem uma enteada do primeiro casamento, que mora ao lado dele, na Zahran. Esse primeiro casamento durou 34 anos, com a dona Nívia, companheira que ajudou a construir tudo que seu Garcia tem.

O principal objetivo de seu Garcia nesse momento é concretizar um terceiro casamento, com uma mulher que conheceu há quatro anos, a “polonesa”.

Valdeci trabalha na Sementes Garcia há 28 anos (Foto: Paulo Francis)
Valdeci trabalha na Sementes Garcia há 28 anos (Foto: Paulo Francis)

Após uma cirurgia, a “polonesa”, que se chama Jane, foi contratada para cuidar de seu Garcia, que logo se engraçou e, ao que parece, teve sucesso, parcial que seja.

“Faz quatro anos que peço ela em casamento, mas ela diz que teve um casamento desastroso e por isso tem medo de casar de novo. Por que isso, hein?”, me pergunta, e não parecia uma pergunta retórica, ele esperava a resposta.

Ora, eu, um rapaz de 27 anos, explicar as razões de um pedido de casamento não aceito feito por um homem tão experiente quanto seu Garcia. Não me atrevi. Disse apenas que relacionamentos são complicados, foi tudo que consegui aprender até agora.

Curvando-me à lógica do tempo, pergunto para quem, então, vai ficar a loja após a partida dele. “Para Jane, depois que a gente se casar”, disse parecendo não ver outra opção.

Valdeci Avalhaes Graciose, de 55 anos, é o funcionário mais antigo da Sementes Garcia, está no estabelecimento há 28 anos trabalhando nos serviços gerais. É um dos cinco funcionários, de um homem que já chefiou mais de 600 pessoas. “Não ficaria tanto tempo aqui se seu João não fosse um bom patrão”.

O jeito agora é ficar isolado em uma sala na própria loja. (Foto: Paulo Francis)
O jeito agora é ficar isolado em uma sala na própria loja. (Foto: Paulo Francis)

Seu Garcia é orgulhoso da própria história. Faz questão de mostrar os 38 troféus de futebol que o time da loja ganhou em torneios amadores. Também não deixa de mostrar os títulos que o comércio conquistou na área do empreendedorismo. São pequenas placas presas a várias paredes do estabelecimento.

Seu Garcia senta-se atrás do balcão apenas para fazermos algumas fotos. Ele fica no mesmo lugar há 50 anos. “Depois que tudo isso passar, pretendo voltar a sentar aqui”.

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