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Comportamento

Avenidas em homenagem a ditadores amanhecem com nomes diferentes

Ângela Kempfer e Aliny Mary Dias | 31/03/2014 11:08
No cruzamento,  adesivo muda nome de rua. (Foto: Pedro Peralta)
No cruzamento, adesivo muda nome de rua. (Foto: Pedro Peralta)

Algumas das principais avenidas de Campo Grande amanheceram hoje com nomes diferentes. É só uma manifestação neste fim de março, 50 anos depois do golpe militar no Brasil. Não tem validade, mas é a nova tentativa para o fim de homenagens politicamente ultrapassadas.

Na Ernesto Geisel, esquina com a avenida Afonso Pena, o adesivo mal colado, mas uma cópia fiel do layout adotado pela prefeitura, indica que nesta segunda-feira a avenida esqueceu o ex-presidente militar e agora faz festa para Marçal de Souza, líder indígena assassinado em Mato Grosso do Sul, por lutar pela demarcação de terras na década de 80. A numeração da quadra também foi alterada é agora é de "1964 a 2014".

Quem passa, não percebe a alteração improvisada, feita em todos os cruzamentos e pontos de ônibus. Valdelvino de Souza, de 62 anos, tem uma sapataria na Ernesto Geisel, mas apesar do longo tempo no ponto comercial, diz desconhecer quem foi Geisel e também nunca ouviu falar de Marçal de Sousa. Por isso, reclama do que considera depredação. “Deve ter sido feito no domingo ou hoje. As pessoas querem protestar, mas acabam estragando o patrimônio”.

Nosso índio desdentado, Marçal Tupã, foi recebido pelo Papa João Paulo II e levou a luta indígena ao mundo. Morreu em 25 de novembro de 1983, executado a mando de fazendeiro na luta pela Terra Indígena Campestre, em Antônio João. Os acusados foram absolvidos e uma das poucas homenagens até hoje é o nome à aldeia urbana terena, na região do bairro Tiradentes, em Campo Grande.

Já Ernesto Geisel, o quarto presidente militar depois do golpe de 64, assumiu o cargo quando o tal "Milagre Econômico" anunciado pelos militares era corroído pela inflação. Com o Regime ameaçado, o jeito foi anunciar uma abertura gradual, que só se confirmou mesmo com o sucessor, João Batista Figueiredo.

Geisel fez coisas do tipo fechar o congresso por duas semanas para alterar as regras eleitorais, já prevendo uma vitória esmagadora da oposição. Ele criou, por exemplo, a figura do senador biônico, estabelecendo que um em cada três senadores fosse eleito indiretamente pelas Assembleias Legislativas de seus estados.

Mas o ex-presidente tem na história a criação de Mato Grosso do Sul, o que justificou a homenagem à época.

Na Costa e Silva, quem passou registrou pelo celular a mudança.
Na Costa e Silva, quem passou registrou pelo celular a mudança.

Costa e Silva - Em outro ponto da cidade, na avenida Costa e Silva, o protesto apareceu no ponto de ônibus e também nas ruas. Ali, a lembrança é de um militar bem mais linha dura, o segundo a assumir o Brasil censurado. O AI-5 é coisa de Costa e Silva e também a sequência de perseguição aos políticos e estudantes que contestavam o regime. Ele mandou torturar e matar muita gente sob pretexto de coibir “atividades subversivas”.

Nenhum movimento assina a adesivagem por Campo Grande hoje. Mas para a Costa e Silva, que leva à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, a sugestão é de que o nome agora seja "Estudante Edson Luis". Secundarista, aos 17 anos o rapaz foi morto durante invação da Polícia Militar a restaurante estudantil no Rio de Janeiro. Ele virou símbolo da resistência e o caso serviu de estopim para grandes manifestações públicas durante o quarto ano de governo militar.

Os adesivos estão por aí, levando o debate para a cidade e reforçando no roda pé da manifestação bem humorada o desejo: “Ditadura Nunca Mais”.

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