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Comportamento

Avó deixa todo mundo no chinelo e chega aos 71 anos bebendo cerveja

Ao som de Zé Neto e Cristiano, dona Áurea mostra que não larga cervejinha gelada nem se alguém tentar impedir

Thailla Torres | 04/02/2022 06:33


Pelo telefone, já brinco com dona Áurea Augusta de Melo se será preciso um suborno com caixinha de cerveja para ela me dar entrevista em pleno aniversário. Ela cai na risada e suspeita. “Isso aí é coisa dos meus netos, né? E ainda vou ficar famosa por causa da cachaça”, diz rindo com alegria de ter chegado cheia de saúde aos 71 anos.

Mesmo achando que não tinha muita coisa para falar sobre sua história de vida, expliquei à Áurea o que mais nos chamou atenção. Um compilado feito neta jornalista e narradora esportiva, Isabelly Melo, que mostra a vovó tomando uma cerveja gelada feliz da vida em diversos momentos.

O vídeo foi publicado nas redes sociais da neta, com a música “Vamo Tomar Uma” de Zé Neto e Cristiano como trilha sonora. E não há dúvidas que se a dupla conhecesse dona Áurea eles é que a convidariam para tomar uma no palco. As imagens foram captadas pela neta que não dispensa um registro da avó. “Passamos 10 dias na praia e a Isabelly me perseguindo com o celular só me gravando. Não tem jeito essa menina”.

Ontem, aos 71 anos, ela ficou do ladinho da família e com a cervejinha na mão. (Foto: Isabelly Melo)
Ontem, aos 71 anos, ela ficou do ladinho da família e com a cervejinha na mão. (Foto: Isabelly Melo)

Divertida e de bem com a vida, ela diz que caiu na risada quando assistiu ao vídeo, mas se explica. “Não bebo todos os dias, viu? Bebo aos fins de semana ou na quarta-feira, quando um sobrinho aparece aqui para visitar”.

Mesmo assim, ela ficou feliz com a homenagem e a admiração que ganhou nos últimos anos, especialmente, da turma mais jovem, por ser uma vovó descolada que não dispensa bons momentos com a família. “Sou a terceira filha de 10 irmãos. Dois já se foram. Mas sempre fomos uma família muito unida, até nos momentos mais difíceis”.

Quando questiono sobre o início da relação com a cervejinha gelada, ela conta que a oportunidade de experimentar boas cervejas surgiu não faz tanto tempo. “Comecei a beber depois de velha, minha filha. Vim do sítio, sempre morei no mato, não tinha essas coisas. Depois casei, vieram os filhos, não tinha muito tempo para diversão. Foi nos últimos anos que eu comecei a aproveitar”.

Mas quando tem uma feijoada, Áurea confessa que vai para o outro lado do campo. “Aí, eu gosto mesmo é de tomar uma caipirinha”, conta rindo.

Ela até ganhou copo famoso da família para cerveja estar sempre gelada. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ela até ganhou copo famoso da família para cerveja estar sempre gelada. (Foto: Arquivo Pessoal)

Natural do interior de São Paulo. Chegou a Mato Grosso do Sul quando tinha quatro anos de idade. O pai havia comprado uma chácara na região de Dourados e ela viveu lá por 23 anos. Depois se casou e veio morar em Campo Grande.

Nesse momento, a voz dá uma pausa na risada para uma fala mais emocionada. “Aqui vivi 49 anos com meu marido, que foi meu primeiro namorado, meu primeiro amor da vida”.

O marido se foi há pouco mais de um ano após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Se não fosse a partida, ele estaria ao lado dela nesses momentos felizes e brindando. “Foi uma pessoa maravilhosa, construímos uma família linda”, se orgulha.

Apesar da saudade imensa que ainda mora no peito, ela diz que não se deixa abalar por nenhuma tristeza. Foi assim até quando ela e a família da irmã caçula, Lúcia, pegaram covid-19 em janeiro de 2021. “Graças a Deus, não tivemos nada grave. Fiquei 8 dias sem ver a minha irmã e quando falava com ela por telefone, até chorava de saudade. Até que a gente resolveu se unir. Ela vinha me visitar e eu ia visitá-la, tomando todos os cuidados. Mas acho que foi o amor que nos curou”, lembra do episódio.

Áurea e sua irmã caçula, Lúcia, maior parceira na hora da cervejinha. (Foto: Arquivo Pessoal)
Áurea e sua irmã caçula, Lúcia, maior parceira na hora da cervejinha. (Foto: Arquivo Pessoal)

Lúcia é uma das maiores parceiras de Áurea na hora da cervejinha. Assim como alguns netos, que são os xodós de Áurea, que não sabe dizer não para nenhum deles e prepara receita preferida sempre que pedem. “Um gosta de arroz doce, outro de bolo, de pudim, e por aí vai. Sempre que algum deles me pede, eu faço com todo amor do mundo”.

Áurea diz que faz de tudo para ser lembrada como uma avó feliz e que soube aproveitar a vida com amor e alegria. “Sabe, a vida da gente não é só de alegria todos os dias, tem momentos difíceis. É como diz um ditado ‘a rosa é bonita, mas tem muito espinho’. Eu já encontrei muitas pedras no meu caminho. Mas a gente precisa seguir em frente e ser feliz”.

Quando questiono se há um segredinho para chegar aos 71 anos com tanta disposição e sorriso para distribuir, Áurea tem a resposta na ponta da língua. “É viver com bom humor, fazer o bem, ter boas amizades, cuidar da saúde e, claro, tomar uma cervejinha. Ela faz bem à saúde”, diz dando risada.

À neta, digo que quando for seguro, quero um dia brindar e tomar cerveja com dona Áurea, assim descubro o quanto ela é disputada. “Ó, essa vaga está concorrida, mas ela vai amar”, finaliza.

Vida longa à dona Áurea, que deixa muito marmanjo no chinelo quando o assunto é cervejinha e bom humor.

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