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Comportamento

Banheiro neutro é conquista de alunos que universidade vai manter

UFMS destaca que os banheiros atendem LGBTQIA+, uma vez que possui mais de 80 estudantes com nome social

Jéssica Fernandes | 01/04/2022 09:18


Placa semelhante é conhecida em alguns estabelecimentos como uma forma de diminuir as violências às pessoas que são discriminadas. (Foto: Henrique Kawaminami) 
Placa semelhante é conhecida em alguns estabelecimentos como uma forma de diminuir as violências às pessoas que são discriminadas. (Foto: Henrique Kawaminami)

Não adianta criar polêmica! Aliás, longe de serem motivo para gerar polêmica, os banheiros neutros do campus de Campo Grande da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) são uma conquista para alguns acadêmicos que, desde o ano passado, fizeram uma mobilização e reivindicaram o pedido diretamente à SEAE (Secretaria de Assistência Estudantil).

Os quatro banheiros neutros, que visam atender pessoas de todos os gêneros e aquelas que não se identificam com nenhum (não binárias), foram adaptados em blocos diferentes da instituição. As estruturas, que já existiam na UFMS, ganharam placas indicativas somente há duas semanas.

O acadêmico de Artes Visuais, Francis de Oliveira, 23 anos, explica que a solicitação foi encaminhada após casos de transfobia ocorrerem nesses ambientes. “Era uma demanda nossa, porque a gente já tinha sofrido transfobia várias vezes por usar o banheiro masculino ou feminino. Então, achamos melhor pedirmos o banheiro neutro e conseguimos”, explica.

O estudante fala que esses espaços neutros, ao contrário do que muitos acreditam, não representam ameaça aos demais estudantes e garantem a segurança do grupo que fez a reivindicação. “Muitas pessoas, por medo de sofrerem transfobia, ficam se segurando e não vão ao banheiro. Esse é um espaço seguro para nós e não é para gerar violência. A violência está aqui o tempo todo contra a gente”, comenta.

Banheiro tem mictórios e sanitários com portas. (Foto: Henrique Kawaminami)
Banheiro tem mictórios e sanitários com portas. (Foto: Henrique Kawaminami)

Em entrevista ao Lado B, publicada na última quarta-feira (30), um dos entrevistados defendeu que os banheiros neutros foram colocados baseado em “modismo”.

O comentário é rebatido por Francis, que integra o GT Transvestigenere da UFMS, e esclarece que houve uma pesquisa e contato com a divisão responsável. “O número de pessoas trans e não binárias na faculdade só tem aumentado, fizemos um levantamento de pessoas que usam o nome social e dobrou desde que as aulas voltaram. Criamos o grupo, conseguimos contato com o DCE (Diretório Central dos Estudantes) e ele fez essa ponte com a secretaria”, ressalta.

Em nota, o SISTA/MS (sindicato que representa os  servidores técnicos e administrativos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) afirmou que os comentários na reportagem “São opiniões pessoais daquele coordenador que as emitiu sem que os demais membros da direção do SISTA/MS tenham sido consultados, retratando unicamente suas opiniões pessoais. Reafirmamos nosso compromisso e nosso respeito com toda comunidade universitária. Nossas lutas sempre foram contra qualquer tipo de discriminação, seja racial, de cor, credo, gênero ou orientação sexual”.

Agora, conforme Francis, existe uma nova discussão sobre a retirada dos banheiros neutros disponibilizados. "Tem um monte de gente que quer que os tirem, tem servidores, acadêmicos e pais de acadêmicos. As pessoas usam isso de argumento, como se fosse algo perigoso, sendo que só são quatro no campus inteiro, enquanto em todos os blocos tem banheiro masculino e feminino”, diz.

Em relação às criticas e opiniões que deslegitimam a conquista, Francis finaliza que a questão sempre foi por necessidade. "O intuito nunca foi tocar as pessoas ou criar moda, foi realmente uma necessidade”, finaliza.

Os banheiros ficam - Procurada para falar sobre o caso dos banheiros neutros e a reivindicação dos acadêmicos, a UFMS destacou que há 401 banheiros no campus de Campo Grande, sendo quatro destes espaços família e dois banheiros neutros.

"A criação dos espaços famílias é uma inovação na UFMS, e possuem fraldários para uso da comunidade universitária, em respeito aos servidores e estudantes que são mães e pais. Os dois banheiros neutros atendem os membros LGBTQIA+ da comunidade universitária, uma vez que a UFMS possui mais de 80 estudantes com nome social."

A Pró-Reitoria de Administração e Infraestrutura (Proadi) também esclarece que nos espaços escolhidos para os banheiros famílias e neutros, permanecem também à disposição os banheiros masculino e feminino.  "A iniciativa atende às solicitações da comunidade universitária registradas nos questionários da Avaliação Institucional e de demandas dos grupos à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes) e Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep). A UFMS cumpre sua missão como uma universidade gratuita, de qualidade e inclusiva", informou em nota enviada ao Lado B.

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