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Comportamento

Bar feito em casa com ajuda de vizinhos é convite para risadas

Apesar do espaço ser pequeno, por ali, sempre cabe mais um

Suzana Serviam | 26/01/2022 13:13
Casal em frente ao bar Quilombo, uma homenagem à comunidade negra. (Foto: Suzana Serviam)
Casal em frente ao bar Quilombo, uma homenagem à comunidade negra. (Foto: Suzana Serviam)

Na Comunidade Tia Eva, os moradores têm costume de se reunir em frente de casa para tomar aquele tereré ou mate, além de fazer o que muita gente por aí gosta, mas finge que não: fofocar. Claro que não é só isso. Nas reuniões sem compromisso e no improviso, feitas na rua mesmo, a vizinhança, que é uma grande família, conta causos da vida, comparam a época de antigamente com a de hoje e dão muita, mas muita risada.

Há um ano e meio, esses encontros deixaram de ser em frente da casa para serem na varanda da Vânia e do Arthur, que hoje, é um bar com nome que fala muito sobre a comunidade: Quilombo.

"Representa união, o encontro. Eu sou quilombola, então tenho que valorizar o que eu sou, a minha identidade, origem e raízes. E o nome foi pensado nessa questão: 'ah, onde eu vou?' Vou no Quilombo. Eu já estou no Quilombo que é o da Tia Eva, mas daí tem um bar que tem o mesmo nome. É esse pensar na identidade mesmo", diz Vânia Lucia Baptista Duarte, 45 anos.

Para todo mundo se sentir em casa, os detalhes são importantes. Arthur Padilha, 65 anos, comenta que o banheiro do lugar tem taxa alta de recomendação na região, por ser bem limpinho. Não fica aberto e para usar, é preciso pegar a chave no caixa.

“A gente atendia num local na rua de trás, mas o aluguel era salgado. Quando saí por causa das contas e por um conhecido sempre insistir que eu deveria fazer em frente de casa, decidi investir aqui. E como eu queria algo que fosse atrativo para as pessoas, surgiu a ideia de fazer a parede crua com esses tijolos, esse pergolado e, na época, todo mundo estava usando tambor de decoração, também compramos para colocar aqui”, conta Arthur.

Banheiro do bar limpíssimo, como regra dos proprietários. (Foto: Suzana Serviam)
Banheiro do bar limpíssimo, como regra dos proprietários. (Foto: Suzana Serviam)

A combinação de cores deixa o espaço aconchegante para qualquer um se sentir à vontade e conversar. Arthur ainda lembra que a pintura do tambor aconteceu por um acaso, pois um motociclista que teve o pneu da moto furado precisou parar ali na frente.

Sem dinheiro para o conserto, ele ofereceu pintar os tambores em troca de R$ 30. “E ficou assim. Ele saiu daqui dizendo que voltaria, mas nunca mais”, revelou Arthur. Mas pra que? Já que ficou bem “combinandinho” com ambiente.

Com um sorriso largo e muito receptiva, Vânia recebeu o Lado B e disse que ela foi a primeira a desmotivar o parceiro ao novo empreendimento. “Ah, sou professora. Minha vida é corrida e apesar disso, sou uma pessoa mais calma. Então, imaginei que ficaria corrido demais conciliar tudo”, explicou. Mas no fim das contas, tudo tem dado muito certo.

Inclusive, Vânia fez questão de agradecer os familiares da comunidade por todo o apoio que recebe todos os dias. Ela lembra o dia que fez a mudança. O local já estava pronto, mas não havia carro para transferir os produtos. A cada pergunta sobre o dia que seria inaugurada, ela respondia que estava aguardando o filho retornar de viagem. Até que um belo dia, os adolescente da comunidade se reuniram e disseram que eles mesmos fariam a mudança.

E assim foi. “Eles colocaram as coisas dentro de várias sacolinhas e foram trazendo”, comentou Vânia. Já Arthur lembrou que a inauguração que tanto pediam não aconteceu porque, conforme mudavam as pessoas, iam até o bar comprar coisas e naquele “vuco vuco” da mudança, abriram as portas.

Vânia no caixa do bar, reunindo notinhas para fazer cálculos. (Foto: Suzana Serviam)
Vânia no caixa do bar, reunindo notinhas para fazer cálculos. (Foto: Suzana Serviam)

De lá pra cá, não teve um dia sequer de portas fechadas. Os encontros que antes eram na calçada de alguém, passaram a ser ali.

"Aqui as pessoas vem para bater papo, tomar cervejinha. Também chega correspondência para alguém e a pessoa não está então fica aqui. 'Ah tenho que passar dinheiro para não sei quem vou deixar aqui, você entrega?' Às vezes o povo trás encomenda de Furnas do Dionísio e deixa aqui para alguém buscar", conta ela.

Dia de sábado, o improviso rola solto. Quando vê, já tem gente preparando comida para todo mundo na cozinha. Músicos tocando pagode. Gente dançando, conversando, bebendo. De tudo um pouco. E quando alguém de fora chega na comunidade, acaba se sentindo acolhido com as zoações e alegria de todos.

Todo esse acolhimento também é característico do nome do local: Quilombo Conveniência. Vânia conta: "Aqui é uma comunidade quilombola e representa união, o encontro. Eu sou quilombola, então, tenho que valorizar o que eu sou, a minha identidade, origem e raízes. E o nome foi pensado nessa questão: 'Ah, onde eu vou?' Vou no Quilombo'. Eu já estou no Quilombo, que é o da Tia Eva, mas daí tem um bar que tem o mesmo nome. E aqui, as pessoas vêm para bater papo, tomar cervejinha".

Uma vizinha passou de carro e gritou ao corintiano Arthur que o Palmeiras tem copinha. Ele acenou e deu risada. Gestos que mostram o quanto de intimidade uns têm com os outros. Quem quiser conhecer o Quilombo Conveniência e dar boas risadas, siga pela Rua Eva Maria de Jesus, 2774 - Seminário.

Arthur sentado ao lado do tambor que foi pintado por R$30. (Foto: Suzana Serviam)
Arthur sentado ao lado do tambor que foi pintado por R$30. (Foto: Suzana Serviam)

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