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Comportamento

Carona fez Everson parar na Itália e fazer fotos surreais das Dolomitas

Região montanhosa da Itália é considerada um dos lugares mais lindos do planeta

Thailla Torres | 21/12/2022 07:37
Dolomitas, nos Alpes italianos, um lugar repleto de montanhas. (Foto: Everson Tavares)
Dolomitas, nos Alpes italianos, um lugar repleto de montanhas. (Foto: Everson Tavares)

Há um mês o fotógrafo Everson Tavares viveu uma experiência incrível durante viagem à Itália. Ele bem imaginava que cada cenário que encontrasse pela frente fosse encantador, mas só na presença de cada paisagem ele pode sentir o quão surreal é a beleza de cada lugar.

Na Voz da Experiência de hoje ele narra detalhes da viagem que rendeu fotografias incríveis, especialmente das Dolomitas, nos Alpes italianos, um lugar repleto de montanhas, lagos, vilarejos encantadores e cheios de história. Considerado patrimônio histórico da humanidade pela Unesco, o destino é um dos lugares mais bonitos do planeta.

Everson também fez registros em Veneza. (Foto: Everson Tavares)
Everson também fez registros em Veneza. (Foto: Everson Tavares)

“Eu viajei para Pádua, uma pequena cidade no norte da Itália onde surgiu o Aperol Spritz e está enterrado o corpo de Santo Antônio. A minha motivação principal foi conhecer e fotografar as Dolomites, o que viesse de experiência extra seria lucro. Como Pádua é muito perto de Veneza, eu aproveitei para conhecer a cidade também, já que ela está desaparecendo aos poucos por causa do aumento do nível dos oceanos.

A história começou quando eu dei carona para uma pesquisadora italiana que estava no Brasil e precisava chegar numa comunidade indígena em Miranda, mas perdeu o ônibus por um erro da empresa de transporte. 

Ela me disse que eu poderia ficar na casa dela, em frente às Dolomites, caso um dia fosse à Itália. Achei uma passagem na promoção e aproveitei. Por coincidência, havia encontrado uma Rolleiflex de 1929 numa feirinha de rua em SP e achei que ia ser muito legal testar essa câmera analógica na viagem. Meu ex-aluno e fotojornalista, Henrique Arakaki, havia me dado um filme para essa câmera um mês antes e profetizou: você vai achar uma médio-formato (tipo de câmera como a Rolleiflex) para usar esse filme. Foi uma série de grandes encontros improváveis.

O norte da Itália é muito encantador, é clichê dizer que todos os cenários parecem filmes, mas é impossível não relembrar cenas do cinema europeu nas vielas e nas construções históricas que foram preservadas.

Foto de Dolomites feita com Rolleiflex. (Foto: Everson Tavares)
Foto de Dolomites feita com Rolleiflex. (Foto: Everson Tavares)

Os cenários de Arquà Petrarca, um pequeno vilarejo nos arredores de Pádua, são terra fértil para qualquer fotógrafo. Andando pela cidade me deu muita vontade de criar uma expedição com meus alunos apenas para fotografar a cidade - inclusive já tenho um monte de gente falando sobre um curso aqui. Veneza é a cidade mais incrível, tanto pela história, quanto pela sensação de conhecer um lugar que pode desaparecer. Acho que essa mistura de história com efemeridade é o cerne da fotografia, eu diria que Veneza é a cidade mais fotografável que já vi, mas só se você usar as vielas da cidade para fugir das rotas turísticas. Eu preferi fotografar Veneza à noite para evitar a horda de instagramers (nada contra, acho que todo mundo quer e deve  fotografar a cidade, né? Mas é difícil achar uma cena em Veneza que não esteja cheia de gente).

Agora, para quem nasceu e cresceu no cerrado, ver montanhas como as Dolomites é uma sensação tão sem igual que não cabe nem em palavras, nem em uma fotografia. Eu tive a sorte de chegar no vilarejo à noite, e recomendo para todos porque a sensação de acordar e dar de cara com a montanha é única. Lembro que, ao me levantar com as cortinas fechadas, a silhueta da montanha já fazia sombra na janela. Era como estar cercado por um godzilla de pedra, só que no bom sentido, sabe? Porque é imenso e você consegue sentir, literalmente, na pele que tem algo enorme ao seu redor.

Ao sair e ver o sol nas rochas, eu senti um misto de grandeza e pequenez. Pequenez porque perto da Dolomite, a gente é menos do que um pontinho. Mas, ao mesmo tempo, a sensação visual é de olhar num microscópio porque dá para ver todos detalhes da textura das rochas. É tipo uma Síndrome de Stendhal misturada com Banho de floresta (forest bathing), você fica eufórico e deslumbrado com vontade de caminhar até a montanha mas ao mesmo tempo não quer ter que se mexer para aproveitar a vista.

Essa parte me dói como fotógrafo, porque quando você aponta a câmera para a montanha, a sensação não é a mesma. Você sabe que você está perdendo algo que vai além do físico. Mas, quando apontei a Rolleiflex tudo foi diferente. Como o filme dela é maior, a nitidez da lente é diferente e o ocular é em paralaxe, você tem outro sentimento e outra percepção de cores. Gastei o rolo de filme todo só com as Dolomites.

Confira a galeria de imagens:

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Surpresas pelo caminho

Fiquei muito surpreso em como eles são os brasileiros da Europa. Claro, para todos os efeitos eles são muito diferentes da gente, mas ao mesmo tempo eram muito calorosos e receptivos. Mas o que é mais marcante, sem dúvidas, são as tradições. Eles tem pra tudo, desde a arquitetura tradicional que é preservada nos muros do século XV até nos rituais diários, como comer. A gastronomia expressa isso muito bem! Imagine fazer o mesmo molho de tomate que o seu tataravô vazia, sem tirar nem adicionar nada! É surpreendente como eles têm esse carinho pela cultura - e valorizam a diferença cultural. Acho que no Brasil a gente perde muito tempo buscando uma cultura eurocêntrica e deixa de olhar para as coisas que formam a nossa identidade.

O principal choque cultural, para mim, foi o trânsito. Primeiro porque as bicicletas e os pedestres são muito respeitados. Os carros literalmente param em qualquer lugar para você passar - mesmo que não seja preferencial. Claro que as cidades são menores e mais preparadas para um conectar diversos meios de transporte, né? Os vagões de trem tem espaço para bikes, por exemplo. Viajamos de Padova para Bologna com a bike no trem. Descemos e rodamos pela cidade inteira de bike e foi uma experiência muito agradável. Para mim, pensar que você tá no país da Ferrari e as pessoas usam bike por opção foi um bom choque.

A receptividade 

Eu estranhei o jeito dos atendentes falarem já no avião. Todo mundo era muito bravo no tom de voz. Depois me dei conta que era só o jeito de falar. Os italianos que conheci foram muito amistosos. Mesmo quando eu falava do Baggio Vs Romário. Teve quem me chamou para ver o jogo da Copa para eu não assistir sozinho, tem um que escalava e me deu uma aula de equipamentos, teve até o Ste - que faz pizzas maravilhosas - e fez uma tradicionalíssima e tive a oportunidade de comer com ele. É por isso que eles são os brasileiros da europa, são muito receptivos.

Como viajar 

Meu planejamento foi receber um convite de estadia, achar uma passagem barata e aproveitar a oportunidade. Eu não imaginava o que iria encontrar lá. Isso para mim é o sonho. Zero expectativa, 100% surpresa. No final, foi muito mais incrível do que eu poderia imaginar - tanto pelo lugar, quanto pela comida, mas, é claro, pela imersão cultural que as pessoas proporcionaram"

Lugar é perfeito para perfeito para turistas que estão em busca de belos cenários e muita história. (Foto: Everson Tavares)
Lugar é perfeito para perfeito para turistas que estão em busca de belos cenários e muita história. (Foto: Everson Tavares)
A área das Dolomitas abrange cinco províncias e possui belezas naturais de tirar o fôlego. (Foto: Everson Tavares)
A área das Dolomitas abrange cinco províncias e possui belezas naturais de tirar o fôlego. (Foto: Everson Tavares)

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