Casa é herança deixada por quem “deu” a vida por Nova Esperança
Dezesseis anos após a morte de Clóvis, esposa e o neto mantêm tradição de compartilhar histórias do patriarca
“Ele amava o que fazia e sabia que as pessoas precisavam dele”, resume Laudomira Josefa de Souza, aos 88 anos, sobre o falecido marido, Clóvis Alves de Souza. Tendo dividido a vida e as lutas com o companheiro, ela narra que o antigo líder comunitário “deu” a vida pelo bairro Nova Esperança e, hoje, as lembranças continuam espalhadas pela casa que o homem construiu para se dedicar à região.
Desde que Clóvis partiu já se passaram 16 anos e, mesmo assim, a tradição de manter vivas as memórias construídas com ele seguem fortes. Ao lado do neto, Paulo Souza da Silva, Laudomira conta que os dias passados fazendo sopão e buscando renda para melhorar a região que até então era irregular nunca serão esquecidos.
“A primeira coisa que eu tenho para falar dele é que ele foi o melhor líder comunitário. E não estou falando isso porque era meu marido, viu”, brinca Laudomira. Hoje, sem envolvimento com o cenário político e administrativo do bairro, ela comenta que a família se mudou para a região justamente devido à atuação de Clóvis.
Puxando na memória, ela narra que os dois moravam no Interior e, cansados de continuar sem muitas chances de melhora, decidiram vir para a Capital. Por aqui, o marido começou a trabalhar na Agência Municipal de Habitação e, pouco a pouco, se envolveu com os movimentos de bairros.
De acordo com Paulo, o neto, Clóvis foi convidado para ser presidente do aglomerado que era o Nova Esperança. “Aqui era favela naquela época, as pessoas eram muito pobres e meu avô aceitou vir. Foi por isso que construiu essa casa que tem aqui hoje, para se dedicar mesmo”.
Tendo levantado as paredes do lar, Clóvis envolveu a família no gosto pela liderança e, conforme Paulo conta, cada um ajudava como podia. Enquanto o avô tentava buscar investimentos para melhorar o bairro, a esposa, filhos e neto atuavam nos quesitos básicos como alimentação.
“Como aqui era muito carente, ele decidiu criar o Sopão e muitas vezes pagava com o próprio dinheiro, sem ajuda de ninguém. Aos poucos, alguns políticos resolveram apoiar, outras pessoas doavam também e a gente fazia tudo aqui em casa”, relembra Paulo.
Usando de legumes plantados pela família, Laudomira conta que colhia os itens e levava para a cozinha de casa. “Essa calçada e a rua ficavam cheias de gente, você precisava ver como era”.
No fim dos anos de 1990, o sopão foi finalizado, mas Clóvis continuou atuando com os moradores, como explica o neto. E, além da vida comunitária, Paulo garante que os exemplos se espalharam também pela camada mais pessoal.
“Meu avô sempre deu bons exemplos e grande parte do que eu sou hoje foi ensinado por ele. Ele deixou essa preocupação com as pessoas, o espírito de liderança mesmo e até a forma de construir uma família”, diz Paulo.
Detalhando o último ponto, ele exemplifica que o avô decidiu ser pai por adoção e, assim como ele, Paulo também é hoje. “Tenho muito orgulho de tudo o que ele fez. Deu a vida mesmo aqui e só parou quando não conseguia mais, mas o exemplo ainda continua”.
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