Casados pelo Facetime, noivos dizem "sim" em casa com fotos por Skype
Ângulo da celebração foi escolhido pelo fotógrafo e videomaker, e votos foram trocados diante de celebrante via chamada de vídeo
O decreto de isolamento cancelou os antigos planos dos noivos, mas não deixou Marcela sem dizer "sim" perante o altar. No dia 1º de abril, data marcada na vida do casal, os cômodos da casa serviram de cenário para um casamento celebrado via Facetime e literalmente intimista.
Foi apenas diante da celebrante, do fotógrafo e do videomaker, via Skype ou chamada de vídeo, que os dois trocaram os votos e as alianças, nove anos depois de tudo começar. Ninguém imaginava que o casamento seria dessa forma, mas depois de cancelado semanas antes de acontecer, por conta do coronavírus, Marcela resolveu pedir a mão do noivo em casamento e fazer a cerimônia ali mesmo.
Foi em setembro do ano passado, durante o aniversário de um dos filhos do casal que eles deixaram de dar presentes para estarem presentes. A comemoração foi uma viagem a Bonito, cidade turística sul-mato-grossense que Marcela, maranhense, até então não conhecia.
"Estávamos fazendo uma trilha, indo para a cachoeira do amor e, eu perguntei ao guia porque ela se chamava assim. Ele explicou que era muito bonita, tinha vários pedidos de casamento que eram feitos ali e os decks tinham formato de coração", conta a fotógrafa Marcela Serra, de 28 anos.
Nesta hora, o namorado que estava um pouco mais adiante se virou para ela e os dois pensaram juntos: 'vamos casar'? Os planos para a festa começaram entre outubro e novembro, com direito a duas celebrações. Uma em Mato Grosso do Sul, estado onde o casal vive e outra no Maranhão, terra natal de Marcela.
Três semanas antes da data do casamento, em abril deste ano, começou-se a falar do coronavírus e a decisão dos dois junto aos fornecedores foi o de pensar no coletivo e cancelar a festa. "Era um momento de pensar no todo e não só na gente. Resolvemos que não íamos mais nos casar", conta Marcela.
No entanto, no dia em que iria pegar o vestido de noiva em São Paulo, a fotógrafa acordou triste, sem saber ao certo o que estava acontecendo. "Deitada na rede eu me toquei que era o casamento, que era o dia em que eu estaria buscando o vestido. E em vez de eu ficar triste, eu resolvi transformar este sentimento em uma coisa boa".
O fotógrafo contratado para a cerimônia tinha feito, uns dias antes, um ensaio via Skype. O que reforçou a ideia da noiva. "Aí eu subi e pedi a mão dele em casamento. 'A gente não sabe como vai casar, mas eu quero casar contigo aqui, topa?' E ele topou", relata.
Faltando sete dias para a data mais importante da vida dos dois, o 1º de abril, a correria foi para ter o vestido de noiva, os itens de decoração e acertar os detalhes de vídeo e fotografia. "Contei com ajuda de um time de fornecedores maravilhosos", reconhece.
Junto dos profissionais de imagem, eles acertaram os locais dentro de casa onde os registros ficaram sensíveis, além das dicas de gravação. Foi através do Skype que o fotógrafo fez as fotos, inclusive do making of quando o noivo, de olhos fechados, coloca o vestido em Marcela.
Com os equipamentos da noiva, que é fotógrafa, posicionados certinho, as imagens eram feitas a cada medida em que os votos eram trocados, para captar diferentes ângulos. Desde que pediu ajuda dos fornecedores para os cenários de gravação, eles perguntaram se também poderiam participar, tudo via Skype.
"A gente estava em isolamento em casa e tudo foi chegando e assim fomos fazendo acontecer. A decoradora trouxe o buquê e o arranjo que colocamos no altar sem nenhum contato físico. Nossa ideia era essa, passar a mensagem de que dá para ficar em casa, e ao meio de tanta incerteza sobre o amanhã, a gente tem que pensar no lado bom, agradecer que temos saúde, um lar, que acordamos com o dom da vida".
O casamento foi completamente intimista. Sem nem ao menos a presença dos pais, que só ficaram sabendo depois que o Facetime com a celebrante foi desligado. Aí, sentados em um banquinho da sala, vestidos de noivos, os dois contaram por telefone.
Abaixo, parte do que foi falado pela celebrante Flávia Melo, para inspirar casais que ainda podem subir ao altar de casa.
Hoje foi o dia que vocês escolheram para celebrar o amor. E mesmo que ele não tenha saído exatamente da forma como vocês gostariam e sonharam, ele continua sendo o dia de celebrar o amor. Porque amor, mais do que um sentimento, é uma decisão. E só vocês dois sabem o que é ter os planos de casamento adiados – essa já é a segunda vez -, mas mesmo assim continuar decidindo todos os dias pelo amor.
Porque o amor tende à ausência de separação. O amor faz a gente querer ficar sempre, mesmo que o outro tenha o gênio difícil, fique mal-humorado quando está com fome, seja teimoso, cabeça-dura, competitivo, reservado ou bagunceiro. Na verdade, amor é não ter medo de se mostrar por inteiro, com todos os defeitos e qualidade, e também é conhecer o outro por inteiro, com todos os defeitos e qualidades, e sempre escolher ficar. De novo aquela historinha do começo: amor é decisão.
Talvez o mundo hoje não esteja muito fácil. Não está! A gente está enfrentando uma pandemia. Não sabemos como estaremos na próxima semana, mas saber COM QUEM vamos estar faz toda a diferença para enfrentarmos o que vier pela frente. Vocês têm tanta certeza de com quem querem estar que decidiram que nada atrapalharia a felicidade reservada para o dia 1º de abril.
Confira a galeria de imagens: