Casal corre mundo fotografando pessoas e famílias para mostrar quanto são belas
Unidos pela fé, o casal Ada e Evandro decidiu largar o modo de vida convencional e rodar o mundo como missionários. O desejo é contribuir dentro do que eles acreditam, com ações de desenvolvimento social e projetos de arte.
Ada Elisa Sudre, de 29 anos, é enfermeira. Evandro Sudre, de 40, é cineasta. Os dois se conheceram há três anos, quando ele saiu de São Paulo e veio a Campo Grande para um trabalho social. A vida missionária já fazia parte da vida de Evandro na juventude, por influência dos pais.
Ada começou alguns anos depois, quando se converteu ao cristianismo. Depois de se conhecerem e se apaixonarem, foi em abril deste ano que eles disseram 'sim' um para outro. E até a cerimônia teve muito do trabalho como hoje também une os dois.
Nessa caminhada, reafirmaram o sonho em comum de serem missionários. "Entendemos que fomos chamados para fazer algo específico. A gente decidiu viver exclusivamente para fazer missões e podemos utilizar como recursos, nosso talentos e aptidões", explica Ada.
Dizem que trabalham sem pedir nada em troca e reforçam que, independente da fé, todos em missão podem fazer algo de bom, mesmo que as pessoas não tenham a mesma crença. "Estamos muito focados na questão da ação social e queremos também mudar o mundo de alguma forma. Não necessariamente as pessoas precisam acreditar naquilo que a gente acredita", diz.
A história dos dois soa poesia. Um dos projetos desenvolvidos em vários países e regiões carentes do Brasil envolve a fotografia.
Evandro, que ensina comunicação, desenvolvimento de projeto e design gráfico, dá aulas de fotografia, além de captar recursos para que grupo de pessoas tenha uma câmera digna para trabalhar. O segundo passo é levar pessoas a campo para os registros.
O último projeto ocorreu na região de Juazeiro do Norte, no Ceará. Famílias simples foram fotografadas para, no dia seguinte, o grupo entregar as fotos reveladas a elas, como forma de incentivo diante de uma vida muitas vezes dura. "A gente entende que a fotografia meche diretamente com a dignidade das pessoas, sobretudo, em zona de pobreza", explica Evandro.
Ele cita exemplos de situações em que a fotografia muda aspectos dentro de cada ser humano. "Na África, por exemplo, meninas iniciam a vida sexual muito cedo, as vezes aos 8 anos, e é um problema social muito grave. E as vezes essa menina nem sabe que ela é tão bonita", esclarece.
Da mesma maneira, é a questão de núcleo familiar, que também pode ser trabalhado com a simples exposição da imagem das pessoas. "Existem famílias que vivem juntas na mesma casa e não têm um reflexo direto do que elas são. Não conseguem vislumbrar a si mesmos. E o impacto deles recebendo a fotografia é importante para gente mostrar o quão bonita é a família deles, independente das condições de vividas", pontua.
Evandro não sabe precisar quantas vezes dentro deste projeto encontrou mães ou filhas que nunca foram maquiadas e nem passaram um batom. E quando os missionários realizam um trabalho e elas se olham, chega a ser um choque. "A gente sabe que isso pode não ser significativo, no sentido de desenvolvimento social, mas é muito importante. É um trabalho de formiguinha que a gente vai fazendo", ressalta o missionário.
O foco de toda missão é a transformação social e isso coloca em discussão até a maneira como muitas igrejas atualmente trabalham. "Quando a igreja não é um agente de transformação social e ela existe só pela fé, ela meio que perde o sentido existir, perde o próprio sentido", defende Evandro.
A ênfase primordial é direitos humanos, arte e implantação de igrejas. "Tem gente que sai de uma faculdade sem o mínimo de conhecimento de direitos humanos. E ai quando a gente fala de direitos humanos, isso vale para diversas áreas que vão desde dignidade, alfabetização, direito à moradia, educação e o saneamento básico que atualmente é um problema sério no Brasil", avalia Evandro.
Ele já visitou cerca de 28 países em missão. Ada já esteve no Kênia e Estados Unidos, atualmente percorre o Brasil na companhia do marido. "Nessa parte do nosso trabalho, independe de religião, o que a gente quer é conscientizar as pessoas e entregar o minimo de dignidade a elas. Chamar a atenção da sociedade local para que ela se envolva, porque a gente acredita muito nisso".
O incrível de entender a vida missionária é que tira de rota trabalhos somente de assistência, em que nos momentos de caos a sociedade de dedica às doações. Elas até são importantes, mas não podem para por ali, defende o casal.
Em 2010, Evandro esteve no Haiti, 20 dias depois de um terremoto que devastou o país. Retornou dois anos depois. A primeira situação que ele presenciou foi o caos onde ninguém sabia o que fazer. Após dois anos, o país estava parcialmente recuperado, com ruas abertas e departamentos governamentais funcionando. No entanto, milhares de pessoas permaneciam vivendo debaixo de lonas, sem nada reconstruído.
"Eu me lembro que fui para gravar um documentário e quando entrevistei um homem, ele disse que na época todo mundo deu um monte de coisa. Deram tudo na mão do haitiano, mas não ensinaram a reconstruir o próprio país, não ensinaram sobre construção civil, sobre saneamento básico. Então esse é só um dos exemplos do quão devastador pode ser uma missão de apenas entregar benefícios para uma sociedade", esclarece.
Por isso, Ada e Evandro tentam fazer com que as pessoas confiarem mais nelas mesmas e descobram que o resto da sociedade se importa. "A gente gosta de chegar e se sentir como eles. Tanto que a minha opção é de sempre estar morando nesses lugares. Então, se eu vou para as Filipinas e é na favela que eu vou servir, é na favela que eu vou ficar, é na favela que eu vou me alimentar e não apenas por uma questão de laboratório, mas para que eu possa entender a realidade daquele local", garante Evandro.
O vídeo abaixo mostra um trecho do trabalho que já vem acontecendo há anos.