Casal queria poetizar como se conheceu e rimas se encontraram no amor ao ruivo
Esta é uma matéria sobre amor. Sentimento entre duas meninas, que passa pela fotografia e é compartilhado no tom de cabelo. Júlia e Bruna são ruivas desde os 13 e 14 anos e namoradas há 1. A história de como se conheceram, elas sempre quiseram poetizar, dizer que foi dando comida aos pássaros no parque. O tempo e o amor as ensinaram que se conhecer já foi a própria poesia.
Júlia tem 17 anos, é estudante e fotógrafa. No final de 2014 ela havia acabado de sair de um namoro, instalou o Tinder, aplicativo de relacionamentos para tentar seguir a vida. Do outro lado do "match", Bruna, de 19, só pensava em zoar as fotos das candidatas que apareciam.
As duas se gostaram ali. A atração foi imediata pela cor do cabelo. "Acho que ele combina com a minha pele, todo cabelo meio que puxa para um cor, o meu, é o laranja", se explica Bruna Luciana Valle. Da parte de Júlia, a alma já nasceu daquela cor. "O cabelo me descreve bastante, depois que eu conheci a Bruna então, foi uma paixonite mútua pelo ruivo e a descoberta de tons", diz Júlia Palandi Gayoso.
Do Tinder, Júlia adicionou Bruna no Facebook. Partiu para uma rede social onde pudesse conhecer de fato quem era a outra ruiva. "Eu não sabia como conversar, perguntei então onde vendia colar de hippie aqui em Campo Grande", lembra aos risos.
A ingenuidade na hora da conversa não está só na idade, como também no modo transparente que elas resolveram encarar a vida. Assumidas para a família, as duas moram juntas na casa de Júlia, com os pais. Os amigos todos sabem, apoiam e gostam "da duas". Forma carinhosa como elas são chamadas em casa, mesmo que esteja só uma, Júlia ou Bruna ouvem o "duas".
"Tem um texto que eu li esses dias sobre o jeito que um casal se conhecer, que foi no Tinder e a mulher fala que no começo queria inventar um encontro bonito e não no Tinder para depois na vida real. Mas a única coisa que importa é que a gente se conheceu", sustenta Júlia.
E elas teriam se encontrado de qualquer forma. Uma amiga já tinha mandado uma foto e o perfil de Bruna à Júlia, dizendo para ela puxar assunto, porque achava a ruiva a cara dela. Coisa de um ano atrás. "Se a gente não tivesse se conhecido assim, a gente ia se conhecer de outra maneira, temos muita coisa em comum, amigos em comum. Só não a fotografia", descreve Bruna. Esta é exclusiva de Júlia. Descoberta em meio à depressão.
"Se for parar para analisar, eu sempre gostei dessa possibilidade de você tirar uma foto daquela coisa, naquele momento. Eu sempre quis explorar outros ângulos, além da coisa óbvia. A fotografia se intensificou no meu período de depressão e foi o modo pelo qual eu consegui me conectar", descreve.
A namorada completa dizendo que é o jeito pelo qual Júlia consegue se expressar e de modo perfeito. "As pessoas se surpreendem com a idade dela e o dom que ela tem para a fotografia", elogia Bruna.
Em uma semana de conversas pela internet, para elas se encontrarem. "Foi instantâneo, intenso", concordam as duas. "É estranho falar, mas parecia que era uma necessidade conhecer a Bruna pessoalmente", conta Júlia. A inversão de horários da rotina era o primeiro obstáculo delas. Júlia estudava de manhã, Bruna trabalhava a madrugada toda. Quando uma chegava em casa, a outra saía para estudar. E por esse desencontro é que Bruna passou a morar, com uma semana de namoro, na casa de Júlia.
O pedido de namoro surgiu no mesmo tempo, junto das alianças de compromisso. As famílias se juntaram bem, segundo o casal. "A mãe dela tem uma atitude bem engraçada quanto à vida", elogia Júlia e Bruna emenda dizendo que tem uma sogra maravilhosa.
Por telefone, conversamos com Luciana, mãe de Júlia, que não só torce e acolhe as duas, como vê o amor sublime das duas, como uma coisa linda. "As pessoas conhecem meu pai, ele é militar e acham que nossa, vai rosnar...", antes que Júlia termine, Bruna defende: "mas o pai dela é a pessoa mais tranquila do mundo".
Descobrir o amor uma na outra foi rápido, dizem. Os planos de se casarem existem desde sempre e até nome dos filhos elas já têm. "Benjamin e Valentina". "A gente não tem dúvida de que queremos seguir a vida juntas, mas temos o pé no chão. A gente quer economizar, ter a nossa própria casa".
O vermelho dos cabelos e mais a convivência quase que por 24h as deixaram, em parte, como irmãs. "Você pega um pouco das manias da outra pessoa quando fica muito tempo junto. O cabelo, a cor da pele, a única diferença é a altura", enxerga Bruna. Quem as vê andando com a família tem a impressão de que são irmãs, até gêmeas. Elas levam na brincadeira até quando a reação das pessoas é de surpresa, se os pais apresentam a namorada da filha como nora.
Para as fotos das duas, Júlia costuma usar tripé, ou então posicionar os amigos, ajeitar ângulo, escolher a luz perfeita, para então elas posarem juntas e serem clicadas por alguém. O que elas enxergam sobre si quando se veem? O reflexo de um amor real.
"Passa um filme, porque quem nunca pensou, nunca quis um namoro bom, legal e de verdade? Tem muito casal que só posta foto bonitinha...", responde Bruna. "E todo mundo que conhece e convive com a gente sabe da tranquilidade do nosso relacionamento", completa Júlia.
As duas aprendem, dia a dia, uma com a outra. Vão se "moldando", como preferem dizer. "A gente não se completa, se transborda. Eu acredito que cada um é completo do seu jeito e você procura o outro para transbordar", imprime Júlia.
Como saber, tão cedo, tão rápido e tão evidente que é amor? Elas dizem que só um casal sabe quando é de verdade. Mas a rotina de dois longos cabelos ruivos também ensina.
"A Bruna andava de mototáxi todo dia para me ver e você usa o capacete que todo mundo usa. Ela não só pegou piolho, com o também passou para mim", ri Júlia.
"Foi vergonhoso. Mas a gente percebeu que se amava de verdade ali, quando uma começou a tirar os piolhos do cabelo da outra. Passar o pente fino. Isso é amor. É tenso, é horrível e é engraçado ao mesmo tempo", resume Bruna.
Para o amor, elas ensinam que não existe receita pronta. Nem para o sentimento e nem para acertar o tom do cabelo. "Depois de uns dias a gente vê que isso é amor. Cuidar dela doente é amor, ela ir de madrugada para a minha casa é amor", Júlia.
"Amor não é aquela coisa cinematográfica que a gente tem na cabeça, de sufocante. É aquilo que é tranquilo. Que quando ela me abraça, eu estou curada", Bruna.