Casal troca a Espanha por Campo Grande e até costura por amor à Leonalda
Mãe, filho e genro trabalham juntos na produção de bolsas de couro, carteiras, colares e acessórios de crochê.
Entre as linhas e agulhas estão mãe e filho: Leonalda, de 80 anos, e Nodier Gauna Flores, de 50. Enquanto o genro, Marcondes Nogueira, de 35, começa agora pelo mundo da costura e é responsável pelas tesouras e furadores que fazem as pulseiras, alças, correntes e até coleiras para cachorros.
A produção de peças segue por bolsas de couro, carteiras, colares e acessórios de crochê, no negócio em família que é bem recente. Foi o jeito de Nodier recomeçar a vida no Brasil depois que o coração do pai falhou e precisou de cuidados, fazendo com que ele deixasse a Espanha, onde passou os últimos 18 anos trabalhando com números e gestão na área de hotelaria.
Enquanto a conversa flui, as mãos de Leonalda enlaçam a linha de crochê com a agulha e precisão de quem repetiu os mesmos gestos por anos, habilidade que nem a idade, nem o diagnóstico de Parkinson, em 2009, foi capaz de levar. Além dos colares e acessórios, criações originais dela, Nodier também reaproveita as flores e fuxicos feitos pela mãe em aplicações nas bolsas feitas por ele.
O trabalho em equipe não é novidade, mãe e filho dividem a paixão pela costura desde muito cedo. Leonalda perdeu a conta dos anos que passou em frente à máquina de costura, cena comum na memória afetiva da senhora de 80 anos que lida com linhas e agulhas desde a infância. “Meu pai comprava aquelas peças de pano e fazíamos roupas para todo mundo, ficava todo mundo vestido igual”, ri.
Lembranças que também estiveram presentes enquanto Nodier crescia e têm ar de nostalgia enquanto relembram a história, sentados no ateliê um ao lado do outro, ela com a agulha de crochê entre os dedos e ele costurando os cortes de couro. “Tudo o que eu sei eu aprendi com ela, enquanto ela estava sentada na máquina, eu estava apoiado atrás na cadeira observando. Minha mãe fez questão de me ensinar a ser independente, desde pregar um botão até fazer, lavar e passar a camisa. Ela sempre diz que precisava saber de tudo um pouco para nunca passar necessidade e não depender da ajuda de ninguém”.
A família é do interior de Bonito, há 296,9 km de Campo Grande, cidade que Nodier trocou por São Paulo muito antes de ir para a Espanha. Por lá, trabalhou como bartender até começar a produzir acessórios com a ajuda das amigas Dilley Meli Guimarães e Andréa Matsumoto, mas a vontade de conhecer o mundo e viver fora do país acabou falando mais alto e colocando um fim à parceria no ano seguinte.
É aí que Marcondes entra na história, o sonho de aprender outras línguas levou o mineiro criado em São Paulo para um período de três meses na Suíça e por fim a Espanha. Além da experiência da vida na Europa, sair da zona de conforto também trouxe Nodier, um amor que promete durar a vida inteira.
Ele revela nunca ter imaginado morar em Campo Grande, mas quando a conversa surgiu no fim do ano passado com a doença do pai de Nodier, ele não teve dúvidas. “Nesses três meses foi um período em que perdi a minha mãe, foi um infarto fulminante, então a partida dela foi algo que ninguém esperava e quando recebi a notícia, não pude voltar ao Brasil. Chegamos à conclusão de que precisávamos voltar. Eu já sabia que iríamos passar por isso, não é uma questão de largar tudo e vir para cá. É uma decisão que precisamos tomar e estou muito feliz”.
Sobre as coisas que deixaram para trás ao voltar para o Brasil, nem Nodier e nem Marcondes comentam com saudade. Há diferença no estilo de vida, é claro, mas a readaptação não é de longe tão difícil quanto a distância da família.
Hoje Leonalda ainda tenta se adaptar a perda do marido, depois de 51 anos de companheirismo a casa só não parece mais vazia por causa do retorno do filho e do genro. Sobre a relação dos três, ela é a primeira a esclarecer mostrando que em coração de mãe, realmente, sempre cabe mais um. “Vivemos todos muito bem, ganhei mais um filho que cuida muito bem de mim e ainda cozinha! Fez até um bolo para esperar vocês”.
Por aqui o plano é continuar donos do próprio negócio, investir no ateliê e encontrar um espaço físico para receber os clientes e montar uma linha personalizada. “Pensamos em um espaço em que as pessoas vão poder olhar o material e os modelos e escolher o que elas querem”, revela Marcondes, que ao entrar para a família também aprendeu uma nova profissão.
Atualmente a “LM & N Confeccion” trabalha com produtos em couro bovino nos mais diversos acabamentos e couros, simulando desde crocodilo a píton e até animal-print que vai do clássico ao cor-de-rosa e vermelho. Nodier explica que o material foi escolhido pela qualidade. “Queríamos oferecer um produto que além de bonito, fosse durável. É uma peça que a pessoa vai ter por muitos anos”.
São bolsas, carteiras, pulseiras, braceletes e colares que misturam texturas e cores para criar um padrão próprio, tudo com preços que variam de R$ 10 até R$ 280, dependendo do modelo. Buscando sempre tendências pela internet, a aposta do trio são as coleiras para pet, que ganham cores, estampas animal-print e fechos com muito brilho para os bichinhos também andarem na moda.
Acompanhe o trabalho de Leonalda, Nodier e Marcondes pelo Instagram @lm_e_n.confeccion clicando aqui.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram.
Confira a galeria de imagens: