ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 22º

Comportamento

Com bilhete só de ida, embarquei sem saber itinerário, apenas estação final

Jéssica Benitez | 23/02/2023 07:05


"Naquela loucura de sentimentos entendi que a cada estação serei outra e destes trilhos, agora como eterna viajante neste mundo materno, jamais sairei."
"Naquela loucura de sentimentos entendi que a cada estação serei outra e destes trilhos, agora como eterna viajante neste mundo materno, jamais sairei."

Cheguei esbaforida à estação. Não sabia muito bem para qual plataforma seguir, nem mesmo qual seria o destino final. Na passagem também não estava nada especificado, tampouco qual seria o itinerário. Peguei a bagagem, que certamente chegaria mais pesada após o trajeto que, por sinal, não tinha volta, e caminhei até a fila mais próxima.

Aguardei sozinha por alguns minutos, quando a ansiedade ia começar a bater, o trem chegou. Unhas roídas, pés inchados e o peso do mundo em minhas costas. Eu, que amo viajar, só conseguia sentir medo. Talvez porque sabia que não se tratava de meras férias, depois que aquele trem partisse, nada mais seria como antes.

Entrei e me acomodei perto da janela para admirar o desconhecido caminho. De início foi um pouco desesperador, pois passei por lugares jamais visitados. Aos poucos fui conseguindo contornar a situação, sentindo cada uma daquelas cenas se gravar em mim.

A viagem era longa e já sabia que teria de ter paciência e principalmente resiliência. As horas se passaram, quase não sabia mais aonde estava. Parecia que andávamos em círculos. Esmoreci, pensei em entregar os pontos ao achar que não conseguiria finalizar o caminho. Estava tudo embaralhado, confuso. Parecia que o GPS havia quebrado. Estudei tanto como me situar e mesmo assim só sentia desnorteio.

Quando, de repente, os trilhos ficaram mais leves. As cenas por detrás das janelas não corriam tanto. Vi uma luz bem forte chegando. Era a estação final. Meu Deus que medo. Não tinha mais volta, precisava descer. Me preparei e juntei o restante das forças que tinha para desembarcar. Quando me levantei senti um peso a mais comigo. Olhei para baixo e nos meus braços estava o motivo de tudo aquilo. Pequenino, quentinho e com um chorinho tão característico.

Quase não acreditei, mas enfim tinha chegado à estação "Mãe". Aquele destino tão lindo, selvagem e desconhecido que levou 40 semanas para enfim se fazer real. Aquela que embarcou ficou pelo caminho, não se despediu. Tudo era novo, inclusive eu. Naquela loucura de sentimentos entendi que a cada estação serei outra e destes trilhos, agora como eterna viajante neste mundo materno, jamais sairei.

Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Nos siga no Google Notícias