Com frutos do Cerrado, alunos criam sabonete, shampoo e hidratante
Projeto científico que une sustentabilidade e cosmetologia resultou em linha completa de autocuidado
A iniciativa científica com viés sustentável começou em outubro de 2022. O primeiro passo foi dado pela professora que submeteu o projeto ao edital do PIC TEC (Programa de Iniciação Científica e Tecnológica do Estado de Mato Grosso do Sul). Através da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul).
Daniely Ferreira comenta que desde a graduação sente interesse pela área que agora explora ao lado dos alunos Daniel Vitoriano Santos, Nathalia Morais Barboza, Laíssa Borges Nunes e Gabriela da Gama, todos de 17 anos.
“Eu queria muito trabalhar com cosméticos na época da graduação, mas nunca tive oportunidade e tem poucas indústrias em Mato Grosso do Sul. É uma oportunidade de começar um projeto com foco em cosméticos naturais sem nada de petrolato, óleo mineral e derivados do petróleo”, explica.
Antes dos cosméticos da linha facial e capilar ocuparem as bancadas do laboratório do colégio, os alunos e a coordenadora do projeto vivenciaram meses de pesquisa teórica. Além de investir no conhecimento dos estudantes, a professora investiu o valor da bolsa científica na aquisição de equipamentos e insumos.
A professora de Química pontua que as matérias-primas naturais têm certificação de uma empresa referência em rotulagem orgânica e ecológica. “Investi em matérias-primas de qualidade, todas de produtos naturais e certificadas pela Ecocert. Todas as matérias-primas que usamos não são testadas em animais. Então, toda nossa produção é pensada na sustentabilidade”, destaca.
A economia de água é um dos pilares da pesquisa, por isso, a maioria dos produtos elaborados tem como principal característica a solidez. A coordenadora do projeto esclarece de que forma é feito o consumo consciente desse recurso natural.
“A gente vem produzindo esses cosméticos sólidos utilizando a ideia waterless de pouca água. A gente sabe que a indústria de cosméticos tem um consumo de água significativo. Esses produtos sólidos são focados em trabalhar com a parte ativa das matérias-primas e diminuindo a quantidade de água”, pontua.
Para dar conta de pesquisar, produzir e testar os cosméticos, os jovens pesquisadores se dividem em duplas. A primeira é formada por Daniel e Gabriela, responsáveis pela linha capilar. A segunda por Natália e Laíssa que cuidam da linha facial.
Cursando o último ano do Ensino Médio, Daniel afirma que é a primeira vez que tem contato com a pesquisa científica por meio do projeto de cosmetologia.
“A gente vê que alunos de escola pública muitas vezes não têm oportunidade de ter uma experiência científica, então termos essa experiência é muito interessante. Começamos a ter experiência com o método científico, a pesquisa e tudo é muito gratificante”, fala.
A princípio, ele acreditava que a elaboração de produtos naturais não seria um desafio, porém, mudou de perspectiva durante os estudos. “A gente achou que seria algo simbólico e muito simples, mas vimos que é algo complexo. Começamos a estudar cada formulação porque cada produto tem três artigos que fazemos. Temos que avaliar e entender o que funciona, o que deu errado, qual a eficiência. Fazemos testes de qualidade também”, esclarece.
Linha completa - No laboratório, os estudantes dispõem de uma linha completa de autocuidado. Outro diferencial é que na composição dos itens são usados frutos do Cerrado e da Amazônia.
Alguns dos resultados dessa junção são: balm labial de manga, balm labial de manteiga de karité, sérum de cumaru, tônico capilar antiqueda de alecrim, shampoo de laranja e hibisco, máscara hidratante de argan com aloe vera. O interessante é que parte da linha é desenvolvida pensando nas pessoas com cabelo e pele oleosa ou seca.
Nathália Morais detalha outras das criações do grupo de pesquisa. “É uma manteiga corporal que funciona como hidratante, é uma manteiga de Karité. Começamos com as propostas do waterless e fizemos esse batom que é sólido e estamos fazendo o sabonete sólido também. O balm é de manga por causa da manteiga de manga que usamos. O sabonete em pó foi feito com surfactante para limpar a pele e a essência é de lavanda e patchouli”, fala.
O aprendizado do grupo escapa do laboratório para o cotidiano dos alunos que ganharam outra visão sobre o mercado cosmetológico. Laíssa conta que hoje em dia presta atenção nos componentes que formam os cosméticos. “A gente vai no mercado comprar shampoo e fica lendo o rótulo agora”, afirma. “Quando a gente aprende a usar sem, a gente começa a perceber o que as coisas tem e o quanto elas fazem mal pra gente e pro meio ambiente”, completa Nathalia.
Por enquanto, os alunos seguem investindo nas pesquisas, estudos de cosmetologia e espalhando o conhecimento que adquiriram nos últimos meses com a comunidade. Quem quiser conhecer o projeto da Escola Estadual Teotônio Vilela, o perfil no Instagram é @curie.biocosmeticos
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