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Comportamento

Com meia tonelada sobre a bike, Renê sua a camisa pelo diploma de Odonto

Paulistano garante que já não se trata de um sonho, mas de um objetivo de vida

Danielle Valentim | 14/10/2019 06:20
Renê em frente a policlínica da Faculdade de Odontologia da Uniderp. (Foto: Arquivo Pessoal)
Renê em frente a policlínica da Faculdade de Odontologia da Uniderp. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nascido e criado em Ermelino Matarazzo, zona Leste de São Paulo, Renedilson Menezes Montavão está há seis anos em Campo Grande e nunca esteve tão perto de atingir uma meta. Aos 44 anos, Renê ou Billie Joe, como é chamado pelos amigos, chegou ao décimo semestre de Odontologia, mas antes dessa conquista ralou muito e ainda deixa a camisa suada pedalando com meia tonelada de gelo e cerveja para se manter na cidade.

O acadêmico busca seu lugar “ao sol”, mas garante que sente saudade do clima da “cidade da garoa”. Brincadeiras à parte, Renê jura que se sente abraçado por Campo Grande, principalmente, pelos amigos que fez nos últimos anos de graduação. “Agradeço a galera que eu fiz amizade. Eu sinto que fui acolhido. Meus amigos da faculdade já me chamam de “Paulistano” ou “Billie Joe”, conta.

Renê mergulhou numa aventura em Campo Grande, porque uma irmã já morava aqui. As coisas não saíram como planejado e ela voltou para São Paulo.

“Ela tinha investido em um negócio por aqui. Não deu certo. Ela voltou e eu fiquei. Comecei a trabalhar e não demorou muito para perceber que não dava mais para escapar: precisava de uma formação. Consegui o financiamento para a graduação e neste ano irei concluir o décimo semestre”, conta.

Renê próximo a cidade do Natal. (Foto: Arquivo Pessoal)
Renê próximo a cidade do Natal. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na Avenida Fernando Correia da Costa. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na Avenida Fernando Correia da Costa. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas nem tudo foi tão simples. O curso de Odontologia é integral e morando de aluguel, Renê precisava sobreviver. A saída foi encarar a rua e começar a vender bebidas em eventos, feiras e portas de shows. O método de venda continua o mesmo, caso o estoque acabe tem de correr no mercado mais próximo.

As vendas iniciaram entre os antigos bares Resista e Holandês Voador, que hoje estão fechados. Na mesma época, aconteceu a “explosão” do cordão da Valu, outro ponto onde Renê aproveitou para vender.

“Eu vi que teria de buscar o recurso em eventos. Ali na Esplanada, um morador chamado Joaquim, ex-funcionário da Noroeste, soube que eu não era daqui, que estava estudando e me cedeu a garagem da casa dele para eu vender minhas cervejas. Ele me deu a chave da casa. Eu lembro que o cordão já tinha tido outras edições, mas foi a primeira vez que explodiu”, lembra Renê.

Depois dos bares e Esplanada Ferroviária, Renê vendeu e ainda vende em eventos da Morada dos Baís. Atualmente recebe até convites para estar presente em eventos como o Sarobá.

Na Fábio Zahran. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na Fábio Zahran. (Foto: Arquivo Pessoal)

Logo no início das vendas, a galera pensava que o acadêmico tinha um carro e a pergunta mais ouvida era: Como você consegue trazer a bike?

“A bicicleta adaptada para aguentar tanto peso foi encomendada de São Paulo, à época, um investimento de R$ 3.000,00, um valor alto para mim. Hoje minha fonte de renda é sobre uma bicicleta. Mas a bike é intencional também, é ecologicamente correta e também me ajuda com uma atividade física”, pontua.

Os isopores são empilhados como um sanduíche. Primeiro um de gelo, outro de cerveja e por cima mais gelo. As quantidades variam, mas quando o evento, o peso facilmente bate os 500 quilos.

“Cada caixa pesa 280 quilos e sempre faço esse percurso para a Feira da Bolívia. Antes eu vinha da Vila Carvalho agora me mudei venho do Centro, ali da Marechal Rondon”, conta.

Renê se aproxima do fim do curso e atua, frequentemente, na policlínica da faculdade. Dessa forma, busca outras conduções para chegar a Universidade, já que não dá para chegar suado.

“Temos que nos apresentar de forma adequada. Já estou numa etapa que exige um profissionalismo e posição diante da sociedade”, pontua.

Renedllson durante atendimento. (Foto: Arquivo Pessoal)
Renedllson durante atendimento. (Foto: Arquivo Pessoal)
Renê e paciente em tratamento dentário. (Foto: Arquivo Pessoal)
Renê e paciente em tratamento dentário. (Foto: Arquivo Pessoal)

Planos –Rene não pretende parar de se estudar, afinal, a competitividade do mercado de trabalho exige o melhor. “Agora na reta final a intenção é colocar em prática a minha formação. Me identifico com a odontologia hospitalar”, explica.

O acadêmico não é casado, mas deixou dois filhos em São Paulo, o Lucas, 23, e a Letícia, 22 anos. Os dois moram com a mãe em Praia Grande, litoral paulista. Os pais de Renedilson, dona Maria Angelina e José Lisboa, têm nove filhos. “Eu sou o caçula dos cinco homens”, frisa.

“Eu sou migrante que não vim atrás de sonhos, eu tenho um foco, que é o de alcançar objetivos e dar exemplo de caráter e honestidade, que sempre estiveram presentes em minha vida”, finaliza.

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Renê na Praça da Bolívia, neste domingo. (Foto: Paulo Francis)
Renê na Praça da Bolívia, neste domingo. (Foto: Paulo Francis)
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