Com quase 40 anos de trabalho, Mariedna já fez ultrassom na cidade inteira
De nascimento, ela é baiana. Mas de sotaque e coração? Sul-mato-grossense. Mariedna Queiroz Sobreira tem 63 anos de vida e 37 deles dedicados à mesma atividade: fazer ultrassom. A médica já fez o exame na cidade inteira e acumula fama de acertar em cheio o sexo do bebê. Pioneira no Estado, Mariedna é autodidata, aprendeu na prática num aparelho que nem sequer dava para ouvir o coração.
O Lado B tinha uma curiosidade imensa de saber se a emoção continua depois de quase quatro décadas portando boas e às vezes más notícias. Mariedna ainda chora e também curte cada exame. Formada em Medicina na Federal daqui, foi no último ano de faculdade que a ultrassom lhe foi apresentada.
"Eu fazia ginecologia e obstetrícia, foi no final de 78, um professor meu, Nei Lacerda me convidou para trabalhar num aparelho que a maternidade tinha, era uma novidade que havia chegado. E eu me joguei de cabeça, não só de cabeça, de coração também", conta sorridente.
O primeiro aparelho era um Toshiba sem muitos recursos, onde não se conseguia ouvir o coração e também não era possível parar a imagem para fazer as medidas. "Fui a pioneira mesmo, comecei em dezembro e o Fauzi Adri em janeiro, senão me engano", detalha.
A paixão por bebês a fez - durante os primeiros três anos de formada - se dividir entre a ginecologia e obstetrícia e a ultrassom, mas passado esse período, resolveu se dedicar de vez às imagens na televisão. Coisa que faz até hoje, todos os dias, das 7h30 até o último paciente, que somados dá em média 45 ultrassons por dia.
"É muito bonito, emocionante. Muito gostoso quando eu vejo um bebê na barriga e mais ainda quando chega um daqueles marmanjos e fala: 'doutora, a senhora me viu na barriga da minha mãe'. Eu estou vendo um neto ali já", brinca a médica.
Foram quatro ou cinco anos para que o aparelho Toshiba fosse deixado de escanteio e Mariedna enfim pudesse ouvir o coração. Desde então, a tecnologia evoluiu de um tanto que é possível gravar o exame em pen drive.
A emoção na sala não fica restrita à mãe. A médica também vive um sentimento que define como gratificante. "Falar para um grávida que é menino ou menina. Toda grávida quer saber, ela chega aqui e fala eu vim ver o sexo, mas às vezes nessa idade ainda não dá. Só mesmo acima dos três meses", explica.
Sobre os acertos, ela admite a fama, mas fala que faz o possível. "Lógico que a gente não acerta tudo, porque somos humanos e passíveis de errar. Mas o segredo é você fazer tudo com muito amor. Isso é importante em qualquer profissão, amar o que faz".
Dentre as pacientes, é claro que tem gente "famosa" que se deita ali, só que na maioria das vezes, passa despercebido pela médica. "Quando sai é que alguém fala, é fulana, mulher do fulano. Mas como a única TV que eu vejo é essa aqui, eu nunca sei", brinca.
O dia a dia lhe ensinou que as notícias podem ser tristes, como dizer que o bebê tem alguma má formação ou ainda anunciar aquela mãe que veio para saber o sexo que o neném já não está mais vivo. "Eu choro com as minhas pacientes". Mas a médica também sorri. "Esses dias chegou um pai e uma mãe, e eu falei: 'você está deitada, o pai sentado, então vou dar a notícia de supetão: são gêmeos".
Acompanhamos uma ultrassom e vimos a sensibilidade com que Mariedna explica à futura mamãe que ali está o corpinho, o coração e as mãozinhas. Mas é o som das batidas que fascina e talvez seja este o motivo de ela ter escolhido ficar atrás da televisão.
"Não é fácil traduzir essa imagem, é difícil, principalmente no comecinho da gravidez. Às vezes demoro uns 30 minutos para descobrir o sexo. Eles também brincam com a gente", diz.