Com tanto folião por aqui, não é hora de Campo Grande ter bloco de manhã?
Consolidado o Carnaval já está, e que tal se Campo Grande aderir, igual a outras grandes capitais, aos blocos de rua pela manhã?
Você coloca nas notícias na manhã de Carnaval e me parece que o País inteiro já está no clima enquanto por aqui o glitter só entra em cena depois da metade da tarde. Nas grandes capitais, São Paulo, Rio, Recife, Belo Horizonte, e também em Olinda, os blocos de rua começam de manhã, fora os da madrugada. Depois de levar tanta gente para a Esplanada Ferroviária, já não é hora de Campo Grande também se abrir para os blocos diurnos?
Folião que é folião não se importa muito com a temperatura e é capaz de ir para a folia até vestido de "banhista" com direito à toca no cabelo para o caso de chuva, então por que não aproveitar o céu, o sol e a alegria desde cedo?
Na despedida do Carnaval, na tarde dessa terça-feira, o Lado B resolveu começar uma campanha e o que não faltou foi apoio da galera. Preparadíssimo para o último dia de bloquinho, o barbeiro Beto de Almeida, de 45 anos, compareceu à Esplanada todos os dias. Nessa terça-feira (25), ele estava "munido" do check-list do que não pode faltar, segundo os foliões, no Carnaval. "Não dormir, não abandonar os parças, não se apaixonar, não ligar para ex"...
"Eu estava comentando isso hoje, que a gente precisa fazer esse bloco. A gente que acorda cedo, não enche a cara, precisa e quer aproveitar desde cedo. Pode fazer que eu participo", aderiu. Na fala, as imagens vistas das outras capitais vêm a memória não só dele como dos amigos Samuel Corrêa, de 39 anos e Djalma Barbosa, de 47. "Nove horas da manhã já tem gente no trio elétrico, na maior alegria", comenta um dos foliões. O outro embarca "E aqui tem público e espaço para isso, e esse pessoal que bagunça a noite inteira e que faz vandalismo já está tudo dormindo, não virá atrapalhar", completa.
No fim, até o telefone Beto nos deixou para que a gente combine de pular junto ano que vem. "Aí começa de manhã, fica o dia inteiro para a gente aproveitar mais. Marca o meu contato aí".
Na área da Pedagogia, o primeiro pensamento que veio às folionas Débora Maves e Bárbara Rodrigues foram como as crianças estariam melhor inseridas. No entanto, para os grandinhos, bloco de rua de manhã também é boa ideia. "É até um jeito de expandir o Carnaval. Se você vem de manhã, não fica tão bagunçado, é menos perigoso, mas para isso acontecer a gente tem que ter um diálogo sobre a vulgarização do Carnaval, porque muita gente fala da baderna, mas temos que mostrar e fazer as pessoas entenderem que isso aqui é cultura, é o nosso Brasil. O povo tem mania de endeusar as coisas de fora, nunca as nossas e nós perdemos com isso", defende Débora, de 22 anos.
A professora também coloca um ponto crítico em cima do que se tem falado incansavelmente: bebida para menores. "Vai ter baderna? Vai. Vai ter adolescente bebendo? Vai, porque não tem educação, não tem nenhum política pública para isso", alerta. Bárbara ainda é estudante e como veio de São Paulo, traz consigo a experiência mais do que aprovada. "Eu já estou acostumada, lá eu ia de manhã e ficava até a noite. É super organizado, o pessoal tem que curtir mais", convida.
E se tem uma pessoa que sabe tanto da história do Estado quanto dos Carnavais de Campo Grande, essa figura é o fotógrafo Roberto Higa. Colecionador ambulante das memórias políticas e históricas de Mato Grosso do Sul. "É tudo uma questão de organização, você organiza e a coisa sai". Higa usa como exemplo o bloco das Depravadas, que há anos acontece no Bar do Zé, no Centro, reunindo uma semana antes a galera da imprensa que está quase sempre cobrindo o Carnaval. "As Depravadas de hoje são bem melhores porque arranjamos um pessoal que organiza, que não depende de poder público. Porque nós temos potencial para isso, então por que não usar?" se pergunta.
A tia do espetinho a R$ 5,00 já comprou a ideia pensando em quanto poderia vender se a folia fosse o dia todo. "Ah, seria bom, não é? Galera ia comer mais com certeza", disse animada Ângela Maria, de 48 anos.
Psicóloga, Adriane Lobo é do time das que já estão na rua quando o bloco passar, não importa a hora. Neste Carnaval, ela esteve em um bloco que começou às 9h, justamente porque os participantes, muitos vindo de Recife, querem manter a tradição pernambucana. "Pelo amor de Deus, eu falei isso agora, tem que ter", clama.
Diretora do bloco Capivara Blasé, Angela Montealvão, é uma das que compra a ideia, mas explica que é preciso união de muita gente para desburocratizar o Carnaval. "Eu acho que tem que ter bloco de manhã, de madrugada, Campo Grande já provou que ama Carnaval de rua e não tem mais volta", assegura.
No entanto, ela destaca que a burocracia é o grande empecilho. "Até dois anos atrás tínhamos mais blocos saindo do que temos hoje. Depende muito da desburocratização para a saída de blocos. Precisamos unir forças com produtores independentes, público e políticas públicas fixas, para que não fique alternado entre uma pessoa e outra. Desburocratizando, voltam os blocos que Campo Grande já teve e surgem muito mais".