Com tornozeleira eletrônica, Paulo segue vendendo cuecas e meias na Afonso Pena
Sem medo de julgamentos, ele ficou famoso graças ao acessório e exibe a liberdade vigiada, ao contrário de muito preso por corrupção.
Na região do Camelódromo, Paulo virou personagem por exibir um acessório bem famoso no Brasil atual: uma tornozeleira eletrônica. Na mesma perna em que o amor aos ícones do programa Chaves fica estampado em tatuagens, ele carrega as consequências de um crime que jura não ter cometido.
Mesmo com o aparelho ligado 24 horas há 2 meses, desde que saiu da prisão, Paulo Eduardo Mendes, de 35 anos, continua como vendedor ambulante no calçadão. Sem vergonha nenhuma, ele exibe a tornozeleira usando bermuda e diz não se importar com os olhares.
“Muita gente me aborda aqui. Tem gente que julga, tem gente que só fica olhando de longe, tem gente que fica curioso e vem conversar, é assim minha rotina aqui desde que saí da prisão”, conta ele.
Simpático, mas desconfiado e alerta a todo o tempo, Paulo ainda tem mais 4 meses pela frente com o aparelho. Mas a tornozeleira foi um privilégio da Justiça, depois de ficar preso por 1 ano e 4 meses, denunciado por “vender um medicamento”, como diz.
“Todo mundo estava me dizendo que a polícia estava atrás de mim. Fui ver minha situação né? Fui enquadrado em tráfico de drogas coisa que não tem nada a ver”, diz ele, afirmando ser inocente do comércio de abortivos em Campo Grande.
O jeitinho no comércio, no qual está como ambulante desde os 18 anos, faz com que muita gente passe por ele sem nem notar a tornozeleira. Em alto e bom tom, ele anuncia as meias e cuecas que vende na “lojinha ambulante”.
Sem precisar de muito, em cinco minutos de conversa consegue negócio com duas pessoas. O curioso é que Paulo continua vendendo os produtos de sua lojinha no mesmo local onde foi preso, na Avenida Afonso Pena.
Ele reclama que pode ter perdido dois anos da vida com todo esse processo judicial, já que até hoje está “sem condenação”. “Fui preso sem condenação e estou com essa tornozeleira mesmo assim”.
Das curiosidades que é viver com o aparelho grudado na perna, ele explica que nunca foi barrado em porta eletrônica porque só anda "com dinheiro vivo". Quando surge o questionamento sobre o acessório, a maioria das pessoas acha que ele foi preso pela Lei Maria da Penha, mas nunca ninguém o confundiu com político, apesar da tornozeleira ser bem famosa pela corrupção.
“Essa daqui tem o sistema livre, quer dizer que eu posso ir pra qualquer lugar com ela na minha canela. Mas se eu retirá-la por qualquer motivo sou considerado um fugitivo. Eu tomo banho com ela, entro na piscina, é a prova d’água”, detalha.
O aparelhinho apita quando está descarregando e quando a Justiça precisa encontrá-lo. Até mesmo para carregar a tornozeleira, Paulo é obrigado a conectá-la a um cabo de cerca de 3 metros à energia e esperar até completar a bateria.
Mudado desde a experiência na prisão, ele diz que aprendeu muito lá dentro e que “espera nunca mais ter que voltar”. “Hoje eu vivo uma liberdade vigiada”, finaliza.