Coronavírus adia visita à amiga que caderno trouxe 50 anos depois
Caderno de recordações de 1969 fez Maria Antônia buscar os amigos que assinavam dedicatória nas redes sociais
Depois de décadas guardado entre lembranças como um lacinho, uma folha de planta dentro de um livro ou um papel de bala, o caderno de recordações trouxe à tona um passado de 50 anos atrás diante dos olhos de Maria Antônia Lima, hoje com 65 anos.
Nas páginas, recados de amigos que compartilharam a mesma rotina difícil de Maria em 1969, na cidade de Marília, no interior de São Paulo. Estudante do "noturno", ela trabalhava o dia todo e estudava só depois que o sol se punha. No último ano do ginásio, o que corresponderia hoje ao nono ano do Ensino Fundamental, os amigos trocaram mensagens de recordação. Cada página trazia uma dedicatória. "Guarde de mim esta lembrança que terei de ti uma eterna recordação". "A você querida amiga, dedico esses versos meus. Levarei sempre comigo a sua grande amizade..."
Nascida em Nova Granada, região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, Maria Antônia estudou em Marília, cidade onde as dedicatórias foram escritas, e há 42 anos se mudou para Campo Grande, trazendo consigo na bagagem as recordações.
"Um dia eu me lembrei dele e comecei a folhear... Ver cada dedicatória dessas. Muitos eu já não lembro quem são as pessoas", conta a aposentada. Ativa nas redes sociais, dona Maria Antônia resolveu procurar aqueles amigos no Facebook. Encontrou dois, a melhor amiga da época e vizinha de muro, Carmen Aparecida e um outro que veio a falecer logo depois.
"Eu fiquei procurando muito tempo, mas não encontrava. Porque não lembrava se o nome dela era com M ou N, aí procurei pelo sobrenome, encontrei a irmã dela, e através dos amigos, mandei mensagem para ela", relata.
A saga levou dias, porque a amiga de quem Maria Antônia fala, não é das mais atentas às redes sociais. "Voltei nos amigos dela e fui olhando se eu encontrava alguém, e achei o mesmo nome do namorado dela na época. Pedi solicitação de amizade, ele aceitou. Começamos a conversar e ele me passou o celular dela", lembra.
Foram mais dois dias até que houvesse resposta do outro lado. "Aí eu falei para ela: vou te visitar, mas acho que ela não acreditou muito. Combinei, comprei passagem e peguei o avião aqui", conta.
A visita aconteceu dois anos atrás, elas se encontraram no aeroporto de Guarulhos, e passaram uma semana juntas batendo papo. "Trocando ideias, relembrando o passado, chorando as perdas que nós tivemos de pai, de mãe", descreve.
Na volta, dona Maria Antônia se animou em procurar os outros amigos do caderno, e assim reviver um passado de cinco décadas atrás. "Encontrei um rapaz, rapaz? Já é um velhinho, mandei mensagem, tirei foto do caderno, adicionei, mas de repente veio a notícia de que ele faleceu", lamenta.
Ao fim das festas de 2019, ela e a amiga Carmen tinham combinado de estarem juntas em Marília de novo para fazer a busca, até de porta em porta, e quem sabe realizar um encontro dos 50 anos da turma. No entanto, a viagem não deu certo e em seguida a pandemia levou todo mundo a fazer o isolamento. "Eu queria muito ter encontrado o pessoal, fazia 50 anos desse caderno, 50 anos que terminamos o ginásio, que naquela época era tipo uma formatura".
Perguntada por quê guardou o caderno, dona Maria Antônia volta no tempo de estudante... "Representa uma época boa, todos nós jovens, tínhamos problemas em casa, era difícil, se ganhava pouco, mas éramos felizes", encerra.
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