Crianças emocionam ao torcer por colega que andou sozinho pela 1ª vez aos 6 anos
Sala de aula para quando Davi, aluno com paralisia, anda sozinho pela primeira vez e crianças gritam em coro: vai Davi
"Vai Davi, vai Davi!"
Em 40 segundos, alunos da escola municipal Vanderlei Rosa de Oliveira, no bairro Novos Estados, em Campo Grande, emocionam ao vibrar pelo coleguinha que deu os primeiros passos sozinho aos 6 anos, na sala de aula. Davi nasceu com paralisia cerebral, usa cadeira de rodas, não anda sem se segurar e nessa terça-feira (22), levantou e foi até o quadro.
Quando as crianças viram, o caminho se abriu. Mesas e cadeiras foram para o lado e a professora começou a gravar. Apoiando bem pouco, Davi sorri, feliz da vida, vai até a lousa e termina a caminhada num abraço na professora Josi. Uma ida e volta digna de registro, não só pelos passinhos, como também por toda emoção que os colegas passam. "Vai Davi, vai Davi".
Davi estuda o 2° ano em uma sala de 26 crianças. Está há dois anos na escola, para onde vai de cadeira de rodas com a irmã mais velha, Júlia, todos os dias. O penúltimo de quatro filhos, o menino abre o sorriso com uma janelinha de cativar qualquer um. A maior felicidade dele hoje é falar dos passos na sala de aula.
E por que havia toda aquela torcida na sala? Davi ri e diz: "porque eu andei sem segurar". O motivo de andar "segurando", ele não sabe explicar certinho. "Eu não sei, é porque eu não consigo. Mas eu não fui na cadeira, fui andando igual a minha mãe", descreve.
O vídeo chegou na tarde de quarta-feira para a mãe, pelo WhatsApp e fez Rose desmoronar em lágrimas. "A hora que eu vi, danei a chorar. Ainda mais vendo as crianças", conta a manicure Rosirlei Matos, de 46 anos.
"E eu fiquei só um tiquinho feliz", emenda Davi. Os olhinhos brilham ao dizer que ele foi até o quadro e voltou, por saber das limitações que a paralisia infantil lhe trouxe.
Davi nasceu prematuro, de 7 meses e passou dois no hospital para ganhar peso. Quando estava próximo de completar 1 ano, a mãe percebeu que havia algo errado, porque quando colocava o filho no chão, Davi só chorava. "Parecia que estava apanhando. Levei ele no pediatra e depois na neuro que explicou tudo. Ele ia ter dificuldade para andar e ia demorar. Aí comecei a correr atrás de tudo", narra.
Ao longo dos anos, foram procedimentos acompanhados pela Pestalozzi e cirurgia para abrir as perninhas e "baixar" o tendão. "Ele tinha o pé de bailarina, ficava nas pontas o tempo todo", explica a mãe. Foram também várias injeções que Davi tomou que faziam Rose chorar.
O maior medo da família era de que houvesse alguma consequência que pudesse comprometer fala ou desenvolvimento, mas Davi só tem mesmo a dificuldade de andar.
Na sala de aula, a professora que o acompanha este ano perguntou à mãe se podia tirar o menino da cadeira de rodas, o colocá-lo mais no chão. "Ela ficou com medo de eu achar ruim ele voltando sujo, sabe. E eu não, não, pode colocar", conta Rose.
O vídeo está correndo o Facebook a pedido de mãe. Júlia, a irmã que estuda na mesma escola também só sente emoção pela cena. "Todo mundo ficou surpreso, tiraram as mesas para dar espaço e ele começar a andar". Com a voz embargada e ao mesmo tempo orgulhosa, Rose agradece a reação das crianças. "Você vê? Eles mal conhecem o meu filho e olha o que fizeram? Tem essa força de vontade de vê-lo andando", enxerga.
Em casa, Davi costuma andar se apoiando nas paredes e também na mãe, pai ou nos irmãos, mas depois de registrado os passos na escola, Rose já vê o esforço que o filho faz para andar sozinho. O menino repete para si o que ouviu dos colegas a cada passinho 'vai Davi, vai Davi. "Antes ele tinha medo, agora que começou a desenvolver, se soltar, querer andar. Eu sabia que ele ia andar e é tudo pra mim ver isso, é a alegria de uma luta desde os 2 anos dele", completa Rose.
Davi viu não só o vídeo, como a repercussão no Facebook. A mãe pediu que Júlia lesse todos os comentários da postagem para ele, que ficou ainda mais feliz. O que as crianças, sem perceber, fizeram por Davi vai levá-lo a andar muito mais longe e quem sabe, até correr.