Da escola para casa, professora leva e guarda cartinhas dos alunos há 30 anos
Feliz aniversário, Páscoa, Dia do Professor, Natal, fim de ano. O carinho vinha em datas comemorativas ou ao acaso, quando o afeto encontrava lápis e papel pela frente. Claudinéa Amorim Barbosa é professora e diretora da escola "O Quintal" há mais de 30 anos. Para muitos dos alunos ela era a tia Claudinéa.
No Dia do Professor deste ano, ela entregou a uma mãe de aluno a cartinha que encontrou escrita para ela, bons anos atrás. Assim como o afeto é escrito, também é guardado. Claudinéa não joga nenhum bilhete, desenho ou recado fora. Por dó, por respeito e por amor.
Daquela escola são mais de 30 anos, de profissão, 40 e de idade: 68. Ela fala que não costuma revelar a idade e que o segredo está ali dentro. "Trabalhar com criança e para a criança, fazer coisas de criança", atribui. Na mesa, estão várias cartinhas espalhadas, as que ela trouxe foram as da década de 90, mas têm outras mais antigas e também mais atuais.
"E eu fico emocionada quando eu olho... É professora, dona Claudinéa, mas na maioria 'tia'". E por segundos a professora viaja no tempo, como quem recorda o tamanho das mãozinhas que desenharam aquelas letras.
"Esse aqui hoje deve estar com 30 e poucos anos... Mariana Rubini! Nossa, hoje essa menina é advogada, está senão me engano, na segunda fase para um bom concurso, o Atilla, nesse cartãozinho, hoje é jornalista, apresentador de TV. O José David, nossa, desse menino nunca mais ouvi falar... Como será que ele está? Não deve morar aqui...
"Antônio Kurt e olha o que ele escreveu: 'a senhora sabe administrar muito bem a escola'. Letícia, acho que ela tem uma loja hoje, Juliana e Tatiana Barbosa, olha de 1996 desejando Feliz Páscoa... E o Kadu, assinava Kadu, mas colocava o nome todo: Carlos Eduardo Kohl de Arruda..."
Se deixássemos ela voltaria no tempo por mais tempo e ali ficaria. Algumas das cartinhas não têm a data, mas Claudinéa calcula pelo nome, série e a idade do papel amarelado, de que ano seria.
O conteúdo? Além da letra tão inocente, declarações de amor, de quem amava a professora, a admirava e desejava felicidades.
Pela escolha de palavras, tão amorosas, a gente pergunta, quase chamando Claudinéa também de tia. - Como que os alunos vêm a professora? "Com o poder da mulher-maravilha. É ela quem tem o domínio da sala, até hoje quando vem aluno para a diretoria, eu sento e olho olho no olho, dizendo: a tia Claudinéa está muito triste, você vai melhorar? E depois voltam para a sala de aula", reproduz a cena.
E como a professora enxerga os pequenos? "Com carinho, sempre com muito carinho, como crianças, porque são crianças que precisam de paciência, afetividade e uma boa dosagem de compreensão".
Claudinéa tem o maior orgulho dos alunos e os enxerga assim até hoje. De uns anos para cá, as cartinhas diminuíram, ainda há os desenhos, mas que saem das mãozinhas daqueles que ainda não tem celular. "Hoje menos sim, as mensagens vêm pelo WhatsApp", diz. Em breve, quase não vai ter mais novos papéis amarelados na casa da professora.