Dar a luz é se doar a ponto de se apagar, não deixe uma mãe cair na escuridão
Ainda é um tabu conversar sobre a escuridão que o pós-parto pode trazer à vida da mulher
Dar a luz. Quer expressão mais bonita que essa? Você pode pensar que se trata de fazer nascer um ser iluminado e é, também. Mas, analisando do lado de dentro da maternidade, dar a luz significa doar nossa luz ao filho e, assim, logo após parir, se apagar um pouco (ou muito).
Ainda é um tabu conversar sobre a escuridão que o pós-parto pode trazer à vida da mulher. Baby blues, depressão. E isso nada tem a ver com não amar o bebê, não desejar ser mãe ou não ser agradecida pela saúde do filho. Não é falta de amor, falta de Deus ou falta de fé.
Tem a ver com a montanha-russa de hormônios, com a gigantesca mudança de vida proporcional à imensa responsabilidade que é cuidar de uma criança. A gente - e os que estão ao redor também - acaba negligenciando o lado sombrio da maternidade, e nessa cortina de fumaça a saúde mental da mãe se vai sem ninguém perceber.
Pensar que 'as coisas são assim mesmo' acaba afundando ainda mais uma mulher que está nessa batalha. Este ano tivemos várias notícias de mães com depressão que não aguentaram a barra. Se entregaram.
Podia ter sido eu. Podia ter sido a mãe recém-nascida do sétimo andar. Poderia ter sido uma amiga. Poderia ter sido você. Cuidar e discutir sobre a saúde mental da mulher que acabou de parir é mais que protocolo, é necessidade.
Em 2023 dê um pouco da sua luz para clarear os caminhos e pensamentos de uma puérpera. Converse, ouça de coração aberto. Ajude a buscar ajuda. A escuridão materna é real e pode estar muito mais perto do que se imagina.
Jéssica Benitez é jornalista, mãe da Maria Cecília e do Caetano e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae