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Comportamento

Dar “vida” a bonecos nunca fez tanto sentido para Ester, que venceu câncer

Em 2017 ela encarou o câncer de pele, e hoje, aos 75 anos de idade passou a enxergar a vida de forma diferente e realizar o sonho

Alana Portela | 30/11/2019 07:12
Ester Fernandes da Silva no quarto segurando uma das bonecas que fez. (Foto: Paulo Francis)
Ester Fernandes da Silva no quarto segurando uma das bonecas que fez. (Foto: Paulo Francis)

Para Ester Fernandes da Silva que, encarou câncer e viu morte de perto, dar “vida” a bonecos de pano nunca fez tanto sentido. “Temos que preservar a existência e ter força de vontade. Meu sonho era fazer os bonecos, então entrei num curso onde estou aprendendo a costurá-los. Agora, fiz do meu quarto o ateliê”, conta.

Aos 75 anos, ela foi diagnosticada com câncer de pele no rosto, próximo aos olhos, e passou por procedimento de emergência em Campo Grande. “Entrei na sala de cirurgia no dia 4 de abril de 2017, precisava retirar o tumor o quanto antes”, diz.

Tudo começou durante uma viagem que fez ao Rio de Janeiro. “Fui visitar minha filha e senti dor de dente. Quando voltei, fui a três dentistas, mas não encontraram nada. A dor continuou e aí procurei um otorrino que pediu um raio-X e após o exame, disse que era sinusite. Dias depois, saiu sangue do nariz e outro médico solicitou uma tomografia que detectou o tumor”, lembra.

Senhora fez do quarto o ateliê onde costura as bonecas. (Foto: Paulo Francis)
Senhora fez do quarto o ateliê onde costura as bonecas. (Foto: Paulo Francis)

A partir daí os momentos de aflição começaram. Assustada e sem muita informação, ela passou pelas mãos de mais três médicos até conseguir encaminhamento para o Hospital do Câncer da Capital. A filha sempre ao seu lado dando apoio, para ajudá-la na fase difícil. “Que sufoco, mas conseguimos”, diz Ester.

Foi uma corrida contra o tempo, já que a cada dia a doença se agravava mais. Outro médico informou a Ester que o tumor era benigno, porém precisava ser retirado o quando antes e por conta do procedimento, ela poderia perder um lado visão. “Pediram minha autorização para retirar o olho porque tinha que tirar o osso de um lado da face. Sem esse osso, não tem onde o olho se apoiar”, recorda.

Ester teve pouco tempo para pensar na resposta que mudaria completamente sua vida e afetaria a sua autoestima. Contudo, não perdeu a esperança e com pensamentos positivos se agarrou à fé. “Fiquei tranquila, porque creio em Deus, então cheguei em casa e entreguei minha vida a ele. Vivi todo esse tempo com boa saúde, se fosse minha hora estava pronta”.

Ela se encorajou, “abriu” o peito, escondeu o medo e concordou com os termos da cirurgia. “Mas, no final não precisou porque o médico conseguiu tirar o osso de outra parte do corpo e colocar no local onde retirou o tumor”. Contudo, no mesmo período surgiu outro câncer, agora no pescoço e Ester voltou pra sala de cirurgia 15 dias depois. “Assim que cicatrizou o primeiro procedimento fiz o outro”, completa.

Bonecas ganham "vida" com retalhos que viram cabelo, laço e roupas. (Foto: Paulo Francis)
Bonecas ganham "vida" com retalhos que viram cabelo, laço e roupas. (Foto: Paulo Francis)
Uma galinha de pano trabalhada nos detalhes ganhou até saia xadrez. (Foto: Paulo Francis)
Uma galinha de pano trabalhada nos detalhes ganhou até saia xadrez. (Foto: Paulo Francis)
Vários bonecos de panos já prontos ficam sobre a cama da costureira. (Foto: Paulo Francis)
Vários bonecos de panos já prontos ficam sobre a cama da costureira. (Foto: Paulo Francis)

“Tive que tirar todas as glândulas salivares. Após isso comecei a radioterapia e sofro as consequências até hoje. Foram 36 sessões, deu ferida na boca, não conseguia comer e até perdi o paladar. Emagreci e de 75 quilos, fui para 52. As últimas semanas foram terríveis e tive que aguentar. Pude interromper apenas uma semana do tratamento”, recorda ela.

Após o sofrimento, a recompensa hoje é a recuperação. Dois anos depois, ela continua com os acompanhamentos médicos, realizando exames, mas não perde a força de vontade de continuar a viver entre as bonecas e os amigos.

O sorriso não sai do rosto e Ester ainda consegue cativar os que a rodeiam com o carisma e alto astral. Sem ainda poder afirmar que está curada, ela já agradece todos os dias pela vida. “Tenho que esperar cinco anos para ter a certeza. Passei por fisioterapia porque não conseguia falar e depois de tudo, resolvi realizar o sonho de fazer bonecas”.

Agora o que não falta é esperança por dias melhores. Nas horas vagas, Ester senta na cadeira do quarto, de frente para a máquina de costura e faz uma, duas bonecas sem muito esforço, claro. “Não tenho netos, mas acho as bonecas bonitas. No curso aprendi fazer vários modelos”.

Os trabalhos que ficam prontos e ela coloca a venda por preços que variam de R$ 10,00 a R$ 150,00. Com delicadeza, Ester costura retalho por retalho até dar “vida” ao que antes era apenas um pedaço de pano. Criou até uma conta no Instagram por onde aceita encomendas e descreve na bio que está “realizando o sonho de bonecar depois de um câncer”.

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O passatempo de Ester é ficar no quarto com suas produções. (Foto: Paulo Francis)
O passatempo de Ester é ficar no quarto com suas produções. (Foto: Paulo Francis)
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