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Comportamento

De carona, amigos rodam 27 dias entre Chile, Argentina e Bolívia, sem roteiro

Experiência mudou a forma como eles enxergam o mundo, hoje sem medo de correr riscos

Thaís Pimenta | 04/06/2018 08:13
Nicole, Eduardo, Sol e o caminhoneiro que os levou até Porto Quijarro. (Foto: Acervo Pessoal)
Nicole, Eduardo, Sol e o caminhoneiro que os levou até Porto Quijarro. (Foto: Acervo Pessoal)

Onde você começa suas viagens? No aeroporto ou na rodoviária, certo? A arquiteta Sol Ztt e os amigos Eduardo de Carvalho e Nicole Keppke, começaram o mochilão deles na rodovia, pedindo carona, na cara e na coragem.

A experiência foi a primeira sem planejamento. E o que a princípio soa como loucura para muita gente, para eles mudou, e muito, a forma como passaram a enxergar o mundo.

Para eles, foi a oportunidade de perceber a aventura não é tão perigosa quanto se imagina. "Percebi que o mundo não é todo esse absurdo e esse medo implantado. Foi quando eu vi que moramos em todos os lugares, que continua igual do mesmo jeito, só que em outro lugar", reflete Sol.

Viajar sem roteiro, sem lugar certo é emoção, ao menos para eles. "Os imprevistos são lindos e históricos", completa.

Eduardo já tinha viajado pedindo carona antes dessa experiência, sozinho, e foram esses momentos que descontruíram e construíram sua vida em muitos aspectos. "Na questão do preconceito, humildade, saúde, alimentação, arte e trabalho". Sua realidade mudou tanto que hoje ele trabalha como produtor rural para juntar dinheiro  e comprar uma kombi "doido por aí", completa.

Eles saíram daqui com carona da mãe de Nicole, que pegou os deixou na BR próximo a Terenos. "Ali ficamos com uma plaquinha, pedindo carona", conta. O primeiro e único motorista sacana foi o primeiro, que se disse ex-seminarista e padre, casado e com dois filhos, e que começou a dar em cima das meninas na cara dura, contam.

Por conta da situação constragedora, eles desceram em Aquidauana e, a partir de lá, foi só alegria. "Conseguimos mais uma carona com o Zoinho, que nos deixou em Corumbá, foi super tranquilo. Fomos conversando", pontua Sol, que dá a dica: "Os motoristas de transporte de cargas, acostumados a dar carona, gostam disso porque, querendo ou não, é uma companhia para eles também. São muitas horas viajando, sem nada pra fazer, só no rádio".

Segredo estava na plaquinha e na boa vontade de esperar pela carona. (Foto: Acervo Pessoal)
Segredo estava na plaquinha e na boa vontade de esperar pela carona. (Foto: Acervo Pessoal)

Para gastar pouco e evitar a rota cara das cidades turísticas, os amigos usaram uma única estratégia: trocar ideia com o povo da região, pedindo descontos ou dicas alternativas. As estratégias eram dormir em hostel só quando não havia como não montar a barraca na rua e comer nos mercados municipais, ou então comprar comida e preparar no hostel caso houvesse.

As regras levaram os amigos a gastar, cada um, em média, R$ 600,00 em 27 dias de viagem na época da aventura, em 2015. ''A gente buscava fazer coisas que não eram tão turísticas. Por exemplo, quando estávamos em Uyuni para conseguirmos ir até o Salar, pesquisando na internet descobrimos que era U$$ 400 individual para uma pickup nos pegar, deixar em um hotel de sal e nos levar até o Salar de Uyuni. Nós não queríamos ficar no hotel e então conversamos com o pessoal do povoado, eles disseram  que tinha um ônibus que atravessa o deserto e deixa algumas pessoas do outro lado por 10 bolivianos (5 reais)'', contam.

Para sair de Uyuni e ir para o Atacama, obviamento, o valor seria caríssimo. Pra não ter que pagar, mais uma vez optaram pela carona. ''Ficamos cinco horas na rodovia para conseguir carona, ninguém parava porque não era a rota. Isso é outra coisa legal de falar, mas é difícil de saber mesmo porque estamos em um país diferente do nosso''.

Na rota, os caminhões paravam para fazer manutenção ali. Depois de tanto tempo, os aventureiros conseguiram uma alma bondosa pra os levar, porém ele ficaria ali por mais duas horas arrumando o veículo. ''Passou um cara de Hilux  e falou que nos levaria numa boa. No trajeto ficamos com um pouco de medo porque ele nos zoava dizendo que ia cobrar, mas no fim era tudo brincadeira''.

Para seguir  viagem, os amigos descobriram que a partir dali o transporte por van compensava, e eles optaram pela segurança e, mais uma vez, economia. A fronteira entre o Chile e a Argentina foi um dos momentos mais complicados. ''Conseguimos carona de um caminhão cegonha que faz transporte de carro. Fomos dentro de um carro que estava sendo transportado. Ele nos deixou na divisa do Chile com o Argentina, onde só dá pra entrar de carro. É muita responsabilidade então todo mundo que passava ficava com receio de termos droga. Demorou muito tempo mas conseguimos atravessar''. 

Já dentro da Argentina, os amigos conseguiram mais um caminhoneiro, um dos mais legais de toda a viagem, que os deixou em Hui Hui. ''Ele até mudou a rota dele pra nos em umas montanhas coloridas''. De lá até Corumbá, vieram de van, e só no Brasil eles voltaram num caminhão, pela última vez, para Campo Grande.

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Amigos no deserto de Salar de Uyuni. (Foto: Acervo Pessoal)
Amigos no deserto de Salar de Uyuni. (Foto: Acervo Pessoal)
No mercadão com os amigos mochileiros. (Foto: Acervo Pessoal)
No mercadão com os amigos mochileiros. (Foto: Acervo Pessoal)
Motorista de caminhonete também parou para dar carona aos três.  (Foto: Acervo Pessoal)
Motorista de caminhonete também parou para dar carona aos três. (Foto: Acervo Pessoal)
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