De cobra até onça, João Carreiro benze de tudo desde a adolescência
Aos 90 anos, o benzedeiro continua atendendo na área de casa, no Jóquei Clube
Durante a adolescência, João Francisco Silva “ganhou” a responsabilidade de levar a fazenda da família para frente e, poucos anos depois, descobriu que sua verdadeira profissão pelo resto da vida seria de benzedeiro. Hoje, aos 90 anos, ele garante que continua benzendo de tudo, desde cobra até onça.
Conhecido no bairro Jóquei Clube como João Carreiro, João Benzedor e João Careca, ele brinca que é todos ao mesmo tempo. Morando na região há seis décadas, o senhor com chapéu preto fez seu “escritório” na área de casa e, ali, ao lado de São João Batista continua atendendo quem vai em busca de ajuda.
Seja para crianças, adolescentes ou adultos que precisam do auxílio espiritual ou fazendeiros com problemas na área rural, seu João conta que não nega quase ninguém. A exceção fica para aqueles que, nas palavras dele, mentem ou tentam ser algo que não são.
Tirando esses casos, o pequeno espaço permanece movimentando com folhas de árvore utilizadas para a benzeção se acumulando no altar. “Todo mundo já me conhece porque estou aqui faz tempo. Os outros benzedores já se foram, ficou eu”.
Sobre sua história, o homem conta que recebeu o dom de um senhor acolhido na fazenda da família. Na época, ele já era responsável pelo local e recebeu a visita de um idoso de quase 100 anos pedindo por ajuda.
“Eu dei lugar para ele dormir, comer e ficou lá com a gente. Uma noite, eu fingi que estava dormindo e vi ele com umas pessoas, estava benzendo. Na época, não sabia que ele era benzedor”, relembra.
Curioso, no dia seguinte, João decidiu pedir para aprender sobre as rezas e, como resposta inicial, foi informado de que não saber ler o prejudicaria. “Eu não ia para a escola, era analfabeto e ele me falou que eu precisava saber ler para aprender as rezas. Falei que eu era inteligente e que ia conseguir, consegui mesmo”.
Depois de noites memorizando os ensinamentos, ele detalha que conquistou a confiança do então benzedeiro e, a partir dali, o futuro começou a mudar.
“Eu já bebi muito, já dancei, trabalhei com tanta coisa, mas chegou uma hora que só fiquei benzendo. Hoje, as pessoas me ajudam e eu continuo trabalhando”, diz João.
Se identificando como um benzedeiro tradicional, ele explica que uma das diferenças é não se negar na hora de benzer. “Eu comecei benzendo para tirar cobra da fazenda da minha família, depois já ajudei benzendo até onça para parar de prejudicar em fazenda dos outros”.
Com esse serviço, o homem garante que ainda viaja para áreas rurais em visita a fazendas, mas que seu cotidiano mais forte é realmente dentro da cidade.
Longe de estar cansado, o benzedeiro comenta que segue com energia e que, por isso, a “benzeção” vai continuar até que seu último suspiro chegue.
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