De "desova" à sombra na Copa de 70, figueiras já brotam com histórias
Hoje, 21 de setembro, é o Dia da Árvore e o Lado B descobriu algumas dessas memórias.
Campo Grande tem o título de uma das cidades mais arborizadas do país. A Capital hoje tem aproximadamente 250 mil árvores plantadas nos passeios públicos, parques e praças e, dentre essas milhares, as gigantes figueiras que brotam e se fortalecem cheias de histórias. Hoje, 21 de setembro, é o Dia da Árvore e o Lado B descobriu algumas dessas memórias.
Na Rua Franjinha, que homenageia o personagem cientista da Turma da Mônica, uma frondosa figueira carrega causos, um tanto, assustadores. A via fica no Bairro Gabura, que leva esse nome em homenagem Gabriel Spipe Calarge, o primogênito de Spipe Calarge.
Por lá, “quando tudo era mato” as lembranças de alguns moradores são de que a árvore passou um trecho da história sendo ponto de “desova” de corpos. O aposentado Antunes Landfield, de 72 anos, chegou um pouco depois na região, mas garante que sempre ouviu falar.
“O povo conta que matavam muita gente num dia e já deixava outro amarrado na árvore para matar no dia seguinte. Mas isso quando por aqui era invernada. Era tudo mato”, conta.
O morador chegou ao bairro há cerca de 20 anos, quando o Conjunto Estrela do Sul já tinha uns 17 anos de existência. “Quando eu comprei aqui ainda era tudo campo. Tinha avestruz, ovelha e vaca. Minhas filhas ainda falavam que eu tinha saído do mato no Rio Grande do Sul para morar no mato”, relembra.
Diferente de Antunes, o cobrador Genésio Manoel, de 66 anos, garante que viu uma assombração na árvore. Ele conta que certa vez parou na rua para depositar a carta na caixa de correio de uma das casas, quando avistou alguém se aproximando de sua motocicleta.
“Era mais ou menos meio dia, quando desci da moto e me aproximei da residência. Fiquei um pouco distante e vi quando uma mulher chegou perto da moto. A rua estava vazia e eu deixei a carta e voltei em sentido a moto, mas a mulher sumiu. Achei que tinha se escondido atrás da árvore, mas a pessoa evaporou. A rua é larga pode ver, não tinha onde ela se esconder”, disse.
Se foi ponto de desova e ficou mal assombrada, Genésio não sabe dizer. “O povo fala que eu sou ateu, mas eu acredito nessas coisas”, completou Genésio.
Diferente dos causos de assombração, a árvore que divide a Avenida Duas Vilas, sempre foi xodó do Bairro Jardim Imperial.
Na região, há quem diga que o nome da via, que se estende entes as avenidas Francisco José Abrão e Rodoviária, cerca de 460 metros de distante, foi inspirada no fato de ela separar o Jardim Imperial do Bairro Eldorado.
Não há documentação que comprove, mas quem é de lá assina em baixo. O mecânico José Fernandes, de 55 anos, conhecido como Fernando, mora na região do Jardim Imperial e Bairro Eldorado desde criança.
Ele viu a montagem da torre da Embratel, onde hoje funciona Canal do Boi, em 1973, e a construção da Igreja Católica Nossa Senhora de Auxiliadora, que em princípio foi feita de madeira.
Mas lembrança boa mesmo é da Copa de 1970, sob à sombra da árvore, quando o Brasil foi tricampeão do mundo ao derrotar a Itália por 4 a 1.
“Há muitos anos funcionava um bar em frente à árvore. Eu era criança, mas foi lá que montamos uma televisão e encheu de gente assistindo. Nunca me esqueço”, conta.
Ainda na região Norte, uma figueira com mais de dez metros de altura é um dos bens mais antigos do bairro Coronel Antonino e foi a “semente” para criar a rua do Rosário, em Campo Grande. Assim como a árvore da Avenida Duas Vilas, tornou-se um patrimônio histórico da região e os moradores até fizeram um protesto para evitar que ela fosse derrubada.
Na época, queriam tirá-la para pavimentar a rua, que havia acabado de ser desmembrada do Club Campestre Ipê, onde era uma fazenda.
Partindo para a região Central, se tem um homem bom de memória é o José Leopoldino Amorim. Aos 90 anos, ele é fascinado pela figueira da Praça do Rádio e afirma tê-la plantado no dia 23 de agosto de 1966.
Na época, trabalhava em frente ao local, e conta que tudo começou quando um galho fininho caiu de um caminhão.
"Tirei do meio da rua. “Uns colegas pediram para eu plantar. Peguei um facão, cavei um buraco e coloquei o galho. Sabia que ia pegar”, lembra. A ação de cavucar rendeu até apelido. “Me chamam de Zé Minhoca até hoje”.
José criou amor pela árvore e até fez promessa para comemorar os 50 anos dela. “Prometi para planta que ia levar toda minha família para tirar uma foto embaixo da sombra, mas morreu uns filhos meus e não fui”.
A mesma história é contada para sua família e sempre que passa pela praça, ele faz questão de dizer para os visitantes que plantou.