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Comportamento

Deixar país fez família ter vida simples e morar onde tem sol até 22h

Thailla Torres | 11/04/2020 09:23
Dijane e a família mudaram para Vancouver em maio de 2016. (Foto: Arquivo Pessoal)
Dijane e a família mudaram para Vancouver em maio de 2016. (Foto: Arquivo Pessoal)

Dijane Cristina de Barros Rosa Costa, 39 anos, morou em Campo Grande desde a infância. Bióloga de formação casou-se e teve uma família em Mato Grosso do Sul. Levava uma vida estável quando decidiu, com o marido e a filha, viver uma nova experiência fora do país.

Durante anos ela ouviu que a vida era curta demais para fazer loucuras. Na coragem de encarar novos desafios descobriu que a vida é longa para fazer uma coisa só. Foi assim que a família mudou para Vancouver, uma movimentada e belíssima cidade portuária na costa oeste da Colúmbia Britânica, no Canadá.

São quatro anos morando em outro país. A estagnação profissional e a insegurança no Brasil deram ensejo à mudança radical. “Estávamos muito tempo no mesmo trabalho e meio estagnados profissionalmente. Sentíamos que não tinha muito para onde ir”, conta Dijane.

Família passeando em Lake Louise, em Alberta. (Foto: Arquivo Pessoal)
Família passeando em Lake Louise, em Alberta. (Foto: Arquivo Pessoal)

A procura por novos ares começou com um grupo de amigos em Campo Grande. “Um deles, engenheiro aeroespacial, havia sido transferido para o Texas (Estados Unidos). Nós acompanhamos muito de perto a mudança dele e da família, os trâmites e os primeiros momentos da mudança, a partir daí surgiu à vontade de tentar ter uma experiência fora do Brasil”.

A primeira opção do casal foi Austrália, mas o país tem leis de biossegurança rigorosas, por isso, exige uma porção de pré-requisitos para a entrada de animais de estimação, um deles que o animal complete um período de quarentena no país. “Com isso, descartamos a Austrália e optamos pelo Canadá, depois que meu irmão decidiu se mudar pra cá”.

A mudança - Tanto Dijane quanto o marido tinham carreiras consolidadas em Campo Grande. “Como funcionária pública, parecia uma loucura largar tudo e sair. Mas quisemos ter uma experiência diferente na nossa vida”.

Enquanto colocou a casa para vender, o que garantiria a comprovação de fundos iniciais para entrar no Canadá, o casal passou a estudar as possibilidades de atuarem na mesma área no país, no entanto, o dinheiro não seria suficiente para arcar com novos estudos na área laboratorial em que Dijane atuava, por exemplo. Isso porque a formação local aumenta a empregabilidade e conquistar um diploma em solo canadense abre portas para o mercado de trabalho no país.

Sabendo que a qualificação local faz toda diferença na hora de arrumar emprego, o casal fez novas escolhas. “Eu fui pra estudar e ele trabalhar. Mas como os cursos tinham custos altos, decidi estudar em outra área. No Brasil, meu setor era muito pesado e muito sério. E já que eu viria para estudar, optei por algo mais leve e diferente, mas muito importante economicamente”, explica.

No Canadá as estações são bem definidas. Esse é o outono. (Foto: Arquivo Pessoal)
No Canadá as estações são bem definidas. Esse é o outono. (Foto: Arquivo Pessoal)

Dijane optou por um curso na área de hotelaria que duraram dois anos e meio. Sem domínio do inglês, ela também fez um curso de língua inglesa.

Adaptação – O casal e a filha mudaram para o Canadá em maio de 2016. “Tivemos uma adaptação tranquila porque meu irmão já morava aqui. Tenho minha cunhada como irmã e minhas sobrinhas são melhores amigas da minha filha. Então tivemos aquele acolhimento. Tudo que fazemos é na casa deles. Gostamos de cozinhar e ter a casa cheia”.

A família chegou ao fim da primavera, quase verão. Logo em seguida a estação mais calorosa é daquelas mais surpreendentes porque o dia dura mais do que estamos acostumados no Brasil. O sol vai até às 22h, por exemplo.

Juntos passaram a morar em um apartamento próximo as escolas. Na sala de aula a brasileira passou ser uma das mais velhas e se tornou a “mãezona” da turma. “Eu estava fora do banco de escola muito tempo, eu não tinha noção das plataformas digitais, tudo era muito novo. Mas mantive a tranquilidade. Aqui tem muito estudante internacional e os professores tem paciência para explicar tudo nos mínimos detalhes”.

Para Dijane não foi fácil deixar toda sua carreira para trás, mas a vontade de se reinventar era maior. “Comecei trabalhar no segundo semestre em uma rede de hotéis. Trabalhava sexta, sábado e domingo por cerca de 20 horas. Eu limpava banheiro e quarto. Depois de um tempo passei a fazer o serviço de ir ao quarto, entre 5h e 9h da noite, para saber se estava tudo bem com o hóspede. Colocaram-me nessa função pelo jeitinho brasileiro de conversar, sempre sorrindo”.

A mudança de área foi uma aposta que deu certo. Além de boas perspectivas de trabalho, a valorização do serviço é o melhor no país, segundo a bióloga. “A valorização do funcionário é a coisa mais incrível. Aqui todo serviço custa caro, então se ganha bem nos trabalhos”, diz. “Quando eu me formei decidi que estava cansada de trabalhar no fim de semana e conquistei uma vaga em um setor administrativo, onde estou até hoje”.

Família já realizou duas festas juninas na cidade norte americana. (Foto: Arquivo Pessoal)
Família já realizou duas festas juninas na cidade norte americana. (Foto: Arquivo Pessoal)

O melhor e o pior da mudança – Começar do zero e ver os sonhos sendo realizados tem adoçado a vida da família. “Morar em um país de primeiro mundo já é um sonho”, diz. As dificuldades com o idioma e a mudança de temperatura, por exemplo, não são mais um sofrimento.

“No Canadá o que mais me encanta é a beleza natural da província que escolhi morar. Foi uma surpresa e eu não pensava que seria tão bonito”, diz a imigrante.  O país tem suas diversidades climáticas com frio que chega a graus negativos e neve até um verão que anoitece só depois das 22 horas, assim como há primavera que colore cidades inteiras e um outono charmoso bem laranja, vermelho e amarelo.

A segurança pública no mais é o que mais anima Dijane e a família. “Eu fico surpresa quando estou no ponto de ônibus com celular na mão sem preocupação. Na verdade é assim que deveria ser em qualquer lugar. A honestidade aqui também surpreende. Se você deixa algo para doação na frente de casa, as pessoas só pegam se você deixar um recado escrito ‘livre’”, conta.

Outono charmoso. (Foto: Arquivo Pessoal)
Outono charmoso. (Foto: Arquivo Pessoal)
Inverno com neve. (Foto: Arquivo Pessoal)
Inverno com neve. (Foto: Arquivo Pessoal)

O mais difícil, para ela, é a saudade de cozinhar com a família. “Eu sinto falta de comer comida que não seja feita por mim. Sinto falta dos fins de semana de almoço na casa da avó. Isso eu sinto uma saudade imensa. Já fomos para o Brasil duas vezes e a gente se abastece com esse carinho. Sentimos muita falta das pessoas, se eu pudesse trazer todos para viverem aqui seria o plano perfeito”.

Em razão da saudade, a família traçou um plano para ter uma rede de apoio em Vancouver. “A gente procurou e hoje temos muitos amigos brasileiros aqui. Já fizemos duas festas juninas”.

A maior lição, segundo ela, foi mudar a relação com o mundo e a rotina de vida. “Nossa maior mudança de vida foi deixar de viver uma vida de classe média no Brasil para viver uma vida muito mais simples aqui. Essa simplicidade foi a maior transformação na minha vida. Eu lembro que a planilha de gastos da minha família no Brasil que aqui não existe. Aqui também ninguém se importa com a sua roupa, independentemente da ocasião, o que vale mesmo aqui é ter dois bons casacos no inverno, mas ninguém vai se importar com a sua aparência. Ninguém quer saber se você tem carro ou não. As coisas são menos complicadas que no Brasil”, diz.

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