Depois da versão hétero, perfil gay divulga os “mais gatos” de MS
No Instagram, uma página resolveu mostrar as "belezas" dos nosso estado: homens brancos, de barriga definida e possivelmente gays
A internet não tem limites, e o sul-mato-grossense adora uma novidade. Depois de um perfil lançado no Instagram que flagrava homens heterossexuais considerados "os mais gatos" da Capital – seja na cadeira do dentista ou na mesa de bar vizinha –, agora surgiu uma versão gay.
Também divulgando as "belezas naturais" de MS, isto é, um feed cheio de homens "gostosões", de sunguinha e teoricamente gays, o perfil nasceu – segundo o próprio administrador de página – por puro tédio.
"Existe uma grande necessidade de se afirmar perante a comunidade gay. Aquela coisa de ser 'aceito ou não'. Resolvi fazer um perfil pois não tinha um sequer que explorasse a beleza masculina sul-mato-grossense. Aos poucos, fui percebendo que eram os homens da comunidade LGBT+ os mais interessados em participar na divulgação", explica o gestor da página, homem gay de 35 anos, e que preferiu não ser identificado.
Por participantes que não quiseram ser incluídos nesta reportagem, o Lado B ficou sabendo que até já tem grupo seleto no WhatsApp dos "mais gatos". A finalidade? Paqueração entre homens – e outras coisinhas a mais…
Diferente do "primo hétero", a versão gay não contém flagra. Muito pelo contrário, são os próprios participantes que mandam tanto a carinha quanto o "corpitcho" à mostra no perfil de divulgação. Foi o caso de Isaias Brandão, 23 anos, que nem natural de MS é.
"Sou nascido e criado em Rio Branco, no Acre. Já estou há exatamente 1 ano aqui em Campo Grande. Fiquei suspeito com o convite de participar do perfil, porém acredito que cada um tem sua beleza e seu biotipo, e o mais importante de tudo não o apelo da estética, mas busca a saúde em 1º lugar", considera o estudante de Educação Física.
"Ao meu ver, devemos sim valorizar o nosso corpo, mas como a nossa 'casa'. E nada melhor do que aliar a dimensão da sexualidade, a pitada que o perfil carrega. Tudo faz parte do mesmo pacote", acrescenta.
Outro exemplo é Natanael Marques, policial penal de 30 anos. Natural de Coxim, a 218 quilômetros da Capital, ele afirma nunca ter participado de nada parecido em sua vida.
"A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi mandar para os meus amigos e avisar o meu namorado, e juntos demos boas risadas. Ao mesmo tempo eu gostei do convite, me senti lisonjeado e não vi o porquê de não participar", esclarece.
Embora se considere um cara bastante "normal", ele admite ter ficado mais vaidoso com o passar dos anos. "Não sou tímido e exposição nunca foi problema. Mas ainda é cedo para dizer se isso faz 100% bem para minha autoestima".
Sobre o fato de estar namorando, não rolou uma "ciumeira" que poderia acontecer devido ao tipo de convite. "Estamos juntos há pouco mais de 5 anos e por isso nós nos conhecemos bem ao ponto de sabermos o limite de cada um. Particularmente, adoro que outras pessoas considerem ele bonito e gostosão, como eu também o acho!", brinca. "Mas o reverso é tão verdadeiro quanto".
O mais velho do "grupo" tem 44 anos. Biomédico esteta, Alessandro Gazoto ficou meio apreensivo pela proposta de ser incluído nos "mais gatos". "Mas por não ser uma competição, no final achei uma honra. Até mesmo vi a oportunidade de divulgar o meu nome e trabalho, que está totalmente relacionado à área da beleza", diz.
Mas quem é que não gosta de ser elogiado? "Sou muito crítico comigo mesmo, e a idade pesa nesse sentido. Participar disso fez bem a minha autoestima, até porque fujo do 'padrão' dos corpos jovens e descamisados", brinca.
Para ele, o perfil segue essa tendência contemporânea da exposição e do culto ao "belo". "Mas acho que nesse ponto, na questão de diversidade, ainda tem muito a contribuir. Cada um conta sua própria beleza e encanto".
"Branquitude" – Não é preciso correr muito o dedo pelo perfil para perceber que a grande maioria dos homens participantes são brancos e seguem o estilo "padrãozinho" do corpo malhado. Por mais que tenha exemplos que se diferem disso – como aqueles considerados pela cultura gay como "ursos" (peludos, barbudos e parrudos) –, ainda sim não é possível encontrar nenhum negro.
Sobre isso, o administrador da página comenta: "realmente existe esse embranquecimento. As publicações são feitas ao meu convite ou solicitações dos próprios seguidores. O impasse é se eu publicaria todos aqueles que eu julgava belo, dentro dos meus parâmetros de beleza. Percebi que não haveria motivos de não postar tudo, porque beleza é algo muito relativo", argumenta.
"Porém, não é interesse do perfil fazer segregação. Fica aí uma boa lição de que ainda precisamos de mais representação de todo o universo masculino gay no feed", ressalta. Sendo assim, ele garantiu que essa bandeira será uma de suas prioridades na página.
E não é só o administrador quem observa a questão "branquitude". Alguns participantes também: "não é saudável padronizar a beleza. Todos os corpos, cores e estilos merecem e precisam ter espaço. Assim como eu mesmo não me considero um 'suprassumo', outros 'belos' também devem ser mais explorados", pontua Nathaniel.
Já para Ricardo Bassani, assessor de comunicação de 36 anos e que também teve o rosto divulgado na página, falar em "padrão" é algo a se debater. "O que vejo é que a grande maioria gosta mesmo dessa exposição, de mostrar o corpo semi nu, usando só sunguinha ou bermuda curta. Me parece às vezes que o cuidado não é nem pra si, mas para os outros gostarem. Para mim, independente dessas 'modinhas', minha vaidade é para o meu prazer e felicidade, não para a dos outros", julga.
Insegurança – "Muitas pessoas vinham me perguntar se teria chance de ter sua foto publicada. Fui vendo diversos traços de insegurança devido à essa ditadura do que é ser belo nos dias de hoje. No final, muitos agradecem por participarem e até relatam que aumentaram exponencialmente a quantidade de 'fãs' nos seus perfis pessoais", relata o administrador da página, que nem mil seguidores conta.
É claro que nem todo mundo concorda em ser exposto. "Tem quem até aceita, mas depois pede exclusão das fotos por optarem pela 'preservação' da imagem", acrescenta. "Mas eu fico feliz em proporcionar o que faço. Assim, se cria uma nova forma de ligação entre as pessoas, o que acho positivo em tempos de pandemia", finaliza.
Ficou curioso? Basta acessar @os.lindos.de.campogrande.ms e tirar sua própria conclusão.
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