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Comportamento

Dona Claudette pagava com tortas os sonhos que tinha para os filhos

Na série "O que ficou de quem partiu", a neta conta as lições deixadas pela avó, que nunca soube desistir dos sonhos

Thailla Torres | 15/06/2020 06:10
Ela tinha alegria em lutar na mesma intensidade que sonhava por uma vida melhor aos filhos, dizem os netos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ela tinha alegria em lutar na mesma intensidade que sonhava por uma vida melhor aos filhos, dizem os netos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Maria Claudette Villa Mendes ou apenas dona Claudete só era diminutiva na forma carinhosa pela qual era chamada pelos netos: vózinha. Para a história da família e a educação dos filhos, ela foi gigante.

Até abril de 2019, ela fazia e acontecia nos momentos mais divertidos em família, não dispensava uma cervejinha gelada e não deixava ninguém desanimar só porque as coisas andavam difíceis.

Também teve encontros com a dificuldade, pela vida humilde que teve desde a infância, mas soube deixar bons trabalhos prestados por onde passou e valores inestimáveis, principalmente, para os netos, que hoje usam as lições de dona Claudete como escudo em tempos difíceis.

Também nunca dispensava uma festa e uma cervejinha gelada. (Foto: Arquivo Pessoal)
Também nunca dispensava uma festa e uma cervejinha gelada. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ela tinha alegria em lutar na mesma intensidade que sonhava por uma vida melhor aos filhos. A educação era o que a fazia parar tudo e pensar em soluções que não deixassem as crianças longe de uma boa escola, por isso, a história de como ela conseguiu transformar o futuro é o que ficou marcado para os netos, especialmente, a publicitária Maria Fernanda Mendes Saliba, de 29 anos, hoje a responsável por contar sobre a avó na série “O que ficou de quem partiu”.

“Uma das histórias marcantes é de quando minha avó foi pedir para a dona Vilma, de uma famosa escola de inglês, para que os filhos pudessem estudar lá. Mas ela não tinha dinheiro para pagar. A dona fazia muitos eventos, então minha avó propôs fazer todas as tortas desses eventos, em troca da matrícula dos filhos. A dona, muito generosa, aceitou o pedido. Depois, acabaram coomo boas amigas”, lembra.

Os filhos, claro, concluíram o curso de inglês e a dona da escola continuou pedindo tortas à dona Claudette, encomendando e pagando em dinheiro. Para que os filhos pudessem estudar em escola particular, a avó também nunca teve receios de pedir pela bolsa de estudos e assim comemorou o sonho de ver os três filhos se formarem.

Maria Fernanda ao lado da avó. (Foto: Arquivo Pessoal)
Maria Fernanda ao lado da avó. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Essa determinação dela virou minha fonte inesgotável de motivação e inspiração. Sua força também dá forças para toda família enfrentar qualquer desafio”, diz a neta.

Para a família, uma frase de Claudette se tornou inesquecível. “Ela sempre nos dizia em momentos difíceis: As coisas vão acontecendo... Ou seja, independentemente das dificuldades, sempre devíamos perseverar na fé. E era impressionante como tudo ia se ajeitando mesmo”. A frase até virou tatuagem no corpo de uma das netas, a advogada Ana Cláudia Mendes Saliba.

Ainda que de vez em quando ela incorporasse a paraguaia brava, segundo as netas, não havia inimigos perto de Claudette. “Todo mundo gostava dela. Era uma pessoa muito animada, amava viver a vida em sua plenitude, vivia alegre. Tinha um grupo de amigas que sempre reunia para festinhas no Clube Estoril, adorava beber uma cervejinha e não dispensava excursões. Ela não parava quieta e era ela quem sempre agitava os encontros”.

E não havia escolha nem para as amigas mais velhas, que assumiam não ter o mesmo pique de Claudette, mesmo assim pela pegava o telefone e fazia todas as amigas irem ao clube sempre que percebia uma delas desanimada.

Não tinha dificuldade que apagava o sorriso de Caludette. (Foto: Arquivo Pessoal)
Não tinha dificuldade que apagava o sorriso de Caludette. (Foto: Arquivo Pessoal)

Não foi à toa que em sua despedida, a neta viu escorrer lágrimas até do vendedor de carro que admirava a dona Claudette cervejeira e companheira. Recentemente, a pessoa que fazia salgado soube do falecimento e chorou no portão de uma das filhas. “Ela era tão cativante que seu velório lotou de gente. Ficamos todos impressionados com a quantidade de pessoas que quiseram se despedir dela, além da consideração e o lugar que ela ocupava no coração de todos”, lembra a neta.

Se viva estivesse, com certeza essa pandemia não combinaria com a alma aventureira dela, mas ela estaria em casa rezando e animando a família para ninguém ficar doente. “Com certeza ela ia querer fazer lives, ligações de vídeo. Ela não sabia mexer nas tecnologias e nem queria aprender, mas certamente ia pedir para um dos filhos ligar e ela falar com todos. Afinal, resiliência é o que ela deixou para todos da família”, finaliza.

Dona Claudette se despediu da vida aos 81 anos, em 18 de abril de 2019, vítima de uma infecção generalizada. Deixou 3 filhos, 8 netos, 1 bisneta e muita esperança.

Veja na galeria abaixo as fotos de dona Claudette com a família.

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