Doutorado é vitória após professor “renascer” no dia do aniversário
Indígena terena, Paulo precisou ser transferido de avião para UTI na Capital em 2020, por causa da covid
Quase dois anos após “renascer” em seu aniversário e reaprender a viver após ter sequelas deixadas pela covid-19, o professor terena Paulo Baltazar se tornou professor universitário concursado e recebeu seu diploma de doutorado nesta semana, como mais uma vitória. Parte da população infectada pelo coronavírus em 2020, Paulo precisou ser transferido de avião para UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em Campo Grande devido à gravidade de seu quadro na época. Mas justo no dia do aniversário, as coisas mudaram.
Dedicado à educação indígena desde a década de 1980, Baltazar conta que sempre esteve envolvido com a causa em Mato Grosso do Sul. Mas, em 2020, quando mantinha projeto social na Aldeia Bananal, em Aquidauana, e cursava seu doutorado, se viu tendo sua trajetória interrompida às pressas.
Eu moro em Aquidauana e em julho, fui internado no hospital por ter contraído a covid. Meu quadro piorou e precisei ser transferido para Campo Grande de avião, porque estava crítico", conta Paulo.
Na época, o colapso na Saúde já estava ocorrendo e Paulo precisou ser transferido para o Hospital do Pênfigo, em Campo Grande, com vaga zero. Exemplo do cenário, mesmo com aumento nos leitos, 90% das vagas em UTI do hospital estavam ocupadas e os números de pacientes em situação grave seguiam aumentando.
Com histórico de hipertensão e diabetes, o professor passou pouco mais de duas semanas internado no CTI e, como ele define, renasceu no dia de seu aniversário. “No dia 7 de agosto de 2020, quando fazia 58 anos, recebi alta do CTI e fui para a enfermaria. Fiquei mais 8 dias internado e voltei para minha cidade no dia 15 de agosto, aniversário de Aquidauana.”
Devido às sequelas deixadas pela covid, Paulo conta que precisou, assim como diversos outros pacientes, reaprender a viver. “Foram 6 meses em tratamento com várias especialidades. Tive que fazer muita fisioterapia, porque saí na cadeira de rodas e aprendi a fazer tudo novamente. Em 15 dias, eu consegui voltar a andar, primeiro deixei a cadeira de rodas e depois o andador”, relembra.
O professor detalha que apesar de todas as complicações, sem conseguir tomar banho ou se alimentar sozinho, nunca deixou de pensar em retornar à educação. Tanto é que, como ele explica, conforme melhorava, retomava a rotina de estudos.
Em janeiro de 2021, eu intensifiquei meus estudos. Passava 11 horas por dia estudando e nunca pensei que não fosse retornar, porque continuei pensando que aquele era meu objetivo", o professor diz.
Assim como o período em que viu sua saúde piorando foi intenso, o professor narra que sua retomada também foi. Em março deste ano, ele defendeu sua tese sobre geografia terena na UFMS e, neste mês, recebeu seu diploma, assim como foi empossado como professor efetivo na mesma universidade para a Licenciatura Intercultural Indígena do curso de Geografia.
“Na época, foi muito difícil, muito assustador. Era uma doença desconhecida para todas as pessoas. Eu moro em Aquidauana, mas tanto na cidade quanto nas aldeias, as pessoas sentiram muito o impacto da doença com as pessoas indo embora após serem acometidas pela covid. Mas estamos superando”, pontua.
Feliz com a retomada da vida, o professor destaca que assim como para ele, a educação é muito importante para a etnia terena. Por isso, nem mesmo a covid fez com que abandonasse o desejo de seguir na carreira educacional.
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