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JULHO, QUARTA  17    CAMPO GRANDE 17º

Comportamento

Em 10 minutos, ambulante passa por 130 carros e vende 30 sacos de bala

Na Avenida Afonso Pena, os empreendedores das ruas têm 45 segundos para comercializar o produto

Por Idaicy Solano | 28/10/2023 07:31

Em algum momento, você já pensou sobre a rapidez que os vendedores ambulantes precisam ter para garantir as vendas usando apenas o momento "vermelho" do semáforo? Usando da curiosidade, o Lado B foi para as ruas cronometrar os profissionais e descobrir por quantos veículos eles precisam passar até o lucro chegar.

Pelos semáforos da principal Avenida de Campo Grande, os empreendedores das ruas têm apenas 45 segundos para comercializar seu produto. A negociação é rápida, e não pode dormir no ponto.

A cada parada no sinal vermelho, pelo menos 10 veículos são abordados pelos vendedores, que correm entre os carros deixando um pacote no retrovisor com, no mínimo, oito unidades de balinhas pelo valor de R$ 2.

O jogo é rápido e a negociação é intuitiva. Se o produto interessar o cliente, basta pegar o saquinho e deixar o dinheiro em mãos, pois o vendedor tem poucos segundos para correr de volta entre os carros recolhendo os saquinhos que não foram vendidos e o dinheiro dos que foram.

Em dez minutos, pelo menos 130 carros param no cruzamento da Afonso Pena com a 25 de Dezembro, local em que Raylthon Fagner Ormond, 23 anos, trabalha. Ele consegue vender de 25 a 30 saquinhos de bala por hora. "Abaixo disso significa que o movimento está baixo", avalia.

Balas são comercializadas a R$ 2 nos semáforos dos cruzamentos mais movimentados da Afonso Pena (Foto: Idaicy Solano)
Balas são comercializadas a R$ 2 nos semáforos dos cruzamentos mais movimentados da Afonso Pena (Foto: Idaicy Solano)

Natural de Corumbá, o calorão da Capital não assusta o vendedor, que trabalha no semáforo de segunda a sexta, em uma carga horária de quatro horas por dia. "[O calor] incomoda um pouco, mas tô acostumado com isso. A correria é tranquila, sem muito estresse, é um pouco perigoso, mas é só ter uma atenção a mais e se precaver".

Raylthon trabalha com carteira assinada, então as balinhas são uma renda extra. "Consigo tirar uma renda boa até, consigo tirar uma diária de R$ 100 limpos, e querendo ou não, entra mais na minha conta, quem não quer? Hoje em dia, carteira assinada só compensa se você tiver um bom currículo, e um bom currículo não é pra todo mundo, porque nem todo mundo tem as mesmas oportunidades".

No cruzamento da Afonso Pena com a 14 de Julho, Felipe Lennon Araújo, 29 anos, garante que, em uma hora de correria entre um carro e outro, consegue vender 15 saquinhos e fazer R$ 100. Além de garantir a renda extra, aproveita a correria para exercitar o corpo e cuidar da saúde.

Felipe tem quatro anos de experiência correndo entrte os carros para comercializar as balas (Foto: Idaicy Solano)
Felipe tem quatro anos de experiência correndo entrte os carros para comercializar as balas (Foto: Idaicy Solano)

"Faço um 'cooper' aqui, cuido da minha saúde e ainda ganho um dinheiro extra. Tomo bastante água e corro até meu limite. Quando dá meu limite eu vou lá na praça, tomo meu tereré. Descanso e depois corro mais um pouquinho", brinca Felipe Araújo.

O vendedor trabalha na Afonso Pena há quatro anos e já até ajudou outros vendedores a lidarem com os motoristas mal-humorados e pegarem a "manha" do negócio. Sem muitos mistérios, Felipe diz que pra pegar o jeito só na prática. "Eu fico de boa. Quando falam 'não põe não' eu peço desculpas. Sempre tranquilo. Ensino os caras, falo 'olha aqui como eu faço, só fazer igual'".

Para se proteger do sol, o vendedor Edilson Rodrigues de Souza, 48 anos, improvisou um mini guarda-chuva na cabeça. Com muita destreza e simpatia, sai correndo entre os veículos no semáforo do cruzamento na Afonso Pena com a Arthur Jorge para garantir o sustento da casa.

Edilson desenvolveu aparato para se proteger do sol forte enquanto trabalha (Foto: Idaicy Solano)
Edilson desenvolveu aparato para se proteger do sol forte enquanto trabalha (Foto: Idaicy Solano)

Edilson ressalta que o trabalho exige muita atenção e cuidado, principalmente com relação às motocicletas que passam entre os carros e para calcular o tempo do semáforo. "É muito perigoso, só Deus pra guardar a gente. Antes de sair de casa, sempre faço minhas orações".

No ramo há apenas um ano e meio, o vendedor conta que consegue vender pelo menos R$ 80 por dia.

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