Em jogo de búzios, nada bate perguntas sobre amor e dinheiro
O Lado B conversou com pai de santo que explicou sobre o jogo de búzios e como ele funciona
Na mesa coberta por uma toalha branca, Roberto Lopes, de 57 anos, joga 16 conchinhas que estão rodeadas por guias imperiais coloridas que representam os 12 orixás. Além delas está a moeda que representa o consulente, a vela, o copo de água e a sineta.
No jogo de búzios, o pai de santo, que é regido por Xangô, tem 37 anos de experiência. Nas últimas décadas, ele garante que as perguntas que mais ouviu foram sobre amor e dinheiro.
Ao apresentar a casa Ase Nagô Kobi, que fica no Bairro Tiradentes, Roberto presta as primeiras explicações sobre o búzios. “Somos orixáista, então nós temos o quarto de santo que é a função do orixá e fazemos juntos a umbanda. O jogo de búzios está totalmente ligado com a parte do orixá, não tem nada a ver com umbanda ou qualquer outra religião. Então qualquer pessoa que cultua orixá tem direito a jogar búzios”, diz.
Para jogar búzios, segundo ele, o primeiro passo é o encantamento. “O búzios é encantado com a sua obrigação. Eu vou fazer a obrigação do meu orixá, vou assentar o meu orixá e é nesse momento que a imperial faz parte, a gente joga através da imperial”, fala.
Após o processo do encanto é a vez da parte técnica do búzios. “É a parte que o pai de santo vai chegar e falar essa jogada representa isso, aquela jogada representa aquilo. Não é só intuitivo”, afirma. Se engana quem pensa que o búzio está relacionado à adivinhação, pois o propósito do jogo é orientar.
“Não é esse jogo de especulação que você vem e fala: ‘Quero ver meu passado, presente e futuro’. Ele é um jogo para quando você está com problema e realmente precisando de uma orientação dos orixás”, frisa Roberto.
Nessa história de pedir orientação, o que rege a maioria das consultas é a vida amorosa e financeira. Esses dois temas são as maiores preocupações daqueles que buscam se consultar com Roberto. “Amor e dinheiro são o que mais aflige o ser humano, porque a dor do amor é muito doida e a falta de dinheiro te causa muitos desamores”, pontua.
Assim como Roberto foi ensinado por outra mãe de santo sobre o búzios, Larissa Ovando Lopes, de 37 anos, também foi instruída no mesmo caminho. Filha de Roberto, ela joga búzios há 8 anos e é regida por Oxum. Outro trabalho que desenvolve está relacionado ao tarô.
Na experiência dela com o búzios, as dúvidas sobre relacionamento quase sempre são as mesmas. “Tem pessoas que estão naquela situação que terminaram e não sabem se insistem ou se seguem adiante. Isso tem muito. Tem pessoa que tá iniciando o relacionamento e não sabe o que esperar daquilo, então o jogo ajuda a pessoa a entender isso. É quase uma sessão de terapia”, comenta.
Das perguntas mais diferentes que recebe, Larissa revela que são as relacionadas a sonhos e vidas passadas. Contudo, para a última questão, o búzios não é o jogo indicado. Outra questão que costuma ser levada é em relação à saúde e morte, mas esses dois campos, às vezes, são assuntos delicados para se tratar na mesa.
Em alguns casos, Larissa procura recomendar outros especialistas. “Se eu perguntar, eu consigo ter uma base, mas sobre saúde e morte é delicado jogar. Quando pede a gente dá uma olhada, mas eu sempre indico: ‘Olha, vai fazer uns exames’. Porque se a pessoa está perguntando sobre saúde é porque não está se sentindo bem. Então quando sai da especialidade, da espiritualidade, eu sempre indico para ir a algum lugar”, explica.
Essa sensibilidade é outra qualidade exigida de quem está à frente do búzios. Na mesa nem sempre o consulente está preparado para ouvir a resposta dos orixás, que instruem o que deve ser dito ou não.
“Tem algumas jogadas que os búzios te dão informação, mas pede para você não dizer à pessoa. Então você respeita o que o orixá tá dizendo mesmo que você não entenda na hora, porque talvez a pessoa não esteja preparada para ouvir aquilo”, fala Larissa.
Ao mencionar os casos mais marcantes, ela recorda uma consulta feita pelo pai. A lembrança é um exemplo de como os orixás agem nessas situações onde as pessoas não estão preparadas para ouvir a resposta.
“Eu lembro que o pai estava contando uma vez que veio um homem jogar búzios e ele queria saber se a mulher estava traindo. Ele jogou os búzios e deu isso que ela estava, mas não era para falar. Então meu pai falou que não e o cara disse: ‘Eu estou aliviado, porque se você dissesse que ela estava traindo eu ia sair agora e matar ela”, diz.
Roberto e Larissa atendem com hora marcada. O valor da consulta é R$ 150 e o tempo varia entre 1h ou 1h30. Quem quiser conhecer o trabalho de ambos, os perfis no Instagram são @pairobertolopes e @maelarideosun
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