Em salão que alguns “têm medo”, Isis luta para atender três clientes por mês
A simplicidade faz com que muita gente vire a cara para a cabeleireira, que busca oportunidade para mostrar seu trabalho
Num espaço improvisado, onde atender três clientes por mês é lucro, Isis Milene Vieira tenta ganhar a vida como cabeleireira no Conjunto Residencial Recanto dos Rouxinois. Em busca de oportunidade, ela resolveu montar o próprio salão para garantir o ganha pão, porém, a cada dez pessoas que passam em frente ao local, uma dá a chance para a profissional da beleza mostrar seu trabalho.
“As pessoas passam e ficam com medo de entrar, não sei o que acontece. Deixei um preço razoável para as pessoas conhecerem meu trabalho, me dar uma chance de mostrar o que sei fazer. Se faço promoção e abaixo ainda mais o valor, aí que as clientes não entram porque ficam desconfiadas”, conta.
A dificuldade é comum para todo início de carreira, principalmente na área da beleza que é preciso fidelizar a clientela.
Aos 32 anos, muito simpática, Isis convidou o Lado B para conhecer seu salão. Chegando lá, entramos no corredor de 5x2m², onde ela aguarda todos os dias a clientela. Sentamos na poltrona e ela nos contou que montou o salão em agosto de 2019 porque não conseguia emprego na cidade.
“Era de Bandeirantes, mas me mudei para Campo Grande para me especializar na área. O custo de vida aqui é caro, minha ideia era conseguir um emprego em algum salão, porém não me deram a oportunidade e resolvi montar o meu”, diz.
O espaço é pequeno e foi reformado pela própria cabeleireira. “Comprei um papel de parede, ganhei tinta e pintei o local. Depois consegui um pé de máquina que agora virou mesa, assim como a base do meu primeiro fogão que é suporte para guardar meus produtos”.
Ela se formou no curso de cabeleireiro no ano passado, após os irmãos incentivarem a seguir a profissão da família. “Tenho dois irmãos cabeleireiros, e eu era diarista. Conversamos durante uma viagem que fiz para o Paraná, quando os reencontrei e depois que voltei quis fazer o curso. Fiz diárias para pagar a mensalidade de 1 ano e 4 meses”.
No começo, Isis a cabeleireira lembra que era difícil, já que não tinha nenhuma técnica e nem facilidade em trabalhar com cabelo. “Ficava nervosa, pois não tinha facilidade de pegar a escola, mas continuei treinando durante o curso”. Agora, com mais prática nas mãos ela consegue escovar, cortar e até fazer progressiva.
“O meu carro-chefe é a progressiva sem formol, mas o problema ainda são as clientes que não aparecerem. Consegui fidelizar poucas freguesas da progressiva, porém elas voltam a cada três meses”.
O salão funciona de segunda a segunda, a partir das 8h, Isis já está sentada perto da porta do local aguardando alguém aparecer. O horário de encerrar o expediente é às 19h, porém se for preciso ela deixa aberto até mais tarde para terminar o serviço em alguém.
O Lado B permaneceu no local por uma hora e nesse tempo não viu nem mosca entrar no espaço. A rua também não é muito movimentada, mas tem várias casas de famílias por perto. Desde o ano passado, ela tenta de tudo para atrair a clientela e já até colocou música ao vivo para quem fosse fazer progressiva.
“Chamei um amigo meu e ele trouxe o violão e começou a cantar, foi bacana. Fiz isso duas vezes e até pensei em fazer a terceira, colocar a música na calçada e reinaugurar o salão, mas tenho medo de não funcionar”, relata.
Outra tentativa de chamar atenção da freguesia são as promoções. “Tenho uma amiga que faz sobrancelha e a gente faz um casadinho da escova com sobrancelha. Já montei uma cesta de produtos para as pessoas deixarem o nome, fiz outra que se a cliente viesse o mês todo, ganharia uma escova no mês seguinte. Sempre estou criando algo para chamar atenção”, diz.
Ela tenta não encarecer muito o serviço, a progressiva sai a partir de R$ 100,00, corte mais escova fica R$ 35,00. Hidratação e escova é R$ 40,00. Contudo, como as tentativas de chamar atenção não dão certo, Isis não dispensa a oportunidade de pegar alguma diária. “É com isso que consigo comprar os produtos e pagar as contas”.
No mês, a cabeleireira tenta atender mais de três clientes no salão. “Só no mês passado veio isso, é complicado. O único mês movimentado foi dezembro, que veio 15 clientes, depois parou”.
Quando surgem clientes, a cabeleireira gosta de conversar e fazer amizade para se tornar amiga. “Não tem coisa melhor que levantar a autoestima da mulher, se tem batom já peço para passar e tirar fotos. É bonito de ver como elas ficam entusiasmada, aqui é nosso espaço”, conclui.
Endereço - Rua Querobina Garcia Nogueira, 601- Recanto dos Rouxinois. Mais informações pelo contato (67) 9 8126-7389.
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