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Comportamento

Feira aonde a gente ia de chinelo é uma das maiores saudades de Lenita

"Antiga feirona", com certeza, está no topo da lista dos campo-grandenses

Danielle Valentim | 30/01/2020 08:25
A capa do livro escrito pela historiadora Lenita Calado. Galera dos anos de 1990 ainda é capaz de guardar flashes e algumas características da feirona da Rua Abrão Júlio Rahe.
A capa do livro escrito pela historiadora Lenita Calado. Galera dos anos de 1990 ainda é capaz de guardar flashes e algumas características da feirona da Rua Abrão Júlio Rahe.

[...] Provavelmente, entre os anos de 1973 e 1974, num domingo de manhã, eu devia ter entre cinco e seis anos, meu pai me levou à Feira Livre. Segurando na minha mão, ele ia escolhendo alguns produtos que desejava levar para casa. Morávamos perto a distância não ultrapassava duas quadras e meia, íamos a pé, nessa época o carro só era utilizado para irmos a lugares que eram, realmente, distantes [..].

Essa é a primeira lembrança da doutora em História Lenita Maria Rodrigues Calado, que por amor, evidente necessidade de registro e, claro, saudade de todas as fases passadas junto à feira central escreveu, em 2013, sobre a relação da população com o emaranhado de barracas da Rua Abrão Júlio Rahe, na obra "Era uma feira aonde a gente ia de chinelo: Campo Grande e sua Feira Livre Central".

Hoje, 30 de janeiro, é comemorado o Dia da Saudade e a "feirona", com certeza, está no topo da lista dos campo-grandenses. Pouco antes do fim da graduação em História, Lenita já sabia o que levaria ao mestrado e no "tête-à-tête" foi às ruas ouvir as pessoas. Antes de escrever o livro, a pesquisa histórica e inédita levou três anos colocando-a como a única ou uma das historiadoras de Campo Grande a trabalhar, especificamente, a relação entre a história da cidade e seus moradores.

“Já na apresentação do livro eu quis dizer realmente o porquê de estar escrevendo sobre a feira. E historiador sempre tem essa ligação, normalmente, não escolhe um objeto sem ligação com ele, então, por isso, escolhi a feira como meu objeto. Eu concluí o mestrado entre 2008 a 2010, mas tinha começado a pesquisa um ano antes”, conta.

Lançamento de livro ocorreu em 2013, recorda autora Lenita. (Foto: Arquivo Pessoal)
Lançamento de livro ocorreu em 2013, recorda autora Lenita. (Foto: Arquivo Pessoal)

O livro lançado em 2013 segue um enredo crítico, é claro, baseado em relatos de moradores da cidade, levantando pontos, por exemplo, como a baixa consulta popular sobre a mudança da feira.

“Eu digo que, provavelmente, sou a única pesquisadora de Campo Grande, a realizar as pesquisas dessa forma, porque temos outros profissionais da academia que falam sobre a cidade, como geógrafos. Eu não falo da história da feira central, nem da história de Campo Grande, mas da relação da feira com Campo Grande, é um trabalho com base sociológica, com fontes documentais, porém com muitas entrevistas, já que documento oficias são poucos, eu tinha na época um projeto da Planurb que falava sobre a primeira tentativa de mudança da feira, que depois foi sendo alterado até a transformação total”, explica.

Enquanto nas décadas de 1970 e 1990, a Feira Livre Central estava nas ruas do entorno Central de Campo Grande, as mudanças se intensificaram com a chegada do Shopping da cidade.

"O imaginário de cidade "moderna" foi reafirmado e a Feira, diante de muitas microtáticas de poder foi transferida de lugar em 2004 [...] Muitas alterações ocorreram na cidade; conjuntamente, muitas transformações ocorreram na Feira Central, cujo nome deixou de ser "Livre", em sua formação de comércio popular [...]", escreve Lenita em trecho do livro.

A galera dos anos de 1990, hoje na casa dos 30 anos, ainda mantém viva na memória características da "feira raiz" da Rua Abrão Júlio Rahe, onde funcionou de 1964 a 2004. Mas quem conheceu, conheceu. Lenita pontua que as sensações da antiga feirona não são ou serão ocupadas pela atual feira.

Trecho onde feira passava, na Rua Abrão Julio Rahe. (Paulo Francis)
Trecho onde feira passava, na Rua Abrão Julio Rahe. (Paulo Francis)

“Os relatos dos moradores falam muito disso, uma das entrevistadas lembra do burburinho da feira, do cheiro. O título, por exemplo, é fala de uma das entrevistadas, que inclusive completa dizendo que a atual feira é elitizada. Então a pesquisa é sobre o que eu queria falar, mas basicamente com as informações das fontes. Não é sobre falar que a feira era melhor, mas é sobre o que eu ouvi e pude constatar”, explica.

O último dia da feira aconteceu e Lenita ainda estava na graduação. “Eu chorei. Porque realmente havia uma relação e muita gente chorou”, finaliza.

O livro também está disponível no site da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), em teses publicadas. No link acima está o arquivo em PDF para ser baixado.

E você? Qual a sua saudade? Mande fotos do lugar que você não esquece e conta pra gente o porquê o endereço faz tanta falta.

Você pode enviar pelo Facebook, Instagram ou pelo nosso Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563 (chame agora mesmo).

Clique aqui para acessar ao conteúdo do livro.

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