Há 4 meses, passarinho fez do varal um lar e virou parte da família mesmo livre
"Bem-te-vizinha" agora tem nome, comidinha no pote em cima da máquina de lavar e o afeto dos moradores. Há quatro meses, depois de ser encontrada caída na rua do condomínio de casas onde mora Nilza, no bairro Monte Castelo, em Campo Grande, a passarinha ganhou um lar e ao lado do cão e do gato da casa, se tornou o terceiro bichinho de estimação da família.
"A minha vizinha que encontrou o bem-te-vi caído, levou para a casa dela, mas eu pedi para ela me dar. Ele era muito bebê e ela não tinha tempo. Aí passei a cuidar dele", conta a cabeleireira Nilza Fernandes, de 57 anos. Até descobrir que era uma 'mocinha' - o sogro entendedor de pássaros que interveio e disse que ele, era 'ela - o bem-te-vi recebia água através do conta gotas. De comida, eram fiapinhos de carne crua, que continuam até hoje.
"Ele foi desenvolvendo e acostumou com a gente. Sai, voa, passa o dia inteiro e à noite vem dormir no varal de casa", descreve Nilza. "Bem-te-vizinha" faz de duas a três visitas diárias à família, para as refeições. A primeira delas, geralmente é 5h30 da manhã. O canto funciona como despertador de Nilza que sabe que a filhotinha chegou e é preciso aprontar a comida.
"Ela já chega e avisa que está lá. Dou a comidinha que ela gosta. Ela foi criada assim, junto com o cachorro e o gatinho, que também eram recém chegados em casa", conta. Ninguém fica preso na residência, muito menos o pássaro.
A convivência relatada é tão verdadeira que se nota nas fotografias que Nilza e o marido Wendel conseguem fazer dela sozinha ou com algum deles. Até com o cachorro e o gato ela para e 'conversa'. "Eles não brigam, ficaram juntinhos desde de sempre, estão acostumados a ver um ao outro", descreve a cabeleireira.
Dependendo da movimentação na casa, ela voa. Às vezes passa até dois dias sem aparecer, mas quando volta, todo mundo ouve a cantoria já familiar aos ouvidos. "Ela fica feliz quando eu falo: 'minha bebê veio dormir em casa, cadê a bebezinha? Como eu sei? Ela bate as asinhas e vai se sacudindo. Quando chega, fica cantando até alguém aparecer, bem-te-vi, bem-te-vi...", narra Nilza.
Pergunto se a casa tem plantas, flores ou verde que a atraia para ali. "Não, tem nada não, minha casa é bem simples, ela gosta é do varal e da máquina de lavar roupa. Eu lavo e fica aquela dificuldade, porque não posso tirar o pratinho e a água dela dali de cima", explica.
Em setembro, ela começou a voar sozinha e já está trocando as peninhas. Desde então, quando volta traz uma semente de fruta, uma delas já identificada: jabuticaba. Sobre ter pássaros em casa, Nilza diz que é uma delícia e que se lembra quando, muitos anos atrás, invejou um retrato.
"Uma vez vi a foto de um homem numa fazenda com o passarinho apoiado na rede. Fiquei pensando: puxa vida, como será que é ter uma passarinho, junto, solto, livre assim? Hoje a gente vê que ela se apegou a pessoa, ao ser humano, a gente".
Se um dia a "bem-te-vizinha" bater asas e não voltar, a tristeza vai reinar por uns dias. "Sim, sim, vou ficar triste, já me acostumei com ela e ela com a gente. Como eu sei? Ela demonstra felicidade quando vê a gente".
Essa é uma sugestão de pauta da leitora, jornalista e colaboradora aqui do canal, Evelise Couto Moraes.