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Comportamento

Há 44 anos, Marizete sonha abraçar irmão que saiu de casa e não voltou

Carlos Pereira Lima saiu de Ladário, em 1979, para trabalhar em São Paulo

Por Clara Farias | 02/11/2023 07:44
Carlos Pereira Lima, em 1977, quando se alistou no quartel de Ladário (Foto: Arquivo Pessoal)
Carlos Pereira Lima, em 1977, quando se alistou no quartel de Ladário (Foto: Arquivo Pessoal)

Com saudade do irmão que a carregava nos ombros no sertão de Pernambuco, Marizete anseia ver novamente Carlos Pereira Lima, também conhecido por Carmindo. Em 1979, o rapaz, deixou o sítio onde morava, após uma discussão com a mãe e foi em rumo à São Paulo, em busca de uma vida melhor. Nascido em 1957, Carlos está com 66 anos atualmente.

A dona de casa, Marizete de Jesus Lima, de 59 anos, relata que recebeu poucas atualizações do irmão com o passar dos anos. Algumas delas foi de que quando ele chegou em São Paulo começou a trabalhar com a produção de alianças. Depois trabalhou em uma loja de calçados, enquanto morava em uma pensão. Anos depois, morou no Rio Grande do Sul e, em 2010, estava em Porto Velho. Neste ano, ele mandou uma carta para a família dizendo que estava bem. No mesmo ano, a mãe faleceu e o rapaz não ficou sabendo. A família possuía uma mala com documentos que foi extraviada com o decorrer dos anos.

Morando no sertão de Petrolina (PE) durante a infância, Marizete conta que o irmão ajudava cuidando dos animais, moendo cana ou carpindo o sítio. Em 1976, a família veio para o Mato Grosso do Sul, se fixando em Ladário. No ano seguinte, Carmindo se alistou ao quartel e lá serviu por um ano. Após cumprir o ano como soldado, o irmão ficou desempregado. Devido a uma discussão familiar, o irmão partiu à Bauru, município do estado de São Paulo, visto até hoje como o lugar das oportunidades.

A história da família de dona Marizete se entrelaça e retrata à de muitos brasileiros. "Minha mãe teve dez filhos, sendo deles, um casal que morreu lá mesmo no sertão. Em Pernambuco não chovia e os animais estavam morrendo de sede, era uma época de seca brava", comentou ela. Ao procurar por um lugar melhor, a família foi com destino à São Paulo, onde moraram por dez anos até se mudarem para o Mato Grosso do Sul.

Carminho e sua mãe, Elvira Pereira de Jesus, em sítio (Foto: Arquivo Pessoal)
Carminho e sua mãe, Elvira Pereira de Jesus, em sítio (Foto: Arquivo Pessoal)

No Estado, fizeram morada em um barraco de taipa no Distrito de Albuquerque, a 70 quilômetros de Corumbá em um povoado de cearenses até se mudarem para Ladário, onde ela reside até hoje. Marizete conta que se tem algo que não se esquece é da mãe chorando com saudade de Pernambuco. "Ela falava 'não esqueço da minha terra querida, que me viu nascer. Um dia eu volto', apesar disso, ela nunca pode voltar pois morreu atropelada em 2010", lamentou a dona de casa.

Sobre os outros irmãos, dona Marizete conta que três moram em Ladário, assim como ela, outras duas irmãs estão em São Paulo e no Rio de Janeiro e dois faleceram. Após a mudança do irmão, nunca mais o viu. "Eu lembro dele me levando nas costas quando parei de andar devido à uma enfermidade, tenho gratidão à Deus e ao meu irmão. Todo mundo diz para eu largar para lá, que ele não está mais nessa terra. Mas eu não desisti ainda. Só quero dar um abraço no meu irmão e contar que nossa mãe já morreu", finalizou dona Marizete.

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