Há 65 anos, Altino tem a certeza de que Alice é sua alma gêmea

Amor que ultrapassa dificuldades e se fortalece a cada ano, é assim o “felizes para sempre” de Altino e Alice Araújo. Eles se conheceram na juventude e foi paixão à primeira vista. O jeito simples dele “encontrou” com o olhar sincero e inocente dela, e o coração bateu mais forte. Não demorou muito e ele a pediu em casamento, com a certeza de ter encontrado sua alma gêmea.

Se passaram 65 anos desde o primeiro "sim" no altar. Hoje ele tem 88 anos, enquanto ela 83 e comentam sobre a relação. “Me apaixonei quando a vi, é minha alma gêmea. A mãe dela que me a apresentou e namoramos por seis meses até casar. O segredo é ter paciência e nosso plano sempre foi viver bem até hoje. Vamos continuar juntos, até que a morte nos separe”, afirma Altino.

“Foi meu segundo namorado, mas amor à primeira vista. Não existe uma receita para um casamento duradouro. O amor suporta tudo então é amar e ter paciência um com o outro e contar até 10 quando estiver estressado. Quando estamos em casa, costumamos assistir televisão e conversar, lembrar do passado, pois somos lúcidos”, destaca Alice.

A história do casal começou há mais de seis décadas. Na época, ele tinha 23 anos enquanto ela 18. Se conheceram na roça e resolveram embarcar numa história de amor até que a morte os separem.

Naquele tempo, dona Alice era a moça mais linda que os olhos de Altino já tinham visto. A pele macia e a expressão fofa que fazia ao sorrir e mostrar os dentes o encantava de uma forma, que deixava hipnotizado com tanta "formosura", como ele mesmo descreve.

Logo os dois viraram três com o nascimento do primeiro filho, depois quatro e assim foi até 12° herdeiro chegar. A vida da família foi simples, numa fazenda perto de Campo Grande. Altino trabalhou na roça carpindo e plantando, enquanto Alice cuidava dos afazeres domésticos.

Dinheiro não sobrava, mas carinho para dar nunca faltou. Um a um, eles ensinaram a andar, falar e o princípio básico da vida no campo, ser honesto.

Eles ainda provam que o matrimônio também é na saúde e na doença. Por conta da idade, ele precisa de andador para se mover, enquanto ela perdeu um lado da visão devido ao glaucoma. Há um tempo, a esposa passou mal e foi internada no hospital, porém o marido ficou tão preocupado que deixou de comer. Dias depois Alice retornou sã e salva para a alegria do esposo. O medo de perdê-la é tanto que agora ele faz questão de reforçar o carinho dizendo o “Eu te amo”.

Pérola Negra - Há cinco anos, quando completaram 60 anos de casados, eles ganharam uma aliança de ouro da família e renovaram os votos no altar. No dia 15 deste mês o casal celebrou os 65 anos de união com a bodas de “Pérola Negra”, em uma festa organizada pelos filhos e netos.

O evento foi simples, mas eles reforçaram os votos novamente. A festa reuniu mais de 50 pessoas da mesma família. Altino e Alice ganharam um banner com uma ilustração de dois vovós abraçados, como sempre estão. Além dos filhos, eles têm 26 netos, 25 bisnetos e 3 tataranetos. 

Quem recorda dos momentos é a filha, Lucimar de Araújo, 56 anos. “Era uma relação de amor e companheirismo. Meu pai é analfabeto, mas sempre nos guiou pelos caminhos certos, esse é seu legado. Minha mãe batalhadora, criou a gente e nunca tivemos desentendimentos ou brigas na família”, conta.

Ela é cozinheira e lembra dos momentos de felicidade que viveu no passado com os pais. “Recordo do meu pai voltando para casa depois de um dia intenso de trabalho e sentando na porta da cozinha. Tirava a camisa e as costas dele estava cheia de bolhas por conta do sol quente. Mas, mesmo assim ele subia nos pés de laranja para pegar várias frutas e deixar a gente chupar o quanto quisesse”.

Da mãe, ficou o gosto na boca do mingau que fazia para alimentá-los. “Ela cozinhava, lembro também do bolinho do seu bolinho de chuva. Dizia para nós respeitarmos o pai. Sempre foi o seu suporte, ele teve câncer de próstata e ela não o deixou desanimar e ajudou na recuperação. Até hoje ele a chama de ‘meu amor’”, diz a filha.

A idade não os impede de sonhar e planejar o futuro juntos. “Apesar da saúde estar bem debilitada, eles continuam fazendo planos de reformar a casa, melhorar as coisas”, revela Lucimar. "Quero viajar para Três Lagoas, seria a nossa lua de mel", completa Alice dando risada. 

A neta Adeli Patrícia de Araújo de Lima Ribeiro morou por um tempo no mesmo terreno que os avós. E hoje tem a rotina de visitá-los uma vez por semana. “Vou para tomar o café da manhã com eles. É nosso patriarca e a matriarca, pois através deles existe a união da família”, afirma.

Ela é professora e está casada há 22 anos e através dos avós entendeu o que é um casamento. “O amor é fazer o outro feliz, se doar para a felicidade. Vejo o cuidado do meu avô com minha avó até na hora de servir um alimento. Sempre quer agradá-la, saber se está bem e é uma cumplicidade impressionante”.

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